Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Dois Poemas para Duas Imagens

Caravaggio, O Sacrifício de Isaac, óleo s/ tela - 1603



















Abraão, nos nervos da tua mão
Tão humanamente tensionados,
Todo um pasmo
Diante do absurdo do sagrado.
Agora sabes da estupidez
De todo sacrifício?
A tua verdade testada é insana,
Um anjo te toca e te chama
À realidade veraz;
Acorda para o pesadelo,
Isaac não vale mais
Do que esse pobre cordeiro.
Tu foste o primeiro a percebê-lo:
Humanos, não somos divinos,
Mas meros animais.


Rembrandt, A Lição de Anatomia do Dr. Tulp, óleo s/ tela - 1620



















Dr. Tulp, o artista não te fez um logro?
Pôs o teu olhar suspenso num limbo
Entre a ciência e o ogro da morte,
Nenhum anatomista pode se perguntar
Sobe os desígnios da sorte.

O que pinças, tendão ou nervo,
Começa no morto,
Mas termina em ti mesmo.


8 comentários:

  1. A Bíblia e seus livros. Os livros e seus escritores. O fato perdido na escrita. Começa na morte e termina em nós mesmos.

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  2. Caravaggio e Rembrandt: pincéis poéticos


    abraço

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  3. Maravilhosos, Marquinho!

    O que pinças, tendão ou nervo,
    Começa no morto,
    Mas termina em ti mesmo

    Beijos,

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  4. perfeito
    estaremos todos mortos? todos vivos?
    seremos imortais numa falsa foto?

    abraço

    Laura Alberto

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  5. Suspeitas que nasceram uns para outras?

    Tá que tá danado!

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  6. Demais! Ambos os poemas são extraordinários!
    Parabéns!

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  7. Quero Pessoa na minha poesia
    Quero Bach na minha melodia
    Marcantonio na minha anatomia

    Abraço mineiro,
    Pedro Ramúcio.

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  8. fenomenais marquim.

    há um tempo atrás tinha feito uma colagem em cima dessa tela do caravaggio. o anjo era um cliente e abraão um açougueiro. parece mesmo que ele está para fatiar um bifes da carne de isaac... rs

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