Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Quatro Poemas Recentes



TÊRMO

A palavra sol
Que se põe na página
Não mais a ilumina
Nem seca a palavra
Lágrima.

Para o horizonte
Da última linha
A dor não declina.


COTIDIANO

Troco uma lâmpada
E penso na origem
Do universo.

Ponho o lixo para fora
E me pergunto
Sobre as auroras boreais.

Enquanto amarro
Os cadarços dos sapatos,
Lembro-me dos bisões
Da gruta de Lascaux.

É assim:
Sempre estou aqui
E jamais estou.


TRANSEUNTE

O carro de Apolo
Parou no sinal
Vermelho.

Rápido, atravesso
A principal celeste
E pego uma transversal
Noturna.


O MALMEQUER

O meu humor
Tortura a flor
Da manhã clara:

Arranca-lhe
Sem alternativa
As pétalas pétreas
De opala.


7 comentários:

  1. QUATRO MARAVILHAS POETA,COMO APRENDO LENDO TEUS ESCRITOS,OBRIGADO.. GAGAU

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  2. este Cotidiano ensandece a ordem natural das coisas, quem se habilita ao normal,



    abraço

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  3. belíssimo, adorei a sincronia dos poemas com qualidades essenciais das vivências.

    Grande beijo!

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  4. Muito bons, poeta! Grande abraço!

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  5. às vezes as palavras não chegam para iluminar, mas no teu caso guiam

    beijo

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  6. Cotidiano. Encarno o poema e agradeço essa sensibilidade que traduziu tão bem o meu próprio cotidiano também.

    Beijos, Marquinho.

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  7. O eterno no ser humano sempre está cotidianamente. É dele também a mão que desenhou nas cavernas ou fabrica o poema.
    Eliane F.C.Lima ("Poema Vivo" e "Literatura em vida 2")

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