Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

DOIS POEMAS



MANTER O FOGO

Há momentos
De sol de meio dia dentro do meu crânio fixo
A meio caminho entre o leste e o oeste.
É quando as lupas dos meus cristalinos
Direcionam um raio calorífico intensíssimo
Sobre alguma coisa ínfima e insignificante,
Até que uma fagulha inflame essa ninharia
Tornando-a, de súbito, lenha fundamental,
Imprescindível para reavivar a universal fogueira.


REMANESCÊNCIA

Desconfio que as flores 
Os pássarosse os peixes
Riem da minha pretensão
De lhes furtar os nomes.

E as grandes máquinas anônimas
E os instrumentos indiferentes
E frios sem etiquetas
Também riem com sarcasmo
Quando lhes aplico nomes
De flores, de pássaros, de peixes.

E daí que gracejem?

Desgarrados e desocupados,
Por último riem os nomes
De coisas agora extintas.


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Quatro Poemas Recentes



TÊRMO

A palavra sol
Que se põe na página
Não mais a ilumina
Nem seca a palavra
Lágrima.

Para o horizonte
Da última linha
A dor não declina.


COTIDIANO

Troco uma lâmpada
E penso na origem
Do universo.

Ponho o lixo para fora
E me pergunto
Sobre as auroras boreais.

Enquanto amarro
Os cadarços dos sapatos,
Lembro-me dos bisões
Da gruta de Lascaux.

É assim:
Sempre estou aqui
E jamais estou.


TRANSEUNTE

O carro de Apolo
Parou no sinal
Vermelho.

Rápido, atravesso
A principal celeste
E pego uma transversal
Noturna.


O MALMEQUER

O meu humor
Tortura a flor
Da manhã clara:

Arranca-lhe
Sem alternativa
As pétalas pétreas
De opala.


BELO MOMENTO


Foram raríssimas as ocasiões em que pude ouvir algum poema meu declamado. E fui surpreendido pelo vídeo abaixo postado no blog Poetas Vivos por Cris de Souza no qual ela recita um poeminha meu, "Entre as orelhas". E o poeminha creceu muito por obra e arte da Cris! Achei o resultado de muito bom gosto. Pareceu-me ótimo, realmente. Agradecido, Cris, por essa partilha e pela sua gentileza com a minha poesia.


Você pode acompanhar o trabalho poético de Cris de Souza nos blogs Trem da Lira e Válvula de Escape