INEXATO
Não há em mim quatro pontos
conclusivos
Sobre os quais montar uma abóbada,
Nem duas margens nítidas para unir
com pavimento
Pelo qual atravesse qualquer rebanho
abstrato
A ser entregue a tempo.
Nem mesmo há qualquer círculo
fechado:
Desvia-se de sua origem a linha,
Pois a ponta do compasso
Corre sobre o espelho baço.
Não há também barro curado
Em vasilhame para o destino,
Ou qualquer olhar de pássaro
Que me veja um monumento estático
No centro da praça urbana
Onde tudo passa rápido.
Em mim apenas vige
O projeto de desmonte
Que se conclua na sepultura:
Só ali haverá um marco perfeito,
E lacônico, entre duas datas.
Por tudo isso que me falta
Devo inventar-me certeza invisível
De modo a ser distinto
Do cão que fuça a lata
Ou do gato que no salto mal
calculado
Quebra a pata.
ANCORADO
Na praia,
Os olhos entregues
Ao incessante, e por isso imóvel,
Vai-vem.
E os pés lassos:
- Não voltar nem ir além!
Criar raízes de algas
E me cimentar na salsugem.
E ver a maresia,
Que aos meus pulmões alicia,
No próprio sol do é-tarde
Gerar ferrugem.
Essa inexatidão talvez seja um tempero imprescindível nos teus poemas. É isso, há algo de mim que você traduz, eu me descubro, eu nem sabia, eu não saberia: uma revelação!
ResponderExcluirBeijos,
nao conhecia este teu blog...
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