Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

quinta-feira, 18 de março de 2010

Da Brevidade, do Amor e da Iminente Loucura

1

A brevidade é privilégio
dos iluminados.
Eu,
que vivo na escuridão
do meu próprio firmamento,
preciso ser
prolixo
e lento.

2

Caminhamos de mãos dadas.
A manhã tem a luz corpuscular
das telas de Vermeer.
Rimos como se fôssemos ridículos
e dizemos tolices consentidas.
Extático, eu a olho
como quem vê o mar
da primeira vez.
Deus existe neste momento,
tão efêmero e pródigo
como um filme publicitário.

3

Do nada e tão súbito
o caos ao meu redor.
As perguntas abrem suas grandes asas
de pássaro assustado.
Neste ambiente estreito
a poeira levantada é insuportável.
Ruídos aflitivos de canais não sintonizados
ou de dentes sendo lixados.
Por que o norte tem suas prerrogativas?
Por que desnorteio?
Dou as costas para o centro da sala,
olho nos olhos de minha sombra na parede
e sussurro uma oração:
Oh, não se vá agora coerência minha,
não me abandone suposto sentido do mundo,
não estou pronto ainda para enlouquecer!

















Monotipia de Marcantonio - 2001

Nenhum comentário:

Postar um comentário