Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Dois Poemas

A SOLIDÃO

A solidão ocorre
quando a consciência 
se corporifica 
e se arraiga
no espaço,
erguendo-se
em totem
ou torre
sem pavimentos
medianos:
coluna sem vértebras,
de fuste liso
e capitel ausente.


Ocorre a solidão
quando o ar
se adensa em lama
que adere ao corpo
e asfixia o gesto.


Quando a voz 
lacrimeja
saliva grossa,
quando os olhos
se oxidam ao sol,
quando os ouvidos
enrolam
o novelo dos ecos,
a solidão ocorre.


Quando retornam
as palavras, 
como se fossem
insetos atraídos
pela escuridão,
criando órbitas
em torno
de um núcleo frio,
a solidão ocorre.


VISÍVEL


Enfim, chega um dia
em que a alma
se enclausura na face:
forma-se um casulo
rígido
do qual
nenhuma borboleta
nasce.

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