Lamento
O osso do dia
Que um cão furtivo
Deve ter levado
Entre os dentes
Enquanto eu estava
Domingo.
JARDIM ETIMOLÓGICO
No jardim zoológico
O hipopótamo não tem
Propriamente um rio
Para si.
Mas não o tem também
A própria palavra "rio".
NOTA
Sou rebelde sem efeito:
Não encontro uma causa
Que não tenha defeito.
AERO-SIMBOLISTA
De névoas acirrado
(O cúmulo de sensações vaporosas)
Flutuo em nimbo poético
A quilômetros do solo da prosa.
AUSPICIOSO
No céu que azul transborda,
Solitária nuvem clara
Em forma de escorpião:
Que boa nova! Um signo do medo
Com textura de algodão!
CABO BRANCO, PB.
De saudade me bronzeio
Com o primeiro sol nordestino
Que não me alcança aqui,
Mas em mim brilha, sob a pele,
De permeio.
DESPERDÍCIO
Talvez perca,
Falando,
O tempo encantado
De ficar sem palavras.
DESPERDÍCIO 2
No tempo em que a palavra
Ilusória surja,
E com esforço se implante,
Talvez alguma oportunidade
De vivo desplante nos fuja.
PUERIL
Não sei em que galho
Ainda está pendurado
O adulto maduro
No qual eu deveria
Ter me consumado.
NEON
Estranho
Que ao fechar os olhos,
Eu veja contra as pálpebras
Uma palavra luzindo íntima:
- Estrela!
Como pude fazê-la tão ínfima?
UM PELO OUTRO
Quando penso no alfabeto,
De A à Z enfileirado,
Talvez cometa um engano:
Me ocorre ver um teclado
De piano.
TEMPO GANHO
Lírico
Limbo,
O relógio
Digital
Parado
Torna
Analógico
O azul celeste.
Marcantonio, Canto do Atelier, Óleo sobre tela, 1995 (clique p/ ampliar). |
Pra ler e ficar relendo, Marco. "Nota" em particular, um hai kai rebelado.
ResponderExcluirOs poemas são ótimos, me deliciei com alguns. E a tela, nossa! Esplêndida, maravilhosa! Parabéns!
ResponderExcluirDemais, meu nobre! Ando tão domingo também...
ResponderExcluirConcordo com o Dario, são hai-kais rebelados na forma, mas perfeitos em conteúdo.
ResponderExcluirEm especial no poemeto chamado AERO-SIMBOLISTA.
Poesia, pura poesia!
Grato, Poeta!
gostei demais do Neon e da tela maravilhosa, dos materiais, revistas, coisas da intimidade e de todos os poemas. Beijos
ResponderExcluirClap, clap, clap!!!
ResponderExcluirQue toada... que tela... que tudo!!!
Do título ao "tempo Ganho", que pode ser lido do início, fim e meio sem mudar o conteúdo e o ritmo, a luz neon focou cada um deles de uma forma única.
ResponderExcluirAPLAUSOS!
Mirze
A tela..... sem comentários.!
ResponderExcluirMirze
Já me declarei fã de teus textos curtos... admiro o engenho.
ResponderExcluirBeijinho, poeta artista!
Perolazinhas, tantas...Que bom que estão aqui, em solo mais firme, que o Diário é chão firme, como o Azul. E a tela? Um escândalo!
ResponderExcluirBeijos,
Olá,
ResponderExcluirGostei muito do "desperdício" neste post... Muito de acordo o que diz dele...
Abraços fraternos de paz e alegria
Eu também perco muito o tempo encantado de ficar sem palavras.
ResponderExcluirabç!
↓
ResponderExcluirNOTA
Sou rebelde sem efeito:
Não encontro uma causa
Que não tenha defeito.
Ah! Notei...
Anotei.
Legal!
Abraço-tchê!
:o)
"Não sei em que galho
ResponderExcluirAinda está pendurado
O adulto maduro
No qual eu deveria
Ter me consumado."
Me achei nesse galho.
E o teu NEON acendeu em mim...
Bj.
todos são maravilhosos, mas "pueril" e os "desperdícios" me tocaram especialmente. o desplante me leva ao tempo do encantamento e vice-versa.
ResponderExcluirabraço marcantonio!