Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

sábado, 10 de novembro de 2012

DIÁRIO SOBRE A METARMOFOSE DAS NUVENS (1)



DIÁRIO SOBRE A METARMOFOSE DAS NUVENS (1)


a)

Estáticos no céu
Pequenos dragões
Como a recordar o tempo
Em que eram apenas terrenos vulcões.

b)

Então, uma cortina cinza de nuvens
Cai sobre o horizonte,
Abrindo um corredor azul-mortiço
Para os pterodátilos.

c)

Um sapo estatelado no ar
Perde uma perna.
Depois outra.
Nunca mais irá saltar.

d)

Suponho que é um bobo
Com um gorro de pontas,
Mas não ouço guizos.
Nem risos.

e)

É Ajax Telamônio que se atira
Sobre a própria espada,
Mas esta se esgarça
Antes de lhe trespassar o peito.
Em segundos, o próprio guerreiro,
Sem perder uma gota de sangue,
Também é desfeito.

f)

Somem as cabeças da hidra,
Uma por vez.
O vento poupou uma tarefa
A Hércules.

g)

Um cacto
Sobre si mesmo se dobra
E gira:
Agora é branca rosa 
Sem espinhos.
Mas ainda retém água.