Parece haver algo
De um estranho sorriso
No bigode de Nietzsche.
O bigode de Nietzsche
Parece um arco ogival
Sobre o abismo.
O bigode de Nietzsche
Parece um desejo
Involuntário de calar.
O bigode de Nietzsche
Parece
Sombrear um segredo
De antes do meio-dia.
O bigode de Nietzsche
Parece uma esponja
Umedecida em vinagre.
O bigode de Nietzsche
Parece martelar
Seu queixo.
O bigode de Nietzsche
Parece um viajante
Solitário
Que chega à cidade
Antes que Nietzsche.
O bigode de Nietzsche
Parece transcendê-lo,
Metafísico.
O bigode de Nietzsche
Parece augurar
Sua loucura
Às caricaturas.
O bigode de Nietzsche
Parece ao senso comum
A orelha-de-van-gogh
De Nietzsche.
O bigode de Nietzsche
Parece dizer a Nietzsche:
In hoc signo vinces.
O bigode de Nietzsche
Parece uma túnica
De corifeu.
Ou uma máscara
Humana
De Dioniso.
FALTAM OS NEXOS
Na atmosfera do museu,
Meus artefatos convivem,
Como inimigos civilizados.
Sou um arqueólogo triste
Das primeiras camadas
De um dia que entardece,
Lá, naquele terreno extinto
Das horas enterradas vivas;
Lá, onde todos os utensílios
Tinham nexos espontâneos,
Os mesmos nós que emendam
As águas soltas num rio,
Ou o potente adesivo
Que adere a flor ao ar.
O SINAL
O sol às vezes me acorda
Tocando-me a face
Com um beijo de Judas.
Friedrich Nietzsche, jovem. |
Só você para fazer o bigode do Nietzsche ter tanta beleza. Grande abraço!
ResponderExcluirimagens e palavras
ResponderExcluirsiamesas
...
estupendo,
estupendo
...
forte abraço,
grande poeta
meu amigo.
o bigode de Nietzsche era portentoso, assim como esses versos que tu engendras. nexus, plexus ou algo assim. o beijo de judas ainda assombra,
ResponderExcluirabração
adorei o bigode de nietzsche!
ResponderExcluirsuper parabéns pelo poema.
abraços.
sensacional isto:
ResponderExcluirO bigode de Nietzsche
Parece augurar
Sua loucura
Às caricaturas.
O bigode de Nietzsche
Parece ao senso comum
A orelha-de-van-gogh
De Nietzsche.
e na foto, sem bigode, bochechudamente predestinado :)
Nietzsche sem o bigode parece um Orfeu que canta a Monalisa.
ResponderExcluiro bigode de nietzche parece o húmus
ResponderExcluira modelar o seu deus:
o homem.
o bigode de nietzche aponta à cidade
a incendiar o seu demónio:
o deus.
o bigode de nietzche elege a vida
sem o seu sémen:
a oração.
o bigode de nietzche é a oração
que exorciza toda a prece.
por que raio haveria ele de o cortar?...
abraço!
Sempre nos surpreendendo, não é?, Marcantonio.
ResponderExcluirMuito bom "O bigode de Nietzsche", e ao que parece, aquele bigode adquiriu tamanha dimensão
e tanto volume, que permanece até hoje como sua rubrica.
Desenhei-o quando ainda não mexia com as tintas. Deu-me um trabalho danado, mas ainda o guardo como lembrança, um "artefato"!
beijo
P.S. Estou postando esse comentário, mas não sei se ele será publicado, pq segunda-feira passada fiz a mesma coisa e ele não veio a público. O que será que aconteeu?
Marcantonio!
ResponderExcluirNunca vi tantos significados em um bigode. Eu diria que o bigode de Nietzsxhe é sua veste e a sombra de sua alma. Fantástico!
: inimigos civilizados,,,,é, faltam nexos.
Esse beijo de Judas, vindo do sol, foi marcante!
Como todos os poemas.
Beijos, poeta!
Mirze
Já imaginou Nietzsche sem bigode?
ResponderExcluir(Aquele jovem Friedrich ninguém diria que era Nietzsche. Que nudez!)
pelas barbas de netuno!
ResponderExcluirbabei, com esse bigode nem a mulher pode...
loucura de versos, um poema doido varrido.
sua mente é fantástica, não faltam os nexos na minha admiração, sinal que tens uma leitora fiel, embora por vezes atrapalhada...
beijo de jujuba, meu mago!
Adorei as analogias do primeiro poema.
ResponderExcluirO segundo tem um lirismo irresistível.
E para mim, acordar para o dia é sempre uma traição do destino. (Mas desconsidere meu desabafo, seu poema é muito, muito mais!)
Arrasou, como sempre, poeta!
Concordo com o primeiro comentário, nunca vi um texto tão belo sobre o bigode de Nietzsche. Esconderia também um jogo de aparência do filósofo em relação à vida...
ResponderExcluirMarcantonio
ResponderExcluirSe você me oferecesse só "O bigode de Nietzsche", com todas as revelações [ eu mal e mal suspeitava, mas não tinha coragem de escavar ], eu já diria aleluia, aleluia!
No entretanto, você vai além e me dá "Faltam os nexos e "O sinal"...
Então, sem palavras, fico aqui, feliz , feliz porque você existe e escreve.
Grata, amigo, grande poeta!
Abraço.
Sempre assim, Marcantonio. Quando chego aqui já disseram tudo que eu poderia dizer. Na verdade, dá pra dizer um pouco mais, mas eu teria que pensar, e ando me esquecendo de como se faz isso.
ResponderExcluirDeixo então uma ameaça terrível no ar: pare de postar esses tercetos dentuços que lançam perdigotos de fogo e riso, senão o senhor vai ver o que vou aprontar...
Marco, só você para dessacralizar o bigode de Nietzsche.
ResponderExcluirUm charme de poema como o bigode do filósofo.
Abraço grande.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMarcantonio
ResponderExcluirQuando nossos utensílios tornam-se objetos sem função (a não ser de memória das "horas enterradas vivas"), tornamos arqueólogos tristes.
Adorei “O bigode de Nietzsche” e os demais poemas.
Aliás, essa foto de Nietzsche sem bigode carece da força caricata do "personagem". É como Freud sem barba ou Einstein penteado.
:D
Bjs
Rossana
Prezado amigo Marcantonio.
ResponderExcluirA despeito de Nietzsche ser um grande filósofo, ter nos instruído acerca do ressentimento humano quando somos fracos diante do forte, seu bigode talvez tenha prejudicado sua visão quanto à realidade do real. Jogou seu talento na defesa do indivíduo suprimindo o papel histórico do ser social que, por sua vez, garante a defesa do indivíduo. Difícil contradição só compreendida pela força do raciocínio dialético,perdão pela redundância. Muito bom o poema. Um forte abraço.
Nietzsche teria pensado tudo que pensou sem aquele bigode espantoso? O poema é ótimo, a foto também. Faltam nexos é o fino em matéria de lirismo, e o terceiro diz uma verdade milenar.
ResponderExcluirBeijo, Marco.