domingo, 10 de outubro de 2010
Quatro Novos Poemas
VERSO ELÁSTICO
Dedicado a Nydia Bonetti
e a partir da leitura de seu poema Poliverso
Tentar abarcar o desmedido
como se fora ínfimo;
tocar o pequeno
como se transbordasse.
A forma inconclusa
das cordilheiras verdes,
a estranha flor azulada
sobre a pedra inóspita.
Para o besouro
(grifo guerreiro)
mil palavras.
Para a vida e a morte
dois monossílabos;
para a estrada inteira,
um discurso impossível
com vírgulas erradicadas.
Para cada urgência de água,
navegar
com diferentes calados:
a canoa instável
na arável superfície;
o rude encouraçado
assustador;
o submarino silente
sob a voragem.
Para toda a arte,
um aceno pasmo,
em pé na beira,
do todo à margem.
EMBALAGEM
A metáfora
é para ser abandonada
- papel de embrulho –
quando a vida nua
chega à porta.
Não agora.
EMBARCAÇÕES
No branco úmido
dos olhos,
o grande oceano
onde tudo voga
na véspera contínua
do último naufrágio.
TRAVELLING *
Na estrada
que seguia para o interior
os meus olhos recolhiam
o poema já feito.
* Postado também no Azul Temporário
Camille Pissarro, óleo s/ tela, 1871
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Serei Poeta?
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[há no verso elástico, a sensação da vertigem, a urgência mais derradeira, aquela que começa na raiz, palavra que vai ou não vai acontecer poema, e por fim se torna da seiva, caule e tronco astuto de palavra desmedida: e quem? muito, muito especial...]
ResponderExcluirum duplo imenso abraço,
Nydia & Marcantonio
Leonardo B.
A embalagem é uma verdade sem relativismo. Quanto ao Verso elástico, é o típico poema-homenagem que se tem vontade de conhecer o homenageado. E é o que farei. Abraços, Marcantonio. Evoé!
ResponderExcluirque nunca te falte pão
ResponderExcluirnem papel de embrulho
...
poemas estupendos,
estupendos
...
Forte abraço,
amigo.
Leonardo, muito obrigado. O seu comentário, sempre poético, cala fundo aqui.
ResponderExcluirGrande abraço, poeta!
Fred, obrigado, rapaz. Sim, vá correndo porque a Nydia é uma poeta muito, muito especial! Ela sabe o que faz.
ResponderExcluirGrande abraço!
Ô Domingos, acabei de vir lá do seu blog, de um surpreendente contato com aquelas aéreas bezerrinhas. Nos seus pastos não se padece de tédio, tão fecundos e renovados eles são!
ResponderExcluirObrigado. Tomara eu não termine me embrulhando nas palavras.
Um abração!
Marcantonio, a tua poesia abarca o desmedido e transborda... Sempre. A fluidez dos teus versos e a lucidez das tuas leituras, como esta que fez do Poliverso, e de certa forma da minha poesia como um todo, realmente impressionam. Como admiro estes teus olhos lúcidos... Você sim, sabe o que faz - Tua poesia é brilhante. E ter um poema como este dedicado a mim é uma honra, me deixa feliz, além de amenizar a estranheza desta noite com cheiro de jasmim. :) Obrigada, um beijo grande!
ResponderExcluirÔ Nydia, não fiz senão expressar a admiração que sinto pelo seu trabalho. A poesia também se alimenta de leituras, se nutre num espelho de afinidades e sutis diferenças. Digo que você sabe o que faz, porque de par com a beleza de seus poemas há uma inquieta reflexão sobre o próprio fazer poético, o que o Poliverso bem expressa. Não aquela reflexão fria, teórica, enviesada, mas essa que você expressa e informa, entre dúvidas e procuras, no próprio ato de poetar, o que é muito bonito em termos de comunhão com o leitor. Afora isso, você ainda é consciente e generosa na disposição de alargar os círculos poéticos, divulgando leituras e eventos sempre pertinentes, para além de qualquer traço personalista.
ResponderExcluirObrigado a você pelas palavras dirigidas ao que intento fazer.
Um beijo com toda admiração!
Parabéns a Nydia, homenagem superhipermerecida e feita com a conpetência de um Marcantonio. Tudo muito bom, perfeito, como diria a Zélia. No mais, embalagem, para o qual vai um meu olhar especial agora (amei!):
ResponderExcluirEMBALAGEM
A metáfora
é para ser abandonada
- papel de embrulho –
quando a vida nua
chega à porta.
Não agora.
O poema para a querida Nydia é belíssimo, de encher nossos olhos. Vc enaltece a blogosfera, Marcantonio, dá vida à tela, e mais ainda, reaviva quem te lê.
ResponderExcluirOs outros poemas continuaram na sua cadência perfeita e bem distribuída. Tbm to adorando o novo blog.
Obrigada por esses momentos de leitura que preenchem nossas almas.
Beijo terno.
O verso elástico expande-se
ResponderExcluir"para a estrada inteira,
um discurso impossível"
a metetáfora nua, o travelling que percorre toda a página, coisas em deslo(U)camento,
abração
Marcantonio, meu grande amigo, meu grande poeta
ResponderExcluirAh, esses seus VERSOS ELÁSTICOS, para Nydia Bonetti (ninguém mais merecedora), EMBALAGEM, EMBARCAÇÕES, TRAVELLING... Um pacote( tudo hoje se define assim...) feito da inspiração mais aguda, da sensibilidade mais absoluta, do talento mais explícito!
Um lindo presente, para que eu possa ficar aqui a ler, a reler, a ler novamente, neste feriado tão propício para tal...
Abraço apertado.
Tânia, obrigado. É um prazer vê-la comentando novamente aqui. Para variar, você selecionou um dos poemas de que mais gosto. Eu preciso sempre me lembrar de relativizar a poesia diante da vida, esta vem antes de tudo.
ResponderExcluirAbraço, Tânia!
Pôxa, Lara, obrigado pelas suas palavras! Se tenho realmente essa capacidade de atingir sensibilidades como a sua e de tantos que acompanho com atenção e admiração, de reavivar algo, como você diz, me sinto , então, muito gratificado, um tanto além de qualquer vaidade pois, no fundo e sinceramente, o que prezo mesmo são essas trocas, possibilidades de mútua nutrição, exercícios de sensibilização de um "ambiente comum". Isso é que é bonito, não é? Afinal de contas, o que somos nós sem aqueles que no lêem, sem o olhar humano por trás dessas configurações eletrônicas?
ResponderExcluirSim, um beijo repleto de ternura.
Ô Assis, obrigado. A ocorrência da poesia parece, às vezes, fruto de um travelling interno, não é? Uma câmera que passeia entre o coração e a cabeça.
ResponderExcluirAbração!
Zélia, é a sua sensibilidade que fala aqui; e é um privilégio ouvi-la. Sempre!
ResponderExcluirUm grande abraço!
Tua poesia brilha Marco e quer sair do papel para viver!
ResponderExcluirbeijos
TRAVELLING *
ResponderExcluirNa estrada
que seguia para o interior
os meus olhos recolhiam
o poema já feito.
cara que poema fuderoso
Marcantonio...fico aqui sem palavras, aproveito então para te mandar um aceno pasmo! É tamanha a tua sensibilidade, o teu talento, as cores que emprestas aos versos...elásticos e arrebatadores.
ResponderExcluirBjos, repletos de admiração...P.S. Nydia merece!!!
Como eu já disse um dia, e repito sempre porque continua sendo a pura verdade, você é um senhor poeta. E a Nydia merece, e como, essa homenagem perfeita.
ResponderExcluirAbraço aos dois.
Marcantonio!
ResponderExcluirSua sensibilidade fez com que os poemas brilhassem e se tornassem gigantes.
Fantástico!
Beijos
Mirze
receio bem, caro marcantónio, que a perda da metáfora corresponda ao derradeiro suspiro dos homens. é na capacidade de ver os diferentes tons que a realidade a preto e branco nos impõe que reside a renovação e a permanente transformação. assim como uma espécie de embarcação, mesmo que sem leme e bússola vogando nos oceanos dos olhos, antes do derradeiro naufrágio.
ResponderExcluirum abraço para ti e outro para a nydia!
Marco, não há como não admirá-lo. Da homenagem ao "Travelling", uma viagem para dentro com imagens de tirar o fôlego.
ResponderExcluirBjs, poeta. E inté!
é engraçado, marco...
ResponderExcluireu havia comentado a respeito de sua atual postagem no dia exato em que comentei teu poema na nydia... não vejo o comentário agora. outro dia aconteceu o mesmo em outro blog que freqüento... eu tenho uma relação literal de amor & ódio com o senhor google, fico para morrer quando ele assume os ares de deus maior!
do que me lembro ter dito, do que vale a pena não se perder, é que a poesia que você pratica atinge minhas mais altas expectativas com relação a satisfação de ver belas imagens traçadas com palavras,
a impressão que tenho ao ler-te é exatamente que as coisas se apoderam de você e depois você dá a elas o espaço de um verso,
como em:
TRAVELLING *
Na estrada
que seguia para o interior
os meus olhos recolhiam
o poema já feito.
parabéns pela constante entrega a que você se permite. é lindo de ver.
abraços!
Olá! Saudações Literárias...
ResponderExcluirPassei por aqui e achei muito bem cuidado seu espaço. Parabéns!
Sempre que eu puder voltarei.
Abraços de Luz.
Visite o ILUMINANDO A VIDA.
2º blog que visito e não encontro meu comentário. O resultado é que fica sem graça escrever outra vez, sem o calor da primeira leitura.
ResponderExcluirÓtimos poemas, como sempre, M.
Como sempre muito bom, Marcantonio. Seus poemas são de uma riqueza mágica. Bom demais que os compartilhe conosco.
ResponderExcluirAbraços, poeta!
Reli sem perder a mágica. E li muitos dos dos seus posts mais recentes. Nova leitura vale novo comentário... Quanta criatividade! A poesia, aliás a arte, está em você. Não há outra explicação.
ResponderExcluirAPLAUSOS!