HIDROLATRIA
Cristais de sal
a memória:
conserva a vida
desidratada.
Ressequido
anseio o mar:
memória diluída
n’água.
DIAGNOSE
Tu achas que sou triste?
Será em razão de haver na água dos meus olhos
fragmentos do solo das luas que jamais viste?
Ou deve-se ao ar de mistério que sai das minhas narinas
aquecido por um sol que nunca raiou noutro hemisfério?
Talvez seja porque me fuja da boca um rio afluente
De sílabas que vez alguma me retornou da foz alheia.
Ou porque as minhas mãos não saibam como plantar
uma árvore na fronteira entre o outono e a primavera.
Não há fronteira exata entre o outono e a primavera?!
Talvez esse seja o motivo.
Ou então porque a estrutura óssea dos meus pés
Não seja apropriada para caminhar sobre um solo
Feito de farelo de ossos.
Afora isso,
Não sei qual a razão de achares que sou tão triste.
amplos
e
separados
campos
de cor
azul crença
de
céu
vermelho carne
avesso
incréu
ocre terreno
ao léu
espelho
vindouro
amarelo anel
anelo
d’ouro
insólito
eloqüente
solvendo
-se
no vácuo
logos
silente
Hidrolatria... Bem faço eu, Marcantonio, que conservo num mar de álcool a minha vasta amnésia.
ResponderExcluir"Talvez seja porque me fuja da boca um rio afluente
De sílabas que vez alguma me retornou da foz alheia."... Mais dois dos muitos versos seus guardados no meu baú, para a série de poemas que estou prestes a lançar: Maravilhas da Reciclagem Poética.
Se eu fosse você, terminaria o terceiro poema no suave "silente". Ou, talvez, experimentaria purpurinar a fonte da estrofe final sobre o "branco anímico".
Abraço
P.S.: Se me permite o atrevimento de uma retificação, há fronteira entre o outono e a primavera, sim. É que ela não tem a mínima linha: é obesa, como todos os que hibernam.
Dizem que tenho olhos tristes, não sei por que, mas é difícil convencê-los de que são só os olhos (só quando estão abertos).
ResponderExcluirLindos poemas!
Grande abraço.
é uma tal de tristeza vazada
ResponderExcluirde vazio vazante
...
forte abraço,
irmão.
É poeta. Com todas as cores e tristezas - na beira do mar - "começo do caminhar pra beira de outro lugar'... Beijo!
ResponderExcluirLindos poemas, meu querido!
ResponderExcluirUm presente encantador!
Grata.
Abraço da
Zélia
Marcantonio,
ResponderExcluirCristais de sal
a memória:
conserva a vida
desidratada.
Um trio cristalino: a água em todos os seus estados... poéticos!
E nos teus amplos e separados campos de cor, sento pra te ler e não quero mais sair...
Muuuuito lindo,
Bj grande.
Bem que ia responder ao diagnose, que dá margem a falar da tua poesia de um modo geral...Mas é que hoje eu estou triste. Tristeza sai largando tinta e desdizendo palavras. Triste e com medo. O medo é um sentimento que aprisiona. Amanhã quem sabe saberei dizer sobre o diagnose. Nossa, acordei de madrugada com um ladrão no meu quarto. Incompreensão, susto, perplexidade, medo e tristeza. Não cabe ainda na minha cabeça que devamos temer os homens como tememos as feras. E devemos. Salvador tornou-se uma selva, e já foi tão serena. Enfim, te comento noutra hora, porque gostei dos poemas.
ResponderExcluirBeijos,
"olhos tristes" são os que normalmente brilham mais provavelmente por causa da água que fica como uma garoa cobrindo o olhar - dos teus olhos não sei...da tua poesia sinto a arte, as imagens, até um pouco sensorial. E adoro!
ResponderExcluirBeijos
Marco, essa tríade de poemas magníficos salta aos olhos.
ResponderExcluirBem-aventurados os que têm a oportunidade de fotografá-los e guardá-los na retina.
É um privilégio.
"Diagnose", então, é um poema impossível.
Eis tudo.
Aquele abraço, bardo.
Bom dia Marco!
ResponderExcluirTudo bem? Faz tempo que não entro aqui, mas, estou voltando aos poucos. Gosto de ler suas linhas.
Beijos
"Tu achas que eu sou triste?"
ResponderExcluirAinda hoje pensava nisto, se sou triste. Acho que nem vou responder, nem escrever um poema, tu disseste tudo!
Adorei a forma com pintaste as cores, também eu as ando a pintar, faltam-me é os diluentes!
Roubei um quadro teu (já tinha usado, mas é uma imagem poderosa)
Beijos!
Laura
Mas é claro que é poeta, que dúvida!
ResponderExcluirO primeiro terceto do segundo poema é um achado.
O poema é todo um corpo de tristeza.
O terceiro poema acompanha o vídeo de mãos dadas. E que vídeo!
Beijo.
Hidrolatrado poeta. Vens de três em três, cada um mais intrigante que o outro. O último não serve para os daltônicos e os tubarões. Não creio que haja quem te ache triste. Mas é bom que penses assim, se é essa tua tristeza encarnada te faz escrever tão bem, mesmo quando estás alegre.
ResponderExcluirPoetíssimo!
ResponderExcluirDiagnose é show!
Sob meu olhar, todo poeta é triste. Como você é poetíssimo, é triste sim.
O último poema é um arco-íris com direito à pote de ouro no final.
BRAVÍSSIMO!
Beijos
Mirze
Hidro,
ResponderExcluirhidra,
algas,
cabelos,
sal,
veneno.
ah de repente me lembrei do verde
abraço
Amei a memória que conserva a vida desidrata, nem que seja dentro de um vidro ou na geladeira, mas conserva, o que também não sei se é bom ou se é mal, que a vida tem de um dia ir memória abaixo para ser reinventada.
ResponderExcluirbeijos
Também anseio o mar, amigão!!! Que beleza...
ResponderExcluirUm beijo!
Deve ser porque ser triste te deixa tão bonito.
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