Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Três Poemas no Início de Julho

ÁRIA E CORAL

( Para Tânia R. Contreiras)

Não canto para encantar as frontes
Nem para abafar o incêndio das pálpebras,
Ou para fazer nevar entre os lábios,
Ou para amortecer o tremor dos queixos.

Canto porque não sei eu mesmo
Chorar ou rir sem cantar,
Como uma engrenagem que range,
Como uma planta que se volta para o sol
Sem intenção de se iluminar.

E eu cantaria sozinho ou louco
Não fosse o canto ele próprio
Um ninho para o humano outro.


ARREBATAMENTO

(Para Assis Freitas)

Esperemos: o poema não demora.
Surge dum crepúsculo ao contrário,
Encerra-se suspenso, uma aurora.


ABANDONO

A rainha capturada,
O rei espera acuado,
Defendido pela torre
E espaçados peões.
Já se foram os bispos
Com suas mitras
E supostos condões.

E no descampado,
Derreado, submetido,
O último dos cavalos,
Pelo qual o monarca
Não poderia trocar
Reino algum,
Pois apenas lhe restou
Um quadrado exíguo.

Cai uma neve cinza
Há semanas no fixo
E quadriculado
Teatro de guerra:
E o jogo abandonado
Antes do lance final
Parece ter tornado
A partida
Uma derrota eterna.

16 comentários:

  1. Ótimos, poeta. Gosto da profundidade que aborda nos poemas deste blog.

    Grande abraço.

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  2. Deus mostra o seu rosto através da poesia...Eu fico radiante quando recebo um poema, o melhor presente do mundo. Nossa, obrigada Marquinho. É sagrado ter um poema dedicado a alguém.
    Três poemas geniais...mas eu fico com o meu, porque é meu, porque receber um poema do poeta que mais leio atualmente...é tudo de bom!
    Beijos,

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  3. marco,

    versos muito bonitos, digo inclusive no sentido da estética que tem para mim o sentimento.

    colocar o sétimo... foi um achado de mestre! (amo o filme!)

    suas escolhas são primorosas.

    um beijo!

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  4. E eu cantaria sozinho ou louco
    Não fosse o canto ele próprio
    Um ninho para o humano outro

    Isso ficou muito bom!

    Abraço.

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  5. O poema, aqui, é um impacto, um espanto.
    E a beleza sobrevive ao susto.


    Abraço fraterno.

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  6. ah poema meu gentil que me ofertaste, de arrebatos fico cá, pasmado


    grande abraço

    p.s. sétimo selo revi outro dia e continua impactante, a fotografia então é primorosa

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  7. Excelentes teus poemas, Marco.

    Abraço

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  8. Marcantonio!

    Tudo aqui nos leva à excelência dos limites que a vida nos oferece. Jogar xadrez com a morte, é saber que vencerá o jogo e a vida!

    Impressiona muito seus poemas.

    Beijos, poeta!

    Mirze

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  9. Olá, Marcantonio,

    «Canto porque não sei eu mesmo
    Chorar ou rir sem cantar»

    divina apresentação dum poeta!
    A vida do artista liga-se à arte de uma maneira única, que não dá para separar o homem do artista, é ou não é?
    Mesmo que realizando outras funções, a alma está lá, pulsando...E cedo ou tarde, acaba por se sobrepor!

    Convido-te a ler "Sou palhaço" - com etiqueta: VIVER A VIDA, lá no filosofando em cima da bicileta.

    abç amigo

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  10. Adorei os poemas, especialmente o pro Assis- um arrebatamento mesmo! Bjs

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  11. há cânticos que inauguram a linha difusa que distingue o homem de tudo o resto. e de novo o fazem, e de novo, até que os códigos secretos passam a escrever-se com as linhas digitais da poesia.
    um abraço, marcantónio!

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  12. Todos lindos, especialmente o que dedicas ao Assis! Bjinho!

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  13. marcantonio, que post fabuloso... "arrebatamento" chegou a mim com um encanto particular, com muita beleza. três versos de infinitas entrelinhas.

    um abraço!

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  14. Olá, Marcantonio!
    Você foi o poeta da blogosfera que escolhi para abrir o meu blog de poesias hoje.
    Espero você por lá para conferir minha leitura e se quiser convidar seus amigos e seguidores para o mesmo será um grande prazer.
    Lembro que este projeto é para, além das leituras dos lindos poemas que vocês produzem pela rede, levar mais interação e carinho pela poesia e literatura.
    um abraço carioca

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