ÁRIA E CORAL
( Para Tânia R. Contreiras)
Não canto para encantar as frontes
Nem para abafar o incêndio das pálpebras,
Ou para fazer nevar entre os lábios,
Ou para amortecer o tremor dos queixos.
Canto porque não sei eu mesmo
Chorar ou rir sem cantar,
Como uma engrenagem que range,
Como uma planta que se volta para o sol
Sem intenção de se iluminar.
E eu cantaria sozinho ou louco
Não fosse o canto ele próprio
Um ninho para o humano outro.
ARREBATAMENTO
(Para Assis Freitas)
Esperemos: o poema não demora.
Surge dum crepúsculo ao contrário,
Encerra-se suspenso, uma aurora.
ABANDONO
A rainha capturada,
O rei espera acuado,
Defendido pela torre
E espaçados peões.
Já se foram os bispos
Com suas mitras
E supostos condões.
E no descampado,
Derreado, submetido,
O último dos cavalos,
Pelo qual o monarca
Não poderia trocar
Reino algum,
Pois apenas lhe restou
Um quadrado exíguo.
Cai uma neve cinza
Há semanas no fixo
E quadriculado
Teatro de guerra:
E o jogo abandonado
Antes do lance final
Parece ter tornado
A partida
Uma derrota eterna.
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Ótimos, poeta. Gosto da profundidade que aborda nos poemas deste blog.
ResponderExcluirGrande abraço.
Deus mostra o seu rosto através da poesia...Eu fico radiante quando recebo um poema, o melhor presente do mundo. Nossa, obrigada Marquinho. É sagrado ter um poema dedicado a alguém.
ResponderExcluirTrês poemas geniais...mas eu fico com o meu, porque é meu, porque receber um poema do poeta que mais leio atualmente...é tudo de bom!
Beijos,
marco,
ResponderExcluirversos muito bonitos, digo inclusive no sentido da estética que tem para mim o sentimento.
colocar o sétimo... foi um achado de mestre! (amo o filme!)
suas escolhas são primorosas.
um beijo!
E eu cantaria sozinho ou louco
ResponderExcluirNão fosse o canto ele próprio
Um ninho para o humano outro
Isso ficou muito bom!
Abraço.
O poema, aqui, é um impacto, um espanto.
ResponderExcluirE a beleza sobrevive ao susto.
Abraço fraterno.
ah poema meu gentil que me ofertaste, de arrebatos fico cá, pasmado
ResponderExcluirgrande abraço
p.s. sétimo selo revi outro dia e continua impactante, a fotografia então é primorosa
Excelentes teus poemas, Marco.
ResponderExcluirAbraço
O poema é a cara do Assis mesmo.
ResponderExcluirMarcantonio!
ResponderExcluirTudo aqui nos leva à excelência dos limites que a vida nos oferece. Jogar xadrez com a morte, é saber que vencerá o jogo e a vida!
Impressiona muito seus poemas.
Beijos, poeta!
Mirze
Olá, Marcantonio,
ResponderExcluir«Canto porque não sei eu mesmo
Chorar ou rir sem cantar»
divina apresentação dum poeta!
A vida do artista liga-se à arte de uma maneira única, que não dá para separar o homem do artista, é ou não é?
Mesmo que realizando outras funções, a alma está lá, pulsando...E cedo ou tarde, acaba por se sobrepor!
Convido-te a ler "Sou palhaço" - com etiqueta: VIVER A VIDA, lá no filosofando em cima da bicileta.
abç amigo
Adorei os poemas, especialmente o pro Assis- um arrebatamento mesmo! Bjs
ResponderExcluirhá cânticos que inauguram a linha difusa que distingue o homem de tudo o resto. e de novo o fazem, e de novo, até que os códigos secretos passam a escrever-se com as linhas digitais da poesia.
ResponderExcluirum abraço, marcantónio!
Todos lindos, especialmente o que dedicas ao Assis! Bjinho!
ResponderExcluirmarcantonio, que post fabuloso... "arrebatamento" chegou a mim com um encanto particular, com muita beleza. três versos de infinitas entrelinhas.
ResponderExcluirum abraço!
mas que beleza.
ResponderExcluirOlá, Marcantonio!
ResponderExcluirVocê foi o poeta da blogosfera que escolhi para abrir o meu blog de poesias hoje.
Espero você por lá para conferir minha leitura e se quiser convidar seus amigos e seguidores para o mesmo será um grande prazer.
Lembro que este projeto é para, além das leituras dos lindos poemas que vocês produzem pela rede, levar mais interação e carinho pela poesia e literatura.
um abraço carioca