1
A brevidade é privilégio
dos iluminados.
Eu,
que vivo na escuridão
do meu próprio firmamento,
preciso ser
prolixo
e lento.
2
Caminhamos de mãos dadas.
A manhã tem a luz corpuscular
das telas de Vermeer.
Rimos como se fôssemos ridículos
e dizemos tolices consentidas.
Extático, eu a olho
como quem vê o mar
da primeira vez.
Deus existe neste momento,
tão efêmero e pródigo
como um filme publicitário.
3
Do nada e tão súbito
o caos ao meu redor.
As perguntas abrem suas grandes asas
de pássaro assustado.
Neste ambiente estreito
a poeira levantada é insuportável.
Ruídos aflitivos de canais não sintonizados
ou de dentes sendo lixados.
Por que o norte tem suas prerrogativas?
Por que desnorteio?
Dou as costas para o centro da sala,
olho nos olhos de minha sombra na parede
e sussurro uma oração:
Oh, não se vá agora coerência minha,
não me abandone suposto sentido do mundo,
não estou pronto ainda para enlouquecer!
Monotipia de Marcantonio - 2001
quinta-feira, 18 de março de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário