1
Aragem marinha
- Na margem
Dança
A linha virtual –
Desalinha
A cabeleira
Desta tarde
Ortogonal.
2 - SOB A SUPERFÍCIE
O meu dia revela
Um embrionário vazio
Em seu avesso:
Como um relógio
Que trabalha sem mostrador;
Como um corpo aberto
Na mesa cirúrgica;
Como um pássaro
Batendo asas depenadas,
Quem suporta
Ver sempre algo oculto
Sob a superfície?
Quem suporta
Ver sempre estrelado
O céu do meio-dia?
Com olhar incisivo
Lacero a trama luzidia
Da manhã efêmera.
3
Aquele sentido famélico,
Aguardando pela palavra,
Não terá a face iluminada.
Ele sumirá por ti adentro,
Desertando, como calhau
Caído no fosso babélico.
Ah! A tua palavra apurada
Nunca foi ou será encontrada!
4
Estou velando o cadáver
Do meu sonho derrotado:
Os cães
Ainda querem devorá-lo.
5 - QUALQUER HISTÓRIA
Conte-me a sua história
que dela eu farei um livro,
farei um circo,
um prontuário,
farei um relicário,
farei sudário,
sutra,
dela farei receita,
súmula,
ou seita.
Conte-me a sua história:
dela farei uma aula de anatomia,
de psicologia,
de zoologia,
de teologia,
de orgia.
Dela farei um drama:
sangue,
vísceras,
glândulas,
canga,
orgânica,
gana.
Farei comédia,
média
aritmética,
métrica.
Dela farei um número,
um consenso,
um túmulo,
um prostíbulo,
um templo,
farei um turíbulo,
melhor: farei incenso.
6 - MOTIM
Meus pálidos
Dedos
Feitos retalhos
Do gesto instruído.
Meus dedos
Amotinados,
Divergentes,
Cansados
De ser preênseis,
Tenazes
Ou indicativos.
Conflagrados.
Flagrados
Além de mim,
Babélicos
Discursam
Meus dedos
Remotos.
Meus dedos
Têm ânsias
De separação,
Trilhas próprias,
Propensões.
Alegam
Meus dedos
Idiossincrasias:
Dedocracia!!!
Meus dedos
Agora
Têm almas
De animais
Libertados.
Meus dedos!
Monotipia - 2002 - Marcantonio
terça-feira, 2 de março de 2010
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Meu caro,
ResponderExcluirEssa "Qualquer história" é qualquer coisa de bomba...
muito bacana demais. Parabéns!
Ô Rangel, obrigado.
ResponderExcluirUm abraço.