Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Enquanto Há Fôlego

ENTRE SÍTIOS (11)

(Para Domingos Barroso)

Todos os objetos do dia
Jaziam num silêncio de terracota.

Até que o poeta os soprou
Com o sagrado dom da fábula.


ENTRE SÍTIOS (12)

(Para nina rizzi e seu ellenismos)

No céu em camadas
um fenômeno astronômico
plural
(plasmático)
:
ao dia-noite, a lua.
à noite-dia, o sal
                         ático


MARESIA

Foge da praia
O ar aziago do esquecimento mortal:
Nada se desfaz,
Tudo se reafirma sempre
Com a cor que as ondas regurgitam.

No espelho que acende e apaga
Na areia (como um letreiro luminoso)
Um ente eterno se mira.

Talvez tenha sido aqui
Onde deus separou a luz
Das trevas –
Tirou da noite o dia.

Sangue e sal e sol
Encorpam o odor
Chamado maresia.


VAGANDO

Sob a árvore do dia
Assombra-me
Não criar raízes.


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Concerto versos
(SIC)
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POEMA-TABULETA (2)

Espaço reservado para versos
Portadores de necessidades
Especiais


31 comentários:

  1. Marcantonio, você sim é surpreendente.

    Seus versos escorrem fácil, como se sempre houvessem existido.

    Assombra-me a pergunta do "marcadores".
    É dos bons.
    Bjs

    Rossana

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  2. Marcantonio, meu camarada:
    não há de te faltar
    fôlego poético
    nem pressa no olhar
    tateando o invisível
    e revelando-o
    a cada verso.

    Forte abraço

    (e muitíssimo obrigado
    pela homenagem)

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  3. e quanto fôlego poeta! Aguentas versos intensos, cheios de fluidez/ tempestades/ ventanias. Essa das necessidades especiais é um achado!

    Beijos

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  4. Leste as mentes poéticas homenageadas, perfeito!

    Adorei tudo, principalmente o Vagando.

    Beijo.

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  5. O sopro, a criação poética e o Criador de tudo, inspira você, Marcantonio.

    MARESIA é a prova disto. Vídeo belíssimo!

    Como falas de Nina, posso dizer TUDUS belo!

    Um forte abraço!

    Mirze

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  6. para o Domingos carpir o dia é poesia,
    para a Nina o astrolábio transcendente,
    para raízes presas no ar,
    vocação de semente,


    abração

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  7. esse poeta não perde tempo e atira com a metralhadora do verso a toda força

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  8. Marcantonio, retorno apenas
    para ressaltar a importância do peculiar
    comentário que fizeste sobre a relação da miopia e a pintura de monet.

    (a sensibilidade exasperada
    pela visão "diáfana" do artista)

    A Poesia é um solo fértil,
    hem, camarada?

    Forte abraço.

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  9. Acho incrível esta capacidade que alguns poetas têm de con_versar com versos alheios. E você faz isso brilhantemente. E a leitura que faz de cada poeta é sempre certeira. Poeta, com certeza. Beijo.

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  10. marcantónio,
    ninna é já uma escola!
    o domingos tem na sua mão os objectos do mundo que põe e dispõe consoante o alinhamento da sua sensibilidade. no seu universo pessoal, há um misto de inocência e realidade que se conjugam num todo irresistível. está no topo dos blogues por mim mais visitados, sem dúvida. como o teu, artesão da palavra!
    um abraço!

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  11. fala marcão,
    ou quinho se for a la Roberto Lima.

    tem tempo que não deixo pegadas por aqui, mas tô sempre te filmando, pode apostar.

    seria a maresia ou a nostalgia que está a pairar nesse post? (sim, as rimas também me perseguem...)

    forte abraço meu camarada!
    ft

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  12. aqui: vagando no silêncio terracota, como um fóton.
    * estas tuas imagens criam raízes luminosas na mente.

    * grande abraço!

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  13. para rir:

    depois vc entra no post do copo de leite lá no versos de cor e olha o comentário do beto....rsrsrs

    abração!

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  14. Marcantonio, amigo
    Linda e justa homenagem para Domingos!
    Linda e justa homenagem para Ninna!
    No mais, "sangue e sal e sol encorpam o odor chamado maresia" já bastava: não precisava mais nada, para enfeitar minha vida, hoje portadora de necessidades poéticas especiais...
    Abraço apertado

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  15. Sua produtividade é um fenômeno, Marcantonio. Ainda mais com tanta qualidade.
    Adorei as homenagens, merecidas até demais.

    Estive em Cabo Branco várias vezes, é um dos lugares mais bonitos do NE e a praia então, quase choro de saudade dela. Ainda volto a esse pedaço lindo do mundo.

    Beijo grande.

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  16. Marcantonio, vou lendo e lendo e viajando em imagens claras para mimnha alma. Será que esse dom de fazer "ver", vem do seu lado pintor e desenhista? ou será vc mesmo que tanto vê, etanto nos faz ver, por conseguinte?
    Sei lá, mas gosto muito.

    Tbm me assombro, as vezes.... mas só às vezes. Resto de tempo nem percebo.
    beijos

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  17. MARESIA
    É um primor! Pensei em destacar a segunda estrofe, mas seria injusto com o todo. Eu que amo o mar e vivo com a maresia ao meu redor, fiquei particularmente comovida com a tua leitura marítima... o fecho é uma definição sensível do que compõem a maresia. Ficou ótimo!

    "Sangue e sal e sol
    Encorpam o odor
    Chamado maresia."


    VAGANDO

    Vagando traz a invejável capacidade de síntese que você consegue em alguns versos, sobretudo os que são ligados ao pensamento filosófico. Belíssimo.

    Os poemas tabuletas pincelam o humor necessário para permanecer poeta no mundo cruel da escrita. Uma graça os dois!

    A praia é bela e selvagem, excelente escolha!

    Abraços de fã!

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  18. Enquanto há fôlego, há fábula!

    Toda sua man(obra) é inacreditável...

    E seus entre sítios são sublimes, sabes como ninguém, captar o espírito das “ coisas”.

    Beijos reais.

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  19. Sempre muito boa a mão do poeta. "Maresia" é especial: "Talvez tenha sido aqui
    Onde deus separou a luz
    Das trevas –
    Tirou da noite o dia". Excelente!

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  20. Sua poesia é grande, adorei os poemas, todos eles. Você tem livros publicados? Se tiver me diga onde posso encontrá-los.
    Obrigada pela visita, tão boa, no aeronauta.

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  21. Não acreditei quando você diz no perfil que não é editado. Por isso a pergunta.

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  22. O primeiro poema é especial.
    ... Mas depois vi que a Gerana falou isso de "Maresia"; reli "Maresia", e continuo com o primeiro. Ainda bem. Questão de gosto. Fico com o poema contido, com o seu quê de mágica, de encantamento, sem pretensões, apenas com o sopro da poesia.
    Abraços.

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  23. Marco, estes objetos do dia que jaziam num silêncio de terracota, me fizeram correr ao sítio do Domingos para conhecê-lo. Tu realmente tem o dom de captar a essência nessas homenagens.

    Adorei todos, principalmente o Vagando, eu que nunca soube das raízes...

    Beijo

    ps: respondi teu comentário dizendo que o compasso vem de ti...rs
    outro beijo

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  24. Excelentes, Marcantonio! Todos.
    E para os leitores, haveria uma "tabuleta para
    necessitados especiais"? risos

    Beijos

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  25. Meu Deus!!!
    Quanta sutileza em teus escritos!
    Mais uma pérola digital para alimentar "minhas necessidades especiais" rs
    Muito bom!

    deixo meu endereço: http://mais-um-cafe.blogspot.com/

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  26. O sopro do poeta faz melhor a vida. Que nunca lhe falte o fôlego.

    abs

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  27. "Silêncio de terracota" traduz a idoneidade da sua poesia.
    Tudos perfeitos (sic).
    Ótimo passar aqui, Marcantonio.
    Abração.

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  28. eu sei exatamente o que é não criar raízes, babe...

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  29. Serei Poeta? SIM! Maravilhosamente encantador."Sob a árvore do dia Assombra-me
    Não criar raízes." Notou? Tuas raízes se chamam MarcAntonio o Poeta! Obrigada.
    Encantada,
    Sílvia

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