POEMA EM LINHA ROTA
Mais um dia de tortura
Antes da euforia futura
Do perdão.
Mergulho na névoa fria
Da estrada,
Num surto me insulto:
Sou o nada
Sendo autocomiseração.
Ostento tantas máscaras,
Elásticas, flácidas caretas,
Facetas de animal feroz
Que não espantam mais.
Entre sorrisos refrigerados,
Incauto, subo ao cadafalso
Das obrigações temporais.
E quando explode o grito
Das aspirações preteridas
- Anúncio absurdo de mim -
Faço-me de surdo, mouco,
Mudo, um louco sabotador
Do alto sol que iluminaria
O abismo sob os penhascos
De cujas bordas eu antecipo
O eventual post escriptum
Ao golpe do mundo carrasco.
SOLIDÃO
Quando a solidão chegou,
Ela me tornou único.
Eu que me julgava vários,
Eu, de muitos itinerários
Compartilhados,
Não era mais que um!
Sem partes, sem pontes,
Sem frações, sem múltiplos,
Sem púlpitos.
Quando a solidão chegou,
Ela me amarrou a mim.
Reforçou a membrana
Das minhas fronteiras
Donde calado percebo
Que o fronteiriço é outro
Perambulando cego
Preso aos fios da rede
De solidões unitárias:
A solidão dos nomes;
A solidão dos números;
A solidão dos olhos;
A solidão das sequências;
A solidão das alternâncias;
A solidão dos adjetivos;
Dos adjuntos temporários
E a solidão dos solidários.
Quando a solidão chegou,
Ela urinou nos meus pés
E demarcou um território.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
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território demarcado
ResponderExcluire há musgo na prisão
...
forte abraço,
camarada.
Mundo carrasco, aspirações preteridas, solidões.
ResponderExcluirDesse emaranhado de impressões e sensações mundanas você tece a sua alta poesia.
Sublime!
Abração, Marco.
solidões em versos, em poesia e até na música
ResponderExcluirbjs
e....ninguém ousou perturbar o som do silêncio.
ResponderExcluirUm beijo
Também sinto a (de)marcação cerrada Dela.
ResponderExcluirBeijo.
cada território tem a sua mágica, a reta, o roto, o silencio, a solidão. Cada palavra inventa a sua própria geografia,
ResponderExcluirabraço
POETÍSSIMO!
ResponderExcluirMo "poema em linha Rota", um mergulho na alma que diz-se nada, mas de um modo que não aniquila, ao contrário, engrandece.
No dia que a solidão chegou, sabia que podia marcar território, que passaria a fazer parte do seu eco.
Belíssimos vídeos!
Aplausos!
Mirze
Aos amigos que aqui comentaram, o meu lamento: alguns comentários desapareceram em meio ao "apagão" do blogger. Abraços.
ResponderExcluirÉ, já fui mijado pela solidão também. E quando você menciona: "Preso aos fios da rede/ De solidões unitárias", a primeira rede que me vem à cabeça é esta que navego. E sua linha rota é digna de uma linha reta! Abraços!
ResponderExcluirComo você é talentoso e diferente, Marcantonio. Não se parece com ninguém e nos faz sentir em casa. Coisa estranha, louca e fascinante.
ResponderExcluirbeijo
Marcantonio
ResponderExcluirSeus poemas me despertam sentimentos com as quais não tenho intimidade.
Isso é Arte!
Gosto.
Abç
Rossana
Gostei desses versos por que ( num surto de admissão espontânea ) me identifiquei com isso; profundamente! "Num surto me insulto: Sou o nada, sendo autocomiseração."
ResponderExcluiro cheiro fica sempre, entranhado na pele, infiltrado no sangue
ResponderExcluirBeijo
Laura