Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

quinta-feira, 18 de março de 2010

Uma Pequena Fraude

O otimista absoluto agora sabe. Há algo que ele oculta como uma ferida intocável: admitir que o que quer que não seja infinito, não pode ser verdadeiramente ótimo. Sabendo disso, no fundo de si mesmo, o otimista observa o seu vaso de flores, belas e delicadas flores colhidas pela manhã, belas e delicadas flores votivas destinadas ao culto da beleza da vida; e  percebe que elas fenecem. Conclui que para mantê-las como símbolo da beleza da vida, terá que colhê-las todas as manhãs, renovando-as. O otimista verifica o quanto isso pode ser cansativo, ter de recolher todos os dias os símbolos da beleza da vida antes que por si mesmos se convertam em símbolos da decadência e do fenecimento. Isso cansa demais! O otimista que no fundo sabe, comete, então, uma pequena fraude: dispõe no seu delicado vaso um arranjo de flores de plástico, belas e delicadas flores de plástico mantidas como símbolos destinados ao culto da beleza da vida. O pessimista sorri. Sorriso amarelo.

















Imagem: Monotipia de Marcantonio 

Um comentário:

  1. hahaha maravilhoso! Que o pessimista não ganhe sempre, mas nesse caso, há de se convir que flores de plástico são mesmo bem mais práticas... rs

    Beijomeu

    ResponderExcluir