RUÍNAS
Na teia (encruzilhadas
de vagos vapores)
nenhuma aranha.
Jamais vi uma aranha em sua própria teia,
como se esta fosse uma relíquia,
um templo
como o Partenon;
uma ruína
como o Palácio de Cnossos.
Jamais vi um grego
em um templo grego,
como se este fosse uma abstração,
uma maquete ilusionista,
um esqueleto
atravessado pela luz,
ou um poema sólido.
Jamais vi um poeta em seu poema,
como se este fosse obra do tempo,
um fóssil,
um fragmento pitagórico
ou uma lápide.
Jamais vi um corpo sob uma lápide,
tal como uma aranha em sua teia,
como um grego em seu templo,
como um poeta em seu poema.
DOIS HAIKAIS
Muito impertinente
Adentra o vento curioso:
Folheando o livro.
2
Inseto ínfimo
Atravessa destemido
A palma da mão.
NOME
Se eu pudesse nomear esta nostalgia
Ela adormeceria na neutralidade
De flor colhida.
Mas a nostalgia é não poder convocar o nome
Antes do seu parto.
MANTRA
[Experimente este:]
O mar ameaça.
O mar recua.
O mar ameaaaça.
O mar recuuuaa.
O mar ameaaaaçaaa
(...)
Monotipia s/ título - Marcantonio
Outras imagens minhas em Cadernos de Arte
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Experimentei todos, e quer saber? Nunca me enjoo, uma delícia.
ResponderExcluirBeijos.
eu jamais vi cabeça de bacalhau
ResponderExcluircomo se este fosse acéfalo
e acé.falo sendo
uma cacófato come tendo.
Para o mantra, deixo um do samurai:
"Aqui nessa pedra, alguém sentou para olhar o mar O mar não parou para ser olhado Foi mar pra tudo que é lado"
Abraços meu caro!
Já sentia falta dos poemas, Marquinho. E chegaram inquietantes, como o são, como sempre chegam. Tiram momentaneamente o sossego da alma. Quebram a placidez plástica. Arremessam-nos ao desconhecido. E gosto de tudo isso...Eu gosto.
ResponderExcluir"Se eu pudesse nomear esta nostalgia
Ela adormeceria na neutralidade
De flor colhida.
Mas a nostalgia é não poder convocar o nome
Antes do seu parto." Dito assim, como só sabe dizê-lo:adorei!
Abraços
O desfecho de Ruínas foi espetacular. E gostaria de ver mais dos seus haikais por aqui também.
ResponderExcluirGrande abraço,
Caju.
Lara, obrigado, querida. A sua presença aqui é sempre um incentivo sincero.
ResponderExcluirBeijo.
Leandro, seja bem-vindo aqui. Obrigado pelo comentário criativo e bem-humorado.
ResponderExcluirAbraços.
Tânia, pois é, demorei a postar porque fui pego por uma gripe nada poética, dessas que acabam com o ânimo da gente. O que também me afastou de comentar noutros blogs.
ResponderExcluirMas fiz um esforço hoje. Que bom que você gostou.
Abraços!
Fred, obrigado. Aos poucos a gente vai postando outros.
ResponderExcluirGrande abraço
Amigo Marcantonio
ResponderExcluirEstes teus Poemas dos Primeiros Dias de Agosto
são realmente um tesouro!
"Ruinas", li, reli e li novamente, e será preciso ler muito mais, para que meu espírito possa assimilar a beleza , que é muita. Incrível como inicias, com a teia vazia...Incrível o desfecho... Meu Deus!
Os "dois haicais", na medida mais exata de fluidez, de leveza, de profundidade...
"Nome" é uma pluma filosófica a flutuar...
"Mantra", este cantarei sempre...
Imenso abraço, querido!
PS- Não faça mais isso, apanhar gripe forte, por favor, pois sua ausência, aqui, é um desastre...
Outro abraço imenso!
Ruínas e destroços de lápide, teia, templo e poema, enfim amalgamados? Evocar o Nome, não a coisa como diria Borges, mas o objeto nomeado sob a égide de sua essência de ser. Sobre o mar, fico com Dorival "quando quebra na praia é bonito, é bonito". Mas quando ele passa da praia tudo medra ante a ameaça,
ResponderExcluirabraço
Marcantonio!
ResponderExcluirO que senti ao ler seu poema e haikais, foi uma visão extraordinária composta em versos sublimes.
Adoro haikais, e gostei de todos. Aqui se vê o poeta em seu poema, por ser ímpar e inconfundível!
Parabéns, poeta!
Forte abraço!
Mirze
À gosto do meu paladar, seu banquete literário.
ResponderExcluirApuradíssimo!
Beijos de quero mais.
marquinho,
ResponderExcluirsua produção literária é corrente, ou você tem publicado poemas de outras safras?
rapaz, vejo uma diversidade na forma com quem você esccreve seus poemas, mesmo reconhecendo neles suas digitais, uma espécie de traço comum ao poeta, obviamente.
belos petardos.
abração,
r.
Marcantonio, de novo, volto a prestar atenção no seu trabalho plástico porque ele realmente é muito bonito e expressivo. Nesse, de novo, sem título (que você é dado a não dar nomes aos seus quadros) só falta mesmo a quarta dimensão porque as outras estão explodindo. Eu só não coloco as mãos por entre os ramos por causa desse maldito e adorado micro.
ResponderExcluirAdorei mesmo, os haikais são puros e de ótima qualidade. O nome as ruínas e o mantra adoráveis (adorei tb a imagem).
ResponderExcluirbjs
A "grega" aqui fora do templo adorou os poemas. Um espetáculo "Ruínas". A emoção adorou "Nome".
ResponderExcluirMenino, gripe não é mesmo nada poética, espero que se recupere bem.
ResponderExcluirAbraços,
obrigada por você ter encontrado o "escotilha", eu fiquei feliz, feliz!
ResponderExcluir:)
“Ruínas”
ResponderExcluir(Encruzilhada de vapores é uma excelente imagem para referir-se a uma teia de aranha).
O poema desenha um caminho e nos envolve em uma teia de ideias, mais ou menos como os grandes pensadores gregos.
Eu diria que uma teia é a própria materialização do mecanismo de um pensamento.
Quatro símbolos importantes,
A materialização do pensamento: uma teia.
A personificação do pensamento: um grego
A abstração do pensamento: um poeta.
A libertação do pensamento: um corpo sem corpo
Quatro etapas do exercício de pensar.
Ruínas/abandono: teia sem aranha, templo sem grego, lápide sem corpo, poema sem poeta.
Todas as coisas que citou podem ser “tomadas” por outras pessoas, exploradas por quem as achar, como um poema depois de escrito deixa de ser do poeta e vira objeto de quem o lê, quem o recebe, como o próprio pensamento-próprio que lançamos como nosso e um segundo depois já é do mundo, modificado e muitas vezes distante do que originalmente concebemos.
Importantes e ricas repetições e ligações entre as ideias que formam a imagem de uma intrincada montagem, ou seja, o poema em si é sua própria teia de ideias.
Gostei muito!
Os haikais são excelentes!
Dois momentos de observação e atenção com as delicadezas do mundo ao redor.
Em “Nome” você define nostalgia de uma forma muito inteligente. É um daqueles poemas que parecem cercados pelo silêncio de alguma verdade superior quando terminamos de ler. É a mesma sensação que me causam todos do Quintana. Muito bom.
“Mantra” é uma brincadeira com as ondas, eu adorei!
Sua sensibilidade é um presente para quem gosta de poesia.
Abraços.
Olá meu caro autor,
ResponderExcluiraqui certamente encontro poesia de qualidade literária e muita sensibilidade. Sua escrita encanta ! Agradeço o carinho de suas visitas e comentários sempre interessnates, ricos e acolhedores. Um abraço amigo.
Marcantonio,
ResponderExcluirTens o condão, poeta...
Abraço de admiração,
Pedro Ramúcio.
caro amigo, jamais os vi... mas sinto-os lá... no templo e na lápide; na teia e no poema... tudo ruínas, afinal...
ResponderExcluirum abraço!
Marcantonio, tivera penas eu levaria no bico
ResponderExcluirum bálsamo para curar essa tua gripe! E no entanto, o fio de tua teia poética está cada vez mais resistente; enquanto o da aranha será usado para substituir tecidos humanos, o teu
substitui as nossas dores, preenche as nossas
lacunas existenciais!
Um grande abraço
e fique bom, pq estamos sentindo muito a tua ausência!
"Ruínas" é sólido tal qual um maciço atlântico.
ResponderExcluirExcelente exercício poético.
Continue (des)construindo a nossa língua.
Ótimos dias.
Marco
ResponderExcluirEu te vejo nos teus poemas.
Você é múltiplo nas suas obras. Você é multiplo.
Todos maravilhosos, mas o primeiro hai kai é de uma doçura que me derrete e a mototipia quase ventania é ótima!
Ai que bom vir aqui...
bj
Rossana
Gosto do tamanho do passo que tua arte provoca em mim... aqui alcanço céus e abismos.
ResponderExcluirÉ disso que se alimentam as almas?
Não sei se é proposital, mas há essa teia que nos prende o olho, a lápide que nos corta a respiração, esse templo onde erguem-se os significantes e significados. Não saio, pois, como entrei.
Voas e vou junto no que posso.
Abraço.
Ricardo
uma postagem excelente - versos precisos, necessários!
ResponderExcluirobrigada
besos
Amei o primeiro poema, perfeito em todos os sentidos. E amei os haicais, sentidos com perfeição. E Nome, e Mantra - é muita poesia, menino.
ResponderExcluirBeijo pra você
não há voo que alcance a tua revoada poética. simplesmente altaneiro e de uma apuradíssima visão. És um condor da poesia!!!
ResponderExcluirForte abraço, nobre poeta!
Quanta coisa boa em um só único post!! Bom aqui, hein?!
ResponderExcluir[]s
Olá,
ResponderExcluirEstou digerindo... lentamente!
Gostei de td.
Bjs
aê marcão, entra aqui:
ResponderExcluirhttp://www.boczon.blogger.com.br/
http://www.artebaiao.com/
me parecem que tem devaneios em consonância com os seus...
abração!
Encruzilhada de vagos vapores... lindo isso! Como os haikais que de tão fluídicos, escorrem pela imaginação como chuva no vidro, refrescando idéias.
ResponderExcluirTenho muito que aprender. Ainda bem que sentir é nato.
Um fds lindo pra vc.
Beijos.
Marco, sudades dos teus versos, deste traço tão singular que tens entre a inspiração poética e a filosofia.
ResponderExcluirAdorei "Ruínas"...mas tenho que dizer que eu já vi aranha na própria teia...rs..o resto não vi não. E o poema é ótimo! Sempre gosto dos teus haikais (mas esse inseto aí é insetinho pequeno, né?..rs)
Nome é fortee verdadeiro...nada antes do parto.
Gostei desse mantra aí...rs..vou praticar.
E quanto a monotipia, nossa, quase sai da tela, né? eu não colocaria a mão aí, parece a cerca de vegetação que circunda minha pequena floresta interna...com teia de aranha e tudo...rs
beijo enorme, espero que estejas melhor!
(essa gripe deve ter sido do frio 'absurdo' de 19°C que fez por aí....rsrsrs...e eu que tive que voltar para um de 3°C....)
Uma sequência preciosa!
ResponderExcluir:)