O poema te procura,
Remota ânsia,
Matéria escura;
Sons andarilhos.
Sino de faiança,
Chamado estranho
À tua vizinhança.
O poema concentra,
A tua distância
Na cela acesa,
Sol amparado,
Céu reduzido,
Vôo simulado
De ave presa.
O poema te arma,
És sentinela,
A mão na faca
Atrás da porta;
Hirto, velas,
No próprio pulso
As horas cortas.
O poema te detém
Remotamente,
Grato refém
Desse exercício,
Louca assistência:
Içar palavras
Suicidadas
No precipício
Da existência.
CYCLADES
A mesma folha
Enche-se de ilhas,
Uma, duas, cem.
Logo está saturada
De Cyclades
Flutuantes
Sobre abismo branco:
Uns tantos destroços vulcânicos
Coagulados.
Nada afunda
E nada se fundamenta.
Nenhum navio transita.
Não há naufrágios.
AFASTAMENTO
Com carvão desenho um perfil na tela.
É todo um ser de proximidades.
Recuo alguns passos:
O entorno enquadra o quadro.
Mais alguns passos para trás:
O entorno do entorno o engole.
Recuando ainda mais:
O entorno do entorno do entorno
Toma tudo para si:
Já não vejo o que pretendera representar.
Magritte, A Condição Humana, OST, 1933 |
Poetíssimo!
ResponderExcluirO POEMA - é a própria ânsia que acontece de ambos os lados. Sou ave presa e ele sabe disso.
CYCLADES! O desfecho foi fenomenal: nenhum navio transita e nem há naufrágios! (Bárbaro)
Afastamento! Acho que isso acontece também na vida. Somente a uma certa distância conseguimos a clareza que precisamos.
Fantásticos!
Beijos, poeta!
Mirze
Ah, Marcantonio, o que a poesia faz conosco! Ah...
ResponderExcluirDesenha, sobre tela em branco, tantos Andros, Tinos, Mikonos...
Arquipélago estático!
Então, vamos nos afastando, até que tudo seja feito , apenas, de borrões em sépia... Só!
Exceção: o brilho das tuas pérolas, grande poeta!
o poema amarra e é amarrado. às vezes.
ResponderExcluirabraços.
nessas horas outras almas se apoderam
ResponderExcluirde todo o vazio
...
forte abraço,
grande poeta e amigo.
A condição humana de Magritte: eu sempre que vejo um quadro desse cara tenho a sensação que ele quer retratar o que está fora do quadro, o ali dentro da pintura é só um motivo para se vislumbrar o que está lá fora. Parece-me uma ordem que não cabe aos pincéis. O teu Afastamento adjetiva todo esse espaço. Para perceber-se é preciso um recuo, uma distancia precisa para colher o olhar do espelho. Mas nas distancias também há a perdição.
ResponderExcluirabraço
Uma linha tênue une os poemas, tocantes poemas.
ResponderExcluirAbraços
o poema é uma pérola que acompanha as demais preciosidades.
ResponderExcluirés brilhante!
beijo nessas mãos.
Armados de poemas, vamos à luta incerta de equilibrar emoções à beira do abismo.
ResponderExcluirTudo lindo, meu amigo!
Beijo grande.
Gigante! Gigante!
ResponderExcluirAbraços!
Três poemas que declaram a arte como senhora de si mesma. Conduzindo todos pelos traços que ela deseja seguir.
ResponderExcluirLindos!!!
Marquinho,
Feliz 2011!!! Desejo tudo de melhor pra ti. Sou tua fã e digo isso com uma alegria imensa.
"O poema te procura..."
Um beijo grande!
Adriana
versos com presença :), beijos!
ResponderExcluirLindo, simplesmente lindo!!! O entorno, do entorno, do entorno...faz o coração da gente ir distanciando...e tudo fica tão mais claro! Que 2011 traga para o lado de cá muitos poemas teus!!!
ResponderExcluirJá não sei mais se procuro o poeta ou a poesia.
ResponderExcluirCada dia que passa torno-me mais arquipélago.
Como um náufrago que nunca esteve em navios,
busco água e frutos para sobreviver, embora nada vislumbre no entorno do entorno...
Tudo são apenas brumas, e sigo tateando aqui e
acolá, desejando não tropeçar antes de encontrar uma saída ou de tornar-me transparente...!?
FELIZ "ANO NOVO", POETA!!!
Beijo
Marco querido, vim atualizar a leitura imperdível de teus poemas.
ResponderExcluirMas vim também te desejar um 2011 inspirado e inspirador, felicidade e alegrias aos montes e sempre sempre tua presença no Grupo.
Beijo
o poema procura-nos. haverá como fugir?...
ResponderExcluirum abraço com votos de tudo de bom para ti, poeta, no ano que hoje nos visita!
Eu ia dizer o óbvio necessário, mas a Pólen já o fez, e de forma sucinta, exata.
ResponderExcluirNo mais, seus outros leitores-comentaristas já enfatizaram quase tudo que me chamou a atenção.
Só quero acrescentar ao que a Mirze comentou - sobre o fecho primoroso de Cyclades - a força e beleza também dos dois versos que o antecedem:
"Nada afunda
E nada se fundamenta"
Grande 2011, Marcantonio!
Abraços
P.S.: Só hoje, depois de tantos meses, me dei conta que ainda não o seguia. Falha grave, mas já corrigida, e com a honra de me tornar seu seguidor de número 200!