Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Condomínio Poético I

QUATRO POEMAS DE DALVA M. FERREIRA

Eu hoje estou assim:
bem pessimista,
bem realista,
bem consciente da minha circunferência.

Mas eu não era assim:
eu tinha sonhos,
tinha desejos,
vivia muito mais além das circunstâncias.

Só sei que, de repente,
(tão de repente)
algo quebrou,
algo deixou de ter, em mim, correspondência.



Um porão,
quarto escuro, sem porta ou janela.
E, mesmo havendo,
não tendo a vontade de olhar...

Quem és tu?
Quem tu és? Donde vens?
O paredão
que bloqueia e impede o meu vôo.

A mão pesada
e cinzenta que fecha o imenso cadeado.
Os fantasmas
porém, de outra vida deveras mais viva.

A memória
adorada e fugaz dumas coisas imensas.
Ferroada
doída e constante das coisas pequenas.



O relógio da sala parou,
certa noite:
era tarde,
chovia e fazia frio.

Sobre a mesa, as migalhas do pão,
umas sobras,
as frutas
e as taças de vinho vazias.

Desde então,
além disso,
e daquilo,
deixo sempre uma lâmpada acesa.

Vai daí que você pense bem,
tenha fome,
ou sede,
vai daí que acaso me queira...



Existem aqueles minutos,
bem poucos,
tão poucos,
em que eu me lembro de mim.

Feliz, como eu era antes:
criança,
e tão simples,
correndo descalça na estrada.

Atrás de uma borboleta
estampada,
amarela
ou branquinha.

Mas isso era antes de agora,
do tempo,
da idade,
e de todas aquelas mentiras.

Mais de Dalva em:   POESIAS SOLTAS 

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POEMAS DE PAULA ZIEGLER

Olhei pela janela
e finalmente eu vi
o capim minha alma e todos os tons


drenadas as lágrimas
no rosto-aço surge o vidro
espelho o mundo


Holder-lune

nada me acontece
disse o poeta
só poesia


no sonho
no silêncio
no não
que nunca me encontrem
que nunca me tirem
o meu carnaval


escuto silêncio
porta para o paraíso
música muito minha
som-pausa
silêncio
somente


ela bela letra
no silêncio
pulula pura e só som
lágrima-luxo estrela
universo
humanimado


Extraídos do livro LETRA-ESTRELA

Um comentário:

  1. Quem disse que eu não tenho vaidade?! Retire o que disse... Obrigada pelo balde de chá, Marcantonio.

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