Ouvia as gotas frias
da torneira defeituosa
como vocativos lúcidos.
De resto, era um silêncio
em arcada flácida
sobre a sala vazia.
Eu ensaiava posturas de sombras
nas paredes que pareciam recuar
sobre trilhos fluidos.
Pensei que fosse a vertigem final
surgida assim, estúpida, simplificada,
de dentro de mim.
Mas não era. E permaneci
no centro eqüidistante
aos meus quatro cantos.
Então, meus pés dançavam,
em espasmos sobre o chão já oblíquo,
alheios ao meu tronco rígido.
Quis expulsar o silêncio,
já enraizado na minha laringe
com um grito, um uivo, um vômito seco!
Em vão.
Devo permanecer sob as raízes dos meus cabelos.
Devo esquecer os meus sapatos cosmopolitas.
Colar o selos no íntimo dos envelopes.
Devo edulcorar os meus símbolos irascíveis.
E polir a prataria da memória com os forros dos meus bolsos.
Nasce o dia agora
(ou nunca, ao menos o esperado)
e ainda me vejo aqui
conforme a luz fraca da manhã
revela as ninharias
do meu degredo farsesco.
Meus olhos, ainda límpidos,
descarnam de vez o sono.
Monotipia s/ título - Marcantonio
domingo, 18 de abril de 2010
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