1
Como é bela
a página que se amarelou
atravessando tantos outonos.
Folha que não caiu,
como se permanecesse
entre a flora viva.
2
Algumas retiveram
a pálida silhueta
de marcadores
tardiamente removidos:
Involuntário rubor
pela dissidência do leitor.
3
Espremida entre as páginas,
mata-borrões da seiva viva,
a flor secou, trancada
na escuridão bidimensional.
Mas urdiu à força
uma ilustração intrusa
e temporal.
Monotipia s/ título - Marcantonio
No miolo dos livros e nas epifanias do poeta. Muito bom.
ResponderExcluirSão tantas as memórias guardadas no âmago do livro, que o coração do escritor pulsa nas folhas. A arte compõe como a completude de esferas.
ResponderExcluirabraços
As páginas amarelas contam estórias que nunca vão morrer, se forem transferidas para as cabeças das pessoas em tempo.
ResponderExcluirBjo.
Marequinho, aqui o artista plástico se une ao poeta, e o efeito, no poema, é muito bom.
ResponderExcluir"...a flor secou, trancada
na escuridão bidimensional.
Mar urdiu à força
uma ilustração intrusa
e temporal."
O máximo isso!!!
Abraços
Rodrigo, muito obrigado. Dê uma certa forma você fez um link, não é? (Rs). Que seria de nós sem as epifanias que nos assombram e intrigam? Digamos, no miolo da vida as epifanias dos poetas!
ResponderExcluirGrande abraço.
Mai, essa relação entre autor e obra dá sempre o que falar. Podemos ver a obra, talvez, como um sítio devoluto do qual o autor se apossou, no qual trabalhou a terra,e de onde se ausentou, esquecendo definitivamente o caminho de volta. Para completar, sente que suas terras foram desapropriadas para fins de reforma agrária! Ainda bem! Sério, o coração é posto em tudo, mas não deixa vestígios tão nítidos como as digitais.
ResponderExcluirAbraço.
Kenia, realmente. E há uma espécie de militância ecológica em favor dos livro quando desdobramos a leitura que fazemos deles. E é espontânea!
ResponderExcluirQue a sua simpatia retorne sempre aqui.
Beijão.
Tânia, você me fez lembrar do dito de Horácio (caramba!), "ut pictura poesis" (a poesia é como a pintura). Idéia que não se aceita mais, é claro. Mas tudo são imagens com texturas diferentes, né? As da poesia com um foco mais impreciso e, talvez, mais fecundo. No meu caso, acho que o artista plástico reclama, por antiguidade, direitos sobre o poeta suspeito.
ResponderExcluirAbraços.
Marco, acho que poeta é poeta, seja qual for o canal de expressão. Poeta é poeta até mudo. Um olhar versifica tanto, né não?
ResponderExcluirAh, olha lá, que meu novo post ofereci a você!
abraços
No miolo dos livros eu sempre encontrei o pão, meu sagrado alimento. abraço
ResponderExcluirTânia, você está certa. A poesia é o substrato e a meta de toda linguagem artística. Nossa! E como o olhar versifica!
ResponderExcluirA sua homenagem me emociona.
Um abraço, querida.
Olá Assis, e certamente esse alimento faz parte do metabolismo que mantém viva a sua poesia. Essa admirável poesia que você irá dividir conosco em mil e uma ceias.
ResponderExcluirAbração.
Um aparte:
ResponderExcluirDiz você em seu perfil,ser um pessimista esperançoso,eu que sempre me disse ser uma otimista compulsiva,ficava pensando pq se otimista sou,estou sempre sendo acometida por cismares e melancolias.Encontrei aqui a resposta.
Não sou otimista nada,sou uma pessimista que teima em ter esperança.......assim como você.
Gostei deveras daqui
Volto......pra te ler "inteiro"
afagos
Que belezura !
ResponderExcluirMarcantonio
ResponderExcluirAdoro páginas amareladas! Parece que contam histórias mais vividas... E, talvez, eu legisle em causa própria...rsrsrs...
Lindos versos! lindos!
Um forte abraço
Denise,o pessimista esperançoso, pra mim, é aquele que julga que tudo é incerto, para o bem e para o mal. Não quer controlar o acaso,mas se reserva a possibilidade casual de ser desmentido pela ocorrência de coisas boas, como a sua visita aqui, por exemplo.
ResponderExcluirVolte sim. E obrigado.
Um abraço
Sim, Zélia, elas amarelam porque permanecem vivas, contando histórias do que sempre fomos.
ResponderExcluirRetorne sempre, com a sua simpatia e jovialidade!
Outro forte abraço.
Olá Cris! Seja bem-vinda!
ResponderExcluirObrigado.
Abraço.
Marcantonio, se teu filho já está conhecendo o Cure... então vai ser dos nossos..rs... coisa boa encontrar coincidências ao acaso...
ResponderExcluirTudo aqui é bonito!
ResponderExcluirUm abraço!
É, Sonia, e ele tem talento musical. Quanto a mim, como testemunha auricular da época (rs),não há como esquecer o Cure, mas atualmente estou mais para ouvir outras coisas, como o Villa-Lobos, por exemplo, de quem você tão bem falou.
ResponderExcluirAbraço.
Olá Inês!
ResponderExcluirÉ tudo ensaio por aqui. Que bom que você tenha gostado.
Outro abraço!
Maravilha Marcão!
ResponderExcluirSão por essas e outras que eu acho esses leitores de e-books (kindle e iPad) tão frios...
Eles não nos permitem experiências desse tipo! Dá pra cheirar um livro, mas não dá pra cheirar uma máquina...
Grande abraço!
É, Fouad, pode até ser que para o autor, ou para o leitor que se pretende objetivo, o livro seja apenas conteúdo. Mas para o leitor mais sensível ele possui outros apelos sensórios que também geram memórias. Mesmo que a máquina tivesse cheiro, seria o mesmo cheiro para todas as edições, né? Perderíamos essa identidade física dos exemplares.
ResponderExcluirAquele abraço!
menino, que coisa linda foi esta ? "Posérpina deve ter adormecido mármore e despertado carne..." . dá nome pra livro, pra poema, pra nova obra... lindo lindo... depois vou usar no blog (com os créditos à ti, mas vou usar...)
ResponderExcluirOi Sonia. Sei lá, saiu na hora. Deve ser a beleza da escultura de Bernini. Da forma que você a mostrou, de fato, perece de carne e osso. Fique à vontade para usar.
ResponderExcluirAbraço.