ENTRE SÍTIOS (9)
(Para Dado Pedreira e seu
Alguma Poesia)
Acordado e ainda incrédulo,
o poeta mira a poesia una
que desvaria na palavra sonho.
Mas a árvore logo adormece,
célula amarela na folha seca,
e uma pluma pousa
no ombro do poeta
para recompor um pássaro.
A PALAVRA FIXADA.
A solarização
Saturada do papel
Ocultou a palavra.
Fecho a janela,
Franzindo os olhos,
Para revelá-la.
É tarde.
Fixou-se
Em desnaturada
Solidão
De fera
Ou deusa.
A EXONERAÇÃO DO PÁSSARO
Pássaro, pássaro
nunca mais te farei
voar
como metáfora;
nem te abrirei
os braços
do poema
como galhos
para pousares
em canto,
pois no meu poema
só há desencanto
que o silêncio
vai comprimindo.
Eu te espanto
de todos os meus
poemas,
pássaro!
Não te abrirei ali
janelas
com parapeitos
feitos de sol:
as aberturas do meu poema
voltam-se para a noite
arredia
e desenluarada.
A incidência do teu vôo
nesses céus
não seria contrastada.
Pássaro,
vai-te daqui
com todas as outras
asas!
E as de anjos,
de borboletas,
libélulas,
de cavalos alados.
Vai-te com todos os insetos
preclaros,
com todo o zunido do dia!
Vai pássaro,
eu te solto
ao largo
do poema,
essa gaiola sem vagas,
esse jardim de antúrios
frios.
Eu te demito
das tuas obrigações poéticas
por saber, enfim,
que a liberdade
também é bruta carga
para as tuas frágeis asas,
e não és Atlas itinerante!
Pois tu, pássaro,
assim como o poeta,
te encarceras nos limites do dia
que, mesmo aéreo,
não é senão
pouso
forçado.
Miró - Personagem Atirando uma Pedra em um Pássaro
sábado, 17 de julho de 2010
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Estou tão impressionada com esse pássaro noite que não consigo nem falar...
ResponderExcluirtodo pássaro na viagem ao poético
ResponderExcluir:)
bjs
O lirismo na poesia ao Ribeiro é de fazer as folhas amareladas aguentarem presas aos galhos até após o mais forte redemoinho. Merecida homenagem, admiro muito o poeta.
ResponderExcluirOs pássaros que consegui colocar na minha poesia são os de origami, até agora não tive coragem de sacrificar nenhum vivo. Pensei nisso nesses seus poemas que dão vida às dobraduras (e letras) no papel.
Beijo.
O entre sítios alado e a exoneração do pássaro, rapaz tu me lembraste tantas coisas com esse canto. Vou ficar empoleirado e espiando.
ResponderExcluirabração
"A Exoneração do Pássaro" é uma poesia no profundo sentido da palavra. Parabéns!
ResponderExcluirMaravilha, Marcantonio!
ResponderExcluirTudo!
Dado Pereira merece todas as homenagens do mundo e mais algumas...
"A exoneração do pássaro" é genial... Simplesmente...
Enorme abraço, meu amigo!
Do blog da Mai caí aqui. Fui lendo, lendo e a leitura foi se dando com prazer. Gostei especialmente da exoneração do pássaro, muito bonito este poema, leitura boa.
ResponderExcluirA exoneração do pássaro!
ResponderExcluirTraz um místico encanto. Forte, a imagem poética, porém, realista e reflexiva.
Parabéns, Marcantonio!
Abraços
Mirze
Marcantonio, mesmo sendo poesia, não me conformo com o destino desse pássaro.
ResponderExcluirAndo triste, Marquinho, e esse pássaro banido fez um alarido danadao na minha tristeza. Mas o poema é tão bonito, menino, que a gente fica com uma trisreza alegre até.
ResponderExcluirBelíssimo, Marquinho! Belíisimo!
Belo poema pra o Dado, merecido,mas esse Pássaro, meu caro...ah, esse pássaro!
Abraço,
Belos poemas, plenos de conteúdo altamente poéticos.
ResponderExcluirMarco, bela a homenagem ao Ribeiro, a poesia dele tem gosto bom. Adorei a imagem da pluma que pousa para recompor um pássaro.
ResponderExcluirpor falar em pássaro, acho que nem posso falar da "exoneração", é muito forte; e belo, sem dúvida...mas, ai... é o que posso dizer quando o leio...ai!
um beijo.
pássaro?
ResponderExcluire eu que não me solto...
eu que matei 3 de estilingue (rolinha, tiziu e andorinha), menino de interior (escrevi isso hoje pra zélia... eu sei que vou pro inferno e já me ardem os pés...rs)
o poema A EXONERAÇÃO DO PÁSSARO é pra ser recitado (e não dito), em voz alta. arrebatado.
como naquelas interpretações de maria bethania.
marquinho... e o que dizer de miró? você, que entende do riscado, diga-me: juan miró pintava ou "rabiscava" lindo demais?
eu sei o que sei.
eu que não entendi porranenhuma (rs) de artes plásticas. mas acho lindo o jeito que ele "rabiscava".
onde miro miró não miro um rastro de pincel.
vejo um traço.
beijão, poeta.
r.
Destruidores. Desde que eu cheguei por aqui, sério, dá orgulho em saber que a poesia é bem cuidada nas suas mãos. Joan Miró ainda veio como uma luva para o post. Parabéns, camarada!
ResponderExcluirDesencanto não é palavra para a sua poesia. Isso não mesmo. Que um pássaro só seja visto durante o dia ainda não significa que ele não exista à noite, não arranque-lhe as asas! Ele tem carregado a magia de suas palavras de sol a sol, e iluminado os rostos de quem te visita.
ResponderExcluirMarco, Marco, leio tantas coisas fantásticas aqui que me deixam sem fôlego. É impossível eleger a linha mais bela, A exoneração do pássaro é das coisas mais belas, duras e reais que eu já li. Obrigada por compartilhá-la.
Beijo sempre sempre carinhoso! =*
confesso que voei...
ResponderExcluiragora só me resta pedir que voe até o meu sítio.
↓
ResponderExcluirNesta revoada,
no fundo(a) caça-se poesia!
Oi Marcantonio,
ResponderExcluirVim do "alguma poesia" e li a retribuição antes de ler a homenagem... rss
Ambas belas.
Ainda bem que exonerastes os pássaros, pois já não consigo enxergá-los com olhos de poesia.
Pouso forçado.
bjs
Rossana
Marcoantonio;
ResponderExcluirLindo! "... Eu te demito das tuas obrigações poéticas
por saber, enfim,que a liberdadetambém é bruta carga
para as tuas frágeis asas,e não és Atlas itinerante..." Bela homenagem! Poesia que faz com que 'nos' percebamos com multipla atenção. Somo revoadas, universos únicos com o livre arbítrio de escolher nosso voo, pouso... Amei visitá-lo. Sempre que passeio pela sua Casa há um aprendizado para levar para minha e 'mediatar' sobre. Seja bem vindo semre que desejar me visitar também.
com amor e carinho
Sílvia (a ex-silminha rsrsrs)
http://www.silviacostardi.com/
Teus poemas falam de asas, de liberdades, de Fênix que se reinventa ao sabor de ventos poéticos.
ResponderExcluirSupremo!
Abração, Marcantonio.
A P L A U S O S !
ResponderExcluirSer poeta e aventurar-se pela escrita das idéias e emoções que são esse eu, esse nós que é habitado pelas venturas e desventuras.
Ambas são inerentes aos ser em sua existência e que a traduz em palavras e imagens.
Parabéns poeta
Salete
Tuas pedras passarinham Marco!
ResponderExcluirFoi por isso que o "Pedreira" avoou...
Ótima temática
baianim merece!
Abração!
Em êxtase!
ResponderExcluirAqui vibra a verdadeira poesia.
Aplausos, Marcantonio. A poesia pede passagem.
ResponderExcluirAbração.
apoio incondicionalmente a exoneração dos pássaros desse lugar de privilégio que ocupam na poesia. é um pouco o que sucede com os cargos: se exercidos vitaliciamente, geram tiques e truques que subvertem as lógicas que lhes subjazem.
ResponderExcluirabaixo o pássaro! abaixo as asas! abaixo o voo! queiramos passar rente às coisas, perscrutando os seus silêncios e tocando, ao de leve, nos seus orvalhos nocturnos. quem sabe, assim, aprendemos, um dia, a voar?...
um abraço, poeta amigo!
Bípede, nem sei o que dizer...
ResponderExcluirLuiza, mesmo banido ainda é pássaro. Pássaro insistente. Obrigado pelo retorno.
ResponderExcluirBeijo.
Lara, realmente o Ribeiro é poeta dos bons. Com relação aos pássaros, será que todos os pássaros em poemas não são como origamis?
ResponderExcluirObrigado, Lara.
Beijo.
Assis, e não é estranho? Ponho o pássaro num poema e o expulso de outro. Mas, recompor um todo a partir da mínima sensação é coisa de poeta.
ResponderExcluirAbração!
Reiffer, rapaz, obrigado.
ResponderExcluirUm abraço.
Ô Zélia, obrigado por seu carinho, e por suas considerações!
ResponderExcluirGrande abraço!
Dauri, seja bem-vindo. E obrigado, se eu consigo provocar o prazer da leitura me sinto recompensado.
ResponderExcluirUm abraço.
Mirze, agradeço muito as suas palavras e a sua presença sempre simpática.
ResponderExcluirAbraços.
Bípede, esse pássaro realmente a impressionou, né? E eu fiquei impressionado com a sua reação. Será que o que escrevi não é apenas poesia?
ResponderExcluirAbraço.
Marcantonio
ResponderExcluirLindo cantar!
Voei junto, sem nenhum um piu!
Linda homenagem, o Ribeiro merece!
Bjs
Ô Tânia, eu também ando triste, e um tanto cansado das metáforas aladas; mas a tristeza é também um pássaro que nos deixa e retorna e volta a nos deixar, assim, como a sintetizar temporadas.
ResponderExcluirMas acho que você definiu algo importante quando fala dessa tristeza alegre diante da beleza. Não sei se é o caso aqui. Mas costumo sentir coisa semelhante, a confirmar aquela asserção de que sem a arte a vida seria insuportável.
Abraços, Tânia.
Gerana, obrigado.
ResponderExcluirUm abraço.
Ô Andrea, e precisa dizer mais? Imagino saber o que esse "ai" quer dizer.
ResponderExcluirBeijo.
Ô Roberto, eu acho o Miró um poeta domador de linhas. E com elas ele faz todo um universo desconcertante, costelações, floras, faunas, e tanto mais! Quando fiquei diante de alguns trabalhos dele, gravuras em sua maioria, tive uma espécie de compreensão total que nenhuma palavra poderia explicar. Grande artista. E já reparou nos títulos das obras dele?
ResponderExcluirGrande abraço, Roberto!
Fred, rapaz, obrigado. Ela também é bem cuidada nas suas mãos.
ResponderExcluirGrande abraço.
Kenia, que bonito o que você deixa aqui com essas palavras. Eu nem sei o que dizer. Posso dizer sim que tenho tido momentos de grande alegria e alumbramento acompanhando você e tudo o que escreve, de forma que posso intuir a pessoa especial que você é.
ResponderExcluirBeijão.
Ribeiro, eu voei rapidamente para lá, e foi um espanto. Obrigado, rapaz!
ResponderExcluirGrande abraço.
Tonho, sem dúvida, é o que a gente tenta caçar: poesia e quimeras!
ResponderExcluirAbração!
Rossana, obrigado. Estamos em crise com os pássaros.Rs
ResponderExcluirBeijo.
Sílvia, obrigado por suas palavras sempre estimulantes e carinhosas. Estou sempre acompanhando as suas postagens no Mínimo Ajuste, e irei sim visitá-la no seu próprio blog.
ResponderExcluirAbraço carinhoso, Sílvia.
Ô Paulo Jorge, obrigado. A sua passagem por aqui é sempre uma honra para mim.
ResponderExcluirGrande abraço!
Salete, eu agradeço a sua vinda e essas palavras estimulantes que você aqui deixa. Obrigado, mesmo.
ResponderExcluirAbraço.
Grande Fouad! Bom ver você aqui. Muito boa aquela do Patativa do Assaré.
ResponderExcluirAbração!
Cris, obrigado. Tomara ela vibre sim, aqui e alhures!
ResponderExcluirBeijo.
José Carlos, obrigado. Palavras importantes para mim, sobretudo porque vindas de um poeta como você.
ResponderExcluirAbração.
Jorge, você disse tudo. Atingiu em cheio o coração do poema e lhe desvelou a intenção. Perfeito. Obrigado pelo apoio nessa cruzada antiaérea. Rs.
ResponderExcluirE aquele seu Negativo Fotográfico, hein! Fantástico!
Abração, poeta.
Os pássaros estão por toda parte, ao vivo ou em metáforas muito à mão, apesar das asas. O mundo não seria o mesmo sem eles, nem os poemas. Precisamos deles, mesmo que seja para espantá-los. Um lindo poema, Marcantonio.
ResponderExcluirAbraço grande.
Wania, obrigado.
ResponderExcluirBeijo.
Dade, obrigado. Não gosto nem de imaginar a possibilidade de um mundo sem pássaros! Adorei esse "em metáforas muito à mão, apesar das asas"!
ResponderExcluirAbraço!
Não será a poesia uma forma tolerável de explicar e aceitar a verdade?
ResponderExcluirPorque um pássaro feito de letras pode voar muito mais alto e por mais tempo que um feito de asas.
Talvez, Bípede. Mas, o que é a verdade? Ainda bem que você usou os termos "explicar" e "aceitar", porque mantém aberta a possibilidade da verdade ser algo inventado, ou convencionado. Para mim a poesia (melhor, a arte)faz parte da busca da 'minha' verdade; o fato de mostrá-la é recurso de teste, como se eu escrevesse ou pintasse sobre papel carbono deixando um rastro minimamente objetivo pelo qual o outro pode me certificar de que a minha busca não é um desvario, ou uma forma de autismo. Algo como subir ao telhado para ajeitar a antena, se valendo da observação daquele que ficou diante da TV: e aí? Melhorou? Está dando para ver alguma coisa? Como está a imagem? (na era da tv digital esse exemplo parece datado, rs)
ResponderExcluirMas, é verdade: não há como expulsar esse pássaro feito de letras. No fundo eu não o expulsei, eu o convoquei!
Obrigado, Bípede.
Nossa, onde vc andava? Senti cada desvio desse pássaro, que poesia forte, quan to coração!
ResponderExcluirWalkyria, eu andava por aí, por aí, por fora da blogosfera, exercitando este coração. Rs.
ResponderExcluirObrigado.
Um abraço.