Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

terça-feira, 27 de julho de 2010

Um ENTRE SÍTIOS e Outros Poemas



ENTRE SÍTIOS (10)

(Para Zélia Guardiano e seu Ad litteram)

Uma onda de humanismo
Espraia-se,
Não aos pés,
Mas sobre o corpo inteiro
Da LETRA.


APARENTEMENTE

Estou estendido no meu cotidiano
Como um faquir sobre uma cama
De pregos.

Os outros se iludem a respeito
Dos meus próprios riscos.


CORTANDO DA PRÓPRIA CARNE

Se fogem da paisagem as estradas,
A uniformidade torna a busca impossível.
Um suspiro desiste de exalar-se
Arraigando-se nas câmaras pulmonares
De onde pressiona o coração precipitado.

E os olhos
(apavorados com a própria obsolescência)
Tornam-se autográficos,
Consumindo a reserva de delírios
Situada por detrás das retinas.


SEM TÍTULO

Eu pretendia
dizer-te algo
que ninguém
jamais disse.
Mas não seria
precisamente
nada dizendo
que o não dito
eu te diria?

Assim,

se eu ombrear o meu silêncio
com o teu silêncio,
aguarda, de olhos postos em mim,
as mãos pendidas,
o peito desarvorado,
até que o pronome eu
entre nós se faça invisível.

Terá nos dito algo, o amor
que a palavra tornara
intraduzível.


EM DÚVIDA PROVERBIAL

A

Quem chora primeiro chora melhor?

B

De grão em grão o homem preenche os fatos:
{a b c d e f g h i j k l m n o... O 1 2 3 4 5 6 7 8 9}

C

Os últimos e os primeiros ocuparão
A mesma (trans)posição.

40 comentários:

  1. Ah, como eu adoro a Zelinha! Poetisa primorosa, toca fundo nossa alma, escreve de coração, de corpo inteiro. Que bom vê-la homenageada pelo melhor poeta em tecer carinhos na blogosfera.

    Aparentemente é tão comum ver a dor estampada nos outros, que as marcas não assustam mais. Corremos dentro de nossos próprios riscos.

    Cortaste minha pupila, traduzindo o indizível em tantos versos bem trabalhados.
    Deixo-te um pedaço do meu ser aqui.

    Grande abraço.

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  2. Adorei o poema, mas amo tudo que se relaciona a Horowitz, esse é poeta dos dedos!

    Um abraço.

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  3. E os olhos
    (apavorados com a própria obsolescência)
    Tornam-se autográficos,
    Consumindo a reserva de delírios
    Situada por detrás das retinas.

    (que maravilha isso dito!)

    Mas o Sem Título me toca especialmente agora...Todo.
    Beijos, Marquinho

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  4. bela a homenagem à querida Zélia! poetisa de tanta delicadeza, de tanta sensibilidade.

    os olhos autográficos e seus delírios, prenderam meu olhar

    mas esse sem título...ahh, esse tomou-me de assalto, por inteiro..."ombrear o meu silêncio com o teu silêncio" é uma das imagens mais lindas que eu já vi.

    Beijo, Marco! (poeta que não se sabe...rs)

    ah! eu acho que quem chora primeiro chora melhor sim.

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  5. o poema 'sem título' é maravilhoso... se me der licença vou publicar no Literapura com os devidos créditos.
    abraço ;)

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  6. marcantónio, a zélia é das pessoas mais singulares deste nosso círculo (porque tenho dificuldade em seleccionar um dos termos caracterizadores, cá vão os dois) poético e amigo. a sensibilidade que lhe escorre da mão não está apenas na tinta carmim; vem de dentro, daquele lugar imo a que poucos acedem (mesmo que, por hipótese todos o tenham) e a que só alguns eleitos logram chegar. caro amigo, homenagem belíssima, bem escolatada por uma carne sem título aparentemente esventrada em nome do génesis... proverbial.
    um forte abraço, poeta amigo!

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  7. marcantónio, a zélia é das pessoas mais singulares deste nosso círculo (porque tenho dificuldade em seleccionar um dos termos caracterizadores, cá vão os dois) poético e amigo. a sensibilidade que lhe escorre da mão não está apenas na tinta carmim; vem de dentro, daquele lugar imo a que poucos acedem (mesmo que, por hipótese todos o tenham) e a que só alguns eleitos logram chegar. caro amigo, homenagem belíssima, bem escolatada por uma carne sem título aparentemente esventrada em nome do génesis... proverbial.
    um forte abraço, poeta amigo!

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  8. Marcantonio querido!

    Adoro esta fartura poética que encontro cada vez que venho aqui te ler!

    Gosto muito da Zélia, ela é um docinho. Um docinho que faz poesias mais doces ainda! Ela sabe como ninguém traduzir as LETRAS dos pés a cabeça!

    Lindo tb é o teu APARENTEMENTE, só eu sei onde se deita o meu cotidiano...os outros se iludem pela aparência, substimam os meus riscos. Que coisa linda isso, uma verdade traduzida em poesia das mais belas que já li!


    E não posso deixar de comentar este verso que tb me calou fundo:

    se eu ombrear o meu silêncio
    com o teu silêncio,
    aguarda, de olhos postos em mim,
    as mãos pendidas,
    o peito desarvorado,
    até que o pronome eu
    entre nós se faça invisível
    .

    Amor é isso, faz sumir os EUs!



    Lindo, tudo lindo para começar o meu dia!
    Que esta mesma energia embale as tuas horas!

    Um beijo pra Zélia e outro pra ti.

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  9. Amigo Marcantonio
    Fiquei aqui, um longo, longo tempo tentando escolher palavras, mas elas me fugiram... Tímidas, se esconderam, de maneira que só me resta o chavão: Muito Obrigada! Mas um Muito Obrigada provindo do sítio mais profundo
    de minh'alma...
    No mais, tudo aqui , perfeito! Se tivesse de escolher um poema, ficaria com todos...
    Enorme abraço, todo entrelaçado com fios de gratidão...

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  10. juro que me perdi na poesia da música deste Vladimir, pianista. tenho um disco com ele interpretando os Improvisos de Schubert, um espetáculo. E olhando para as mãos desse mestre senti-me tocado a fazer analogia com os versos da Zélia: produzem sons e carinhos. Já as tuas mãos de cores, artista múltiplo, se encarregam de por luz nos mistérios tão singelos da amizade,


    abração

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  11. canções para a guardiã da poesia e de um humanismo raro.
    Zélia é simplesmente isso.
    E você, Marcantônio, sempre além das preces.
    Abraço forte.

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  12. Marcantonio, o teu "Aparentemente" foi o balsamo que faltava!
    Beijos
    Laura

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  13. Vladimir, li teu poemas ao som dele, então teus versos ganham gravidade.

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  14. Zélia poetisada por Marcantonio.
    É das profundas da alma.
    SEM TÍTULO também carrega cargas de poesia.
    Enfim, tudo dentro da (a)normalidade marcantoniana.
    Aplauso!

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  15. Putz! O meu comentário se perdeu de novo! Eu esqueço as malditas letrinhas. Você não achou o que dizia que quem chora primeiro usa um lencinho limpo, Marcantonio?
    E algumas coisas mais que agora não lembro :(

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  16. Marcantonio,

    vim aqui não só parabenizá-los como também para pedir seu aval para repostar o poema Moscas em um outro blog que mantenho, o Cronisias (cronisias.blogspot.com), é possível? Grande abraço!

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  17. Meus caros amigos, excepcionalmente não responderei de maneira individual a todos os comentários. Estou meio enrolado. Agradeço muitíssimo as visitas e a atenção sempre carinhosa.

    Grande abraço a todos!

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  18. Querida Zélia, é uma homenagem sincera. Aprecio muito a sua escrita que classifico como luminosa, e a forma com que você procura nos estimular a todos. O humanismo é mencionado porque não consigo imaginá-la postando algo contaminado de profundo pessimismo, ou com tendências obscuras. É, pelo contrário, uma clareza humana que parece movê-la, atenta ao essencial, e com o olhar arguto de quem percebe a complexidade por trás das coisas aparentemente simples.

    É sempre prazeiroso ler as transformações alquímicas que você produz.

    Grande e terno abraço.

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  19. Sabe o que me fez gostar daqui?
    A singeleza da pequenez de detalhes...mas tão grande em sabedoria...

    Bjs....Dina

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  20. q belo post...os poemas belíssimos, especialmente o que diria do amor, a música, tudo vale a pena aqui...

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  21. Meus olhos passeiam sobre seus versos; tropeço ali e aqui nas pedras das minhas reflexões. E agradeço por isso.

    Hoje não quero ir-me daqui sem dizer-lhe o quanto apreciei o "Sem Título". Um encantamento. Sigo aprendendo muito com você, poeta.

    Quanto à poesia da Zélia, não faz muito tempo que a conheci. E os versos que dedicou a ela dizem muito do que senti lendo alguns dos seus poemas. Bela homenagem, Marco!

    Bjs e inté!

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  22. Marcantonio,
    passei pra agradecer teu comentário lá, porque é de uma sensibilidade e percepção incríveis.
    valeu ;)

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  23. Tudo muito bonito, mas o poema "sem título", é o titular.
    bjs.

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  24. Também adoro visitar Zélia e seus poemas. Bjo para Zélia.
    Marcantonio: "Sem título", talvez por não ter título, sentiu-se obrigado a ser o destaque.

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  25. Vim ver só um...

    Diversidade!
    Versátil poeta... G-nio!

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  26. Ei Marco Antonio,
    ja te sigo com meus outros blogs,
    mas quero reafirmar que adoro
    te ler.
    So hj vi que é do RJ?
    Hunnn...
    Mas tambem venho de apresentar meu novo espaço, caso goste de ler contos e cronicas,
    Lindo domingo pra nós.
    Bjins entre sonhos e delírios

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  27. Assis, meu querido amigo
    Meu coração derrete e escorre, em caudaloso rio de gratidão, até você que,
    além de ser tremendo poeta , é também o amigo que todos gostariam de ter!
    Enorme abraço!!!

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  28. Larinha querida
    Você sabe: o próximo é o nosso espelho...
    Obrigada, minha querida, pelas palavras sempre generosas! Já lhe disse isto N vezes, mas não é demais, nunca...
    Enorme abraço, minha poetisa-mor!!!

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  29. Obrigada, muito obrigada, Andrea querida, pelas palavras, estas sim,feitas de delicadeza e de sensibilidade...
    Beijo, amiga!

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  30. Ribeiro, meu querido amigo e grande poeta
    Você mora dentro do meu coração. Tem um lugarzinho cativo...
    Sabe disfarçar o imenso talento que tem, com uma simplicidade invejável! É isso que faz a diferença...
    Grata pelas palavras tão amáveis!
    Enorme abraço

    PS- E sobre o que diz de Marcantonio, assino embaixo mil vezes!

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  31. Jorge, Jorge, Jorge...
    Você me deixa muito emocionada! Muito!
    O carinho coloca-lhe nos olhos umas lentes que acrescentam, àquilo que é prosaico, efeitos especias...
    Fico-lhe imensamente agradecida, meu amigo tão querido e extraordinário poeta!
    Receba enorme abraço, todo revestido com a admiração que tenho por você!!!

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  32. Paulo Jorge
    Não sei como é que meu velho coração resiste...
    Você acha que dá pra aguentar uma emoção assim? Ser homenageada pelo Marcantonio, ele sim, merecedor de todas as homenagens...
    Marcantonio e Paulo Jorge, grandes poetas e meus grandes amigos: Obrigada!!!
    Abraços

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  33. Obrigada, Ju, pela impressão favorável!
    Marcantonio sabe tocar a alma da gente...
    Abraço

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  34. Oh, Wania, minha querida
    Você, sim, é um docinho...
    Escreve lindamente!
    Obrigada!!!
    Abraço...

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  35. Olá, desculpe invadir seu espaço assim sem avisar. Meu nome é Fabrício e cheguei até vc através do Blog Teatro da Vida. Bom, tanta ousadia minha é para convidar vc pra seguir meu blog Narroterapia. Sabe como é, né? Quem escreve precisa de outro alguém do outro lado. Além disso, sinceramente gostei do seu comentário e do comentário de outras pessoas. Estou me aprimorando, e com os comentários sinceros posso me nortear melhor. Divulgar não é tb nenhuma heresia, haja vista que no meio literário isso faz diferença na distribuição de um livro. Muitos autores divulgam seu trabalho até na televisão. Escrever é possível, divulgar é preciso! (rs) Dei uma linda no seu texto, vou continuar passando por aqui...rs



    Narroterapia:

    Uma terapia pra quem gosta de escrever. Assim é a narroterapia. São narrativas de fatos e sentimentos. Palavras sem nome, tímidas, nunca saíram de dentro, sempre morreram na garganta. Palavras com almas de puta que pelo menos enrubescem como as prostitutas de Doistoéviski, certamente um alívio para o pensamento, o mais arisco dos animais.


    Espero que vc aceite meu convite e siga meu blog, será um prazer ver seu rosto ali.


    Abraços

    http://narroterapia.blogspot.com/

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  36. obrigada pela presença!

    espaço de palavras bonitas.
    voltarei mais vezes!

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  37. A Zélia é uma querida, de uma sensibilidade extrema, que nos toca com louvor. E tu, Marcantonio, além de generoso, és genial.

    Beijos nos dois.

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  38. Bem, como é que eu vou dizer isso aqui?!!... Marco, você publica tanta coisa incrível ao mesmo tempo que eu nem sei por onde começar a comentar, e mais importante do que isso é que o comentário vira praticamente um livro, e tratando-se de mim, um livro ainda cheio de inutilidades (porque eu não sei demonstrar meu carinho e admiração pelo trabalho dos outros sem o exagero sincero característico da minha pessoa!)...

    Vamos pelo começo então: gostei demais, de tudo, mas duas coisas em especial, vão ficar na minha cabeça essa semana: o APARENTEMENTE e o SEM TÍTULO.

    O primeiro deles porque reflete com tanta simplicidade e veemência o inferno Sartreano, o tipo de 'texto filosófico' que eu acho que tem mais impacto, algo compreensível para os mais diversos tipos de pessoas. Brilhante!!!

    O segundo, porque é bem o que eu penso de amor às vezes, silêncio. Coisa mais linda.

    Obrigada por compartilhar sempre. Beijão!

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  39. Li e reli os poemas. Sensibilidade no trato com as palavras, poemas que querem - ou oferecem - muito.
    Grande abraço.

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