ENTRE SÍTIOS (10)
(Para Zélia Guardiano e seu Ad litteram)
Uma onda de humanismo
Espraia-se,
Não aos pés,
Mas sobre o corpo inteiro
Da LETRA.
APARENTEMENTE
Estou estendido no meu cotidiano
Como um faquir sobre uma cama
De pregos.
Os outros se iludem a respeito
Dos meus próprios riscos.
CORTANDO DA PRÓPRIA CARNE
Se fogem da paisagem as estradas,
A uniformidade torna a busca impossível.
Um suspiro desiste de exalar-se
Arraigando-se nas câmaras pulmonares
De onde pressiona o coração precipitado.
E os olhos
(apavorados com a própria obsolescência)
Tornam-se autográficos,
Consumindo a reserva de delírios
Situada por detrás das retinas.
SEM TÍTULO
Eu pretendia
dizer-te algo
que ninguém
jamais disse.
Mas não seria
precisamente
nada dizendo
que o não dito
eu te diria?
Assim,
se eu ombrear o meu silêncio
com o teu silêncio,
aguarda, de olhos postos em mim,
as mãos pendidas,
o peito desarvorado,
até que o pronome eu
entre nós se faça invisível.
Terá nos dito algo, o amor
que a palavra tornara
intraduzível.
EM DÚVIDA PROVERBIAL
A
Quem chora primeiro chora melhor?
B
De grão em grão o homem preenche os fatos:
{a b c d e f g h i j k l m n o... O 1 2 3 4 5 6 7 8 9}
C
Os últimos e os primeiros ocuparão
A mesma (trans)posição.
Ah, como eu adoro a Zelinha! Poetisa primorosa, toca fundo nossa alma, escreve de coração, de corpo inteiro. Que bom vê-la homenageada pelo melhor poeta em tecer carinhos na blogosfera.
ResponderExcluirAparentemente é tão comum ver a dor estampada nos outros, que as marcas não assustam mais. Corremos dentro de nossos próprios riscos.
Cortaste minha pupila, traduzindo o indizível em tantos versos bem trabalhados.
Deixo-te um pedaço do meu ser aqui.
Grande abraço.
Adorei o poema, mas amo tudo que se relaciona a Horowitz, esse é poeta dos dedos!
ResponderExcluirUm abraço.
E os olhos
ResponderExcluir(apavorados com a própria obsolescência)
Tornam-se autográficos,
Consumindo a reserva de delírios
Situada por detrás das retinas.
(que maravilha isso dito!)
Mas o Sem Título me toca especialmente agora...Todo.
Beijos, Marquinho
bela a homenagem à querida Zélia! poetisa de tanta delicadeza, de tanta sensibilidade.
ResponderExcluiros olhos autográficos e seus delírios, prenderam meu olhar
mas esse sem título...ahh, esse tomou-me de assalto, por inteiro..."ombrear o meu silêncio com o teu silêncio" é uma das imagens mais lindas que eu já vi.
Beijo, Marco! (poeta que não se sabe...rs)
ah! eu acho que quem chora primeiro chora melhor sim.
o poema 'sem título' é maravilhoso... se me der licença vou publicar no Literapura com os devidos créditos.
ResponderExcluirabraço ;)
marcantónio, a zélia é das pessoas mais singulares deste nosso círculo (porque tenho dificuldade em seleccionar um dos termos caracterizadores, cá vão os dois) poético e amigo. a sensibilidade que lhe escorre da mão não está apenas na tinta carmim; vem de dentro, daquele lugar imo a que poucos acedem (mesmo que, por hipótese todos o tenham) e a que só alguns eleitos logram chegar. caro amigo, homenagem belíssima, bem escolatada por uma carne sem título aparentemente esventrada em nome do génesis... proverbial.
ResponderExcluirum forte abraço, poeta amigo!
marcantónio, a zélia é das pessoas mais singulares deste nosso círculo (porque tenho dificuldade em seleccionar um dos termos caracterizadores, cá vão os dois) poético e amigo. a sensibilidade que lhe escorre da mão não está apenas na tinta carmim; vem de dentro, daquele lugar imo a que poucos acedem (mesmo que, por hipótese todos o tenham) e a que só alguns eleitos logram chegar. caro amigo, homenagem belíssima, bem escolatada por uma carne sem título aparentemente esventrada em nome do génesis... proverbial.
ResponderExcluirum forte abraço, poeta amigo!
Marcantonio querido!
ResponderExcluirAdoro esta fartura poética que encontro cada vez que venho aqui te ler!
Gosto muito da Zélia, ela é um docinho. Um docinho que faz poesias mais doces ainda! Ela sabe como ninguém traduzir as LETRAS dos pés a cabeça!
Lindo tb é o teu APARENTEMENTE, só eu sei onde se deita o meu cotidiano...os outros se iludem pela aparência, substimam os meus riscos. Que coisa linda isso, uma verdade traduzida em poesia das mais belas que já li!
E não posso deixar de comentar este verso que tb me calou fundo:
se eu ombrear o meu silêncio
com o teu silêncio,
aguarda, de olhos postos em mim,
as mãos pendidas,
o peito desarvorado,
até que o pronome eu
entre nós se faça invisível.
Amor é isso, faz sumir os EUs!
Lindo, tudo lindo para começar o meu dia!
Que esta mesma energia embale as tuas horas!
Um beijo pra Zélia e outro pra ti.
Amigo Marcantonio
ResponderExcluirFiquei aqui, um longo, longo tempo tentando escolher palavras, mas elas me fugiram... Tímidas, se esconderam, de maneira que só me resta o chavão: Muito Obrigada! Mas um Muito Obrigada provindo do sítio mais profundo
de minh'alma...
No mais, tudo aqui , perfeito! Se tivesse de escolher um poema, ficaria com todos...
Enorme abraço, todo entrelaçado com fios de gratidão...
juro que me perdi na poesia da música deste Vladimir, pianista. tenho um disco com ele interpretando os Improvisos de Schubert, um espetáculo. E olhando para as mãos desse mestre senti-me tocado a fazer analogia com os versos da Zélia: produzem sons e carinhos. Já as tuas mãos de cores, artista múltiplo, se encarregam de por luz nos mistérios tão singelos da amizade,
ResponderExcluirabração
canções para a guardiã da poesia e de um humanismo raro.
ResponderExcluirZélia é simplesmente isso.
E você, Marcantônio, sempre além das preces.
Abraço forte.
Marcantonio, o teu "Aparentemente" foi o balsamo que faltava!
ResponderExcluirBeijos
Laura
Vladimir, li teu poemas ao som dele, então teus versos ganham gravidade.
ResponderExcluirZélia poetisada por Marcantonio.
ResponderExcluirÉ das profundas da alma.
SEM TÍTULO também carrega cargas de poesia.
Enfim, tudo dentro da (a)normalidade marcantoniana.
Aplauso!
Putz! O meu comentário se perdeu de novo! Eu esqueço as malditas letrinhas. Você não achou o que dizia que quem chora primeiro usa um lencinho limpo, Marcantonio?
ResponderExcluirE algumas coisas mais que agora não lembro :(
Marcantonio,
ResponderExcluirvim aqui não só parabenizá-los como também para pedir seu aval para repostar o poema Moscas em um outro blog que mantenho, o Cronisias (cronisias.blogspot.com), é possível? Grande abraço!
Meus caros amigos, excepcionalmente não responderei de maneira individual a todos os comentários. Estou meio enrolado. Agradeço muitíssimo as visitas e a atenção sempre carinhosa.
ResponderExcluirGrande abraço a todos!
Querida Zélia, é uma homenagem sincera. Aprecio muito a sua escrita que classifico como luminosa, e a forma com que você procura nos estimular a todos. O humanismo é mencionado porque não consigo imaginá-la postando algo contaminado de profundo pessimismo, ou com tendências obscuras. É, pelo contrário, uma clareza humana que parece movê-la, atenta ao essencial, e com o olhar arguto de quem percebe a complexidade por trás das coisas aparentemente simples.
ResponderExcluirÉ sempre prazeiroso ler as transformações alquímicas que você produz.
Grande e terno abraço.
Sabe o que me fez gostar daqui?
ResponderExcluirA singeleza da pequenez de detalhes...mas tão grande em sabedoria...
Bjs....Dina
q belo post...os poemas belíssimos, especialmente o que diria do amor, a música, tudo vale a pena aqui...
ResponderExcluirMeus olhos passeiam sobre seus versos; tropeço ali e aqui nas pedras das minhas reflexões. E agradeço por isso.
ResponderExcluirHoje não quero ir-me daqui sem dizer-lhe o quanto apreciei o "Sem Título". Um encantamento. Sigo aprendendo muito com você, poeta.
Quanto à poesia da Zélia, não faz muito tempo que a conheci. E os versos que dedicou a ela dizem muito do que senti lendo alguns dos seus poemas. Bela homenagem, Marco!
Bjs e inté!
Marcantonio,
ResponderExcluirpassei pra agradecer teu comentário lá, porque é de uma sensibilidade e percepção incríveis.
valeu ;)
Tudo muito bonito, mas o poema "sem título", é o titular.
ResponderExcluirbjs.
Também adoro visitar Zélia e seus poemas. Bjo para Zélia.
ResponderExcluirMarcantonio: "Sem título", talvez por não ter título, sentiu-se obrigado a ser o destaque.
↓
ResponderExcluirVim ver só um...
Diversidade!
Versátil poeta... G-nio!
Ei Marco Antonio,
ResponderExcluirja te sigo com meus outros blogs,
mas quero reafirmar que adoro
te ler.
So hj vi que é do RJ?
Hunnn...
Mas tambem venho de apresentar meu novo espaço, caso goste de ler contos e cronicas,
Lindo domingo pra nós.
Bjins entre sonhos e delírios
Assis, meu querido amigo
ResponderExcluirMeu coração derrete e escorre, em caudaloso rio de gratidão, até você que,
além de ser tremendo poeta , é também o amigo que todos gostariam de ter!
Enorme abraço!!!
Larinha querida
ResponderExcluirVocê sabe: o próximo é o nosso espelho...
Obrigada, minha querida, pelas palavras sempre generosas! Já lhe disse isto N vezes, mas não é demais, nunca...
Enorme abraço, minha poetisa-mor!!!
Obrigada, muito obrigada, Andrea querida, pelas palavras, estas sim,feitas de delicadeza e de sensibilidade...
ResponderExcluirBeijo, amiga!
Ribeiro, meu querido amigo e grande poeta
ResponderExcluirVocê mora dentro do meu coração. Tem um lugarzinho cativo...
Sabe disfarçar o imenso talento que tem, com uma simplicidade invejável! É isso que faz a diferença...
Grata pelas palavras tão amáveis!
Enorme abraço
PS- E sobre o que diz de Marcantonio, assino embaixo mil vezes!
Jorge, Jorge, Jorge...
ResponderExcluirVocê me deixa muito emocionada! Muito!
O carinho coloca-lhe nos olhos umas lentes que acrescentam, àquilo que é prosaico, efeitos especias...
Fico-lhe imensamente agradecida, meu amigo tão querido e extraordinário poeta!
Receba enorme abraço, todo revestido com a admiração que tenho por você!!!
Paulo Jorge
ResponderExcluirNão sei como é que meu velho coração resiste...
Você acha que dá pra aguentar uma emoção assim? Ser homenageada pelo Marcantonio, ele sim, merecedor de todas as homenagens...
Marcantonio e Paulo Jorge, grandes poetas e meus grandes amigos: Obrigada!!!
Abraços
Obrigada, Ju, pela impressão favorável!
ResponderExcluirMarcantonio sabe tocar a alma da gente...
Abraço
Obrigada Gerana, minha querida!
ResponderExcluirAbraço
Oh, Wania, minha querida
ResponderExcluirVocê, sim, é um docinho...
Escreve lindamente!
Obrigada!!!
Abraço...
Olá, desculpe invadir seu espaço assim sem avisar. Meu nome é Fabrício e cheguei até vc através do Blog Teatro da Vida. Bom, tanta ousadia minha é para convidar vc pra seguir meu blog Narroterapia. Sabe como é, né? Quem escreve precisa de outro alguém do outro lado. Além disso, sinceramente gostei do seu comentário e do comentário de outras pessoas. Estou me aprimorando, e com os comentários sinceros posso me nortear melhor. Divulgar não é tb nenhuma heresia, haja vista que no meio literário isso faz diferença na distribuição de um livro. Muitos autores divulgam seu trabalho até na televisão. Escrever é possível, divulgar é preciso! (rs) Dei uma linda no seu texto, vou continuar passando por aqui...rs
ResponderExcluirNarroterapia:
Uma terapia pra quem gosta de escrever. Assim é a narroterapia. São narrativas de fatos e sentimentos. Palavras sem nome, tímidas, nunca saíram de dentro, sempre morreram na garganta. Palavras com almas de puta que pelo menos enrubescem como as prostitutas de Doistoéviski, certamente um alívio para o pensamento, o mais arisco dos animais.
Espero que vc aceite meu convite e siga meu blog, será um prazer ver seu rosto ali.
Abraços
http://narroterapia.blogspot.com/
obrigada pela presença!
ResponderExcluirespaço de palavras bonitas.
voltarei mais vezes!
A Zélia é uma querida, de uma sensibilidade extrema, que nos toca com louvor. E tu, Marcantonio, além de generoso, és genial.
ResponderExcluirBeijos nos dois.
Bem, como é que eu vou dizer isso aqui?!!... Marco, você publica tanta coisa incrível ao mesmo tempo que eu nem sei por onde começar a comentar, e mais importante do que isso é que o comentário vira praticamente um livro, e tratando-se de mim, um livro ainda cheio de inutilidades (porque eu não sei demonstrar meu carinho e admiração pelo trabalho dos outros sem o exagero sincero característico da minha pessoa!)...
ResponderExcluirVamos pelo começo então: gostei demais, de tudo, mas duas coisas em especial, vão ficar na minha cabeça essa semana: o APARENTEMENTE e o SEM TÍTULO.
O primeiro deles porque reflete com tanta simplicidade e veemência o inferno Sartreano, o tipo de 'texto filosófico' que eu acho que tem mais impacto, algo compreensível para os mais diversos tipos de pessoas. Brilhante!!!
O segundo, porque é bem o que eu penso de amor às vezes, silêncio. Coisa mais linda.
Obrigada por compartilhar sempre. Beijão!
Li e reli os poemas. Sensibilidade no trato com as palavras, poemas que querem - ou oferecem - muito.
ResponderExcluirGrande abraço.