segunda-feira, 12 de julho de 2010
Um ENTRE SÍTIOS e mais Seis Poemas
ENTRE SÍTIOS (8)
(Para Lara Amaral e seu Teatro da Vida)
Num teatro de arena
Livre e experimental ,
Sem rígida marcação
A vida ocupa a cena.
Cenário vivo:
Entre o passado e o futuro, um vão
Onde flutua surpreendente o poema.
Descrição:
As palavras procuram seus personagens.
E a poesia confere unidade à ação.
No entreato multiplica-se a idéia:
Quando o elenco se entremeia à platéia.
SERVIDÃO
Sou escravo da trivialidade circundante,
E presto meu serviço a tudo que me sitia,
Mas lamento existir;
A tudo em que consisto
E que me faz consentir;
A tudo que não existe,
Mas sonho pressentir.
E cada poema meu não é senão o anseio
De um lapso no sistema dessas coisas,
Um rapto de seus nomes costumeiros,
Um concílio de rebeldes no meu cérebro,
Que elogiam a embriaguez da revolta
Em meio à precaução do cativeiro.
POLARIDADE
Eu decidi não parar:
Larva me faço
De raio solar.
Eu decidi me exilar:
Larva, me esqueço
Em solo lunar.
MANIFESTO BREVE
Não farei um poema
Rosnado em grunhidos.
Não sou cão de guarda
Ou anjo ressentido.
CONTRAMANIFESTO BREVE
Cuidado com o poema!
Rex tremendae.
ULTIMATUM
Dizem:
Ou você cria
Ou nada!
FALHAM AS PALAVRAS
(Para Rita, minha mulher)
No céu dos teus olhos incendidos,
Parelha de auroras persistentes,
O meu dia renasce outro dia
Em centenas de vezes ao dia.
É tanto que te devo de vida
Pelas perdas de mim que sustaste
Com suturas urgentes de amor,
Que me fizeste crer piamente
Que todo poema é vão clamor;
Que toda palavra é fugitiva.
Quando me dispus a persegui-las
Foi para depositá-las vivas
Em qualquer lacuna do teu peito.
Mas, que lacuna pudera haver
Se em tua serena humanidade
É inteiro que me entranho e me ajeito?
Sobram essas palavras imbeles,
E falhas como ornatos opacos,
Sobre a lucidez da tua pele.
Paul Klee, Villa R , óleo s/ tela (1929)
Marcadores:
Serei Poeta?
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poemas com sentidos
ResponderExcluiros olhos de paixão
beijo
Tudo lindíssimo, meu querido Marcantonio!
ResponderExcluirÉ tanto o teu talento, tanta a tua criatividade, que as minhas palavras são tão poucas para enaltecê-los... Mas a emoção que sinto, sobeja!
Enorme abraço!
Lindos "Entre sítios" para Larinha
ResponderExcluire todos os outros versos!
Um abraço,
doce de lira
Vontade de comentar cada um. Não tenho adjetivo para tantos.
ResponderExcluirTodos lindos, mas "Falham as palavras" é fantástico! E o final, "mata à pau".
Parabéns às musas e ao poeta.
bjs
Rossana
Comecei da baixo para cima, para que? O poema tocou-me tanto, que não sobrou para os demais. Ah, esse infinito amor com que sustamos perdas. Nós mulheres sabemos de cor esse exercício. Beijo para ti!
ResponderExcluirAdorei (e invejei) o poema para a Rita. Fico com o "Polaridade", a larva lunar me conquistou.
ResponderExcluirDepois dessa leitura que alcançou até as coxias, camarins, e passagens secretas, mal consigo abrir as cortinas. O Teatro tremeu e se iluminou com suas palavras. Que coisa linda, Marcantonio, que sensibilidade para em tão pouco tempo me acompanhando no blog já ler assim meus entreatos. Seu poema ganhará uma foto, assim como os outros que têm lá na minha galeria no Teatro da Vida.
ResponderExcluirSeus poemas, perfeitos como sempre. O poema a sua mulher com um romantismo raro e não previsível, muito bonito.
Poeta, ser lembrada por vc, um dos melhores aqui da rede que já encontrei, é de muita valia para mim. Deixo-lhe aqui um forte abraço de gratidão.
A Lara, parabéns. Um poema que diz tanto de ti e do espaço onde brotam seus verso: maravilha!
ResponderExcluirMarquinho, tão docemente belo o poema Falham as Palvras! Rita brilhou, certamente, porque, insisto,não há melhor presente no mundo do que a Poesia! Este é o poema de hoje, e lindo, poorque feito com amor e para o amor!
Abraços, Marquinho
Abraços, Marquinho
Lindos!
ResponderExcluirHomenagem mais do que merecida e escrita com maestria!!!!
Abraços carinhosos =)
a lara é uma grande poetisa.
ResponderExcluir"Falham as palavras": show!
ResponderExcluirA poesia sempre agradece.
ResponderExcluirLindos poemas e bela homenagem à poetisa que nos faz sonhar: Larinha!
ResponderExcluirBeijos
Mirze
larinha é uma menina doce e cativante.
ResponderExcluircuriosa (como nós) da palavra, semeia bem-querer neste buraco negro da blogosfera.
e, acredite-me, ela floresce e frutifica junto.
fiquei feliz de lê-la aqui.
abs,
r.
ainda estou degustando e como os bois, depois vou ruminar. há um excesso que incendeia pela beleza,
ResponderExcluirabração
Vim por causa da Lara e me surpreendi com seus belos poemas. Parabéns a ela, a você. Volto.
ResponderExcluirMuita beleza, Marcantonio, sensibilidade generosa, amor à tona. Parabéns a vocês.
ResponderExcluirUm grande grande abraço.
marcantónio, mago da palavra e druida das sensações, aos poucos vais percorrendo a "turma". como tu, também creio que a escrita da lara é feita de uma confluência de géneros que acabam por se fundir num só: o seu (com pedigree e patente própria:)).
ResponderExcluirresta-me uma questão: quem fará um texto que te homenageie a ti. como camões diria, receio que me falte o engenho e a arte tão elevada é a natureza do canto :)
um abraço, amigo!
Ô Luiza, obrigado pela presença aqui e pelo carinho.
ResponderExcluirBeijo.
Zélia, é sempre bom me deparar aqui com a sua simpatia. Agradeço pelos comentários sempre estimulantes.
ResponderExcluirSim, um enorme abraço!
Renata, que bom vê-la aqui no Diário. Obrigado pelo doce comentário.
ResponderExcluirUm abraço.
Rossana, obrigado. Que bom que gostou do Falham as Palavras.
ResponderExcluirBeijo.
Ana, então parece que as palavras não falham tanto assim. Rs. Obrigado pelo carinho.
ResponderExcluirBeijo.
Dalva! É um imenso prazer vê-la novamente aqui. Assim como é um prazer acompanhar o Poesias Soltas. Larva lunar? Essa expressão ficou muito boa!
ResponderExcluirUm abraço.
Marcantonio,
ResponderExcluirCurvas sinuosas e encantadas, da homenagem à declaração. Parabéns, meu caro!
Abraços
Lara, esses Entre Sítios, como já disse aqui, são uma forma de falar de afinidades. Sabe quando você vê um filme e fica com uma enorme vontade de falar dele para todo mundo? Pois é. O que me deixa à vontade é a sinceridade. Este homenageia o seu talento e sensibilidade.
ResponderExcluirSe elogio leituras que se distanciam em décadas e até séculos, por que não o faria em relação às leituras atuais e significativas que faço na blogosfera? É também, portanto, uma forma de elogiar esse veículo que nos possibilita tantas descobertas e interações.
Só espero ter inspiração para poder ainda render sinceras homenagens a tantos outros que admiro.
Com admiração,
Um abraço.
Ô Tânia, obrigado. Eu acho que você disse tudo. É urgente usar as palavras, ainda que falhas, para expressar emoções profundas enquanto ainda temos possibilidade e um pouco de engenho para tanto.
ResponderExcluirAbraços.
Marco, linda a homenagem à Larinha. E merecidíssima, que o teatro da vida é recanto que aquece a alma da gente.
ResponderExcluirEu sempre te digo que muito dá overdose, mas colocar junto a outros esse "Falham as Palavras" foi até covardia...rs..estou arrepiada até agora, é lindo, intenso, entregue. Fico com essa imagem:
"Se em tua serena humanidade
É inteiro que me entranho e me ajeito?"
volto depois para ler novamente os outros
um beijo
Nadine, seja bem-vinda. Obrigado por suas palavras. E volte sempre.
ResponderExcluirAbraços.
Olá, Sandrio. Bem-vindo aqui. Concordo plenamente.
ResponderExcluirAbraço.
Gerana, usando poucas palavras você sempre me diz muito. É sempre um estímulo que considero especial.
ResponderExcluirAbraço.
Ô Herculano, palavras muito significativas para mim!
ResponderExcluirAbraço.
Mirze, é uma honra ver você aqui. E agradeço muito por suas palavras.
ResponderExcluirBeijo.
Marcantonio, de novo, perdi um comentário. Ando perdendo. Ou é cansaço ou é cansaço :)
ResponderExcluirMas, enfim, o que importa é que você não se perde nem entra em lapso.
Adorei os poemas. Principalmente, O Manifesto Breve, que bate nos cães de guarda e nos anjos ressentidos.
Roberto, muito bonito o que você disse. Buraco negro? Realmente. Mas tem muita gente semeando bem-querer, afeto e humanismo nesse buraco; você mesmo é um deles.
ResponderExcluirGrande abraço!
Assis, acho que ainda não inventaram uma imagem melhor para ser associada à leitura do que essa do ato de ruminar. Ao menos para a leitura contemplativa.
ResponderExcluirAbração deste ruminante leitor!
Adriana, que bom; seja bem-vinda. Volte sim. E obrigado pelo estímulo!
ResponderExcluirAbraço.
Dade, que bom já vê-la de volta! Olha, obrigado realmente.
ResponderExcluirAbraços!
Jorge, rapaz, essa turma das minhas admirações é muito grande! Ainda bem.
ResponderExcluirMas, eu já sou homenageado pelo estímulo que recebo aqui no comentários, de um modo que talvez eu nem mereça. Além disso, se reverbera no outro a homenagem que faço a ele, sendo reconhecida como sincera que é, de certa forma isso como que homenageia o meu acerto ao lê-lo, ou a minha capacidade de entendê-lo. Ih, ficou complicado isso, não é?
Grande abraço, Jorge!
Lou, é muito bom quando você aparece aqui. Muito obrigado.
ResponderExcluirAbraços.
Andrea, é verdade. E que belo nome é este "Teatro da Vida"!
ResponderExcluirQuanto ao poema, as palavras realmente parecem pequenas para expressar certos graus atingidos pelas sensações, ou pelas ações.
Mas, Andrea, eu tenho que aproveitar enquanto os poemas me socorrem; vá lá que ocorra desse veio secar! Rs.
Beijo.
Bípede! Olha, eu me perco sim, e, como disse num poema acima, busco um lapso no sistema das coisas que me sitiam. Devo dar sorte de me encontrar antes de postar! Rs.
ResponderExcluirQue bom que você mencionou (por gostar) o Manifesto Breve. De tão breve, ele tá ali quietinho no meio dos outros, mas gostei de escrevê-lo. E eu o contradigo um pouco no Contramanifesto; afinal, a gente precisa ser dialético. Vá que eu apareça rosnando mais adiante. Rs. Mas, de fato há muita coisa por aí rosnada da boca pra fora.
Descanse.
Abraço.
Entre os teus existenciais, destaco "Servidão".
ResponderExcluirAgora, os poemas para Larinha e para sua Primeira-dama ficaram no capricho.
Bom demais da conta.
Abs, Marcantonio.
marco,
ResponderExcluirtodos oriundos de um poeta inspirado, nascidos da necessidade que se manifesta indomável em um artista como você, vigoroso. são ótimos, todos!
e apesar de serem escritos como fossem versos que necessitam escapar, são cuidadosamente pensados como o melhor da poesia deve ser. parabéns!
destaque absoluto para:
"Sobram essas palavras imbeles,
E falhas como ornatos opacos,
Sobre a lucidez da tua pele."
pelo lirismo à flor da pele
&
POLARIDADE
"Eu decidi não parar:
Larva me faço
De raio solar.
Eu decidi me exilar:
Larva, me esqueço
Em solo lunar."
pela sensorial percepção dos estados humanos e seus duos.
é gratificante ler aqui.
grande abraço!
Olá, teu blog és excelente!
ResponderExcluirPosso seguir?
Muito bom mesmo, adorei aqui*
Beijão
Tinha vindo aqui, ver o poema da Larinha. Encontrei um monte de poesia - uma montanha iluminada de poesia: aquela palavra, larva e lavra, diamante cortando o vidro da noite, da vida. Pois é, gostei. Às vezes é difícil dizer só: gostei.
ResponderExcluirUm abração.
Ô Paulo Jorge, obrigado. Primeira-dama é bom demais! Rs.
ResponderExcluirBetina, a sua análise é muito estimulante. Sem dúvida que os versos tentam escapar; mas, desconfiado, eu os puxo pelo pescoço e tento submetê-los ao pensamento moderador. Obrigado por suas palavras, Betina.
ResponderExcluirGrande abraço!
Tatiane, seja bem-vinda. Eu não gosto muito da expressão 'seguir', mas parece que não há outra, não é? Ficarei honrado de tê-la entre aqueles que bondosamente me distinguem com suas leituras. E obrigado por suas palavras!
ResponderExcluirBeijo.
José Carlos, é uma honra recebê-lo aqui! Mas, gostar já é tanto. E muito me distingue. Obrigado.
ResponderExcluirGrande abraço.
Grato pela visita e comentário. Apreciei a expressividade densa de teus poemas. Abraços!
ResponderExcluirBela homenagem às cenas retratadas pela Lara.
ResponderExcluirBelos, os demais versos!
Um bjo, Marco.
Talita.
Reiffer, obrigado. Realmente, gostei do seu texto. E Mahler, Mahler...
ResponderExcluirGrande abraço!
Oi Talita. Bom ver você aqui novamente. Obrigado.
ResponderExcluirBeijo.
Marco,
ResponderExcluirNão sei dizer qual é o melhor....a Lara é pessoinha muit talentosa. vcs dois são ótimos juntos
Olá Marcantonio
ResponderExcluirObrigado pela visita ao meu blog e pelo comentário. Quando puder volte, vou gostar muito. Muita coisas boa por aqui. Gostei muito
Te sigo.
Abração
Oi, Marcantonio
ResponderExcluirCheguei aqui através da Larinha e fiquei encantada com o que encontrei. Belas poesias acabo de ler aqui. Este post é demais! Tudo lindo, tudo “tocante”. Passeando mais um pouquinho, encontrei outras preciosidades como: “Palavra-Luz”, “Confidencial” “Traços”, “A Parte e Todo”, “Adágio” e tantas outras...
Serei poeta??? Tens alguma dúvida ainda? Eu tenho certeza absoluta que escreves com a pena da Alma e a tinta da sensibilidade.
Parabéns a você pela criação (plástica e escrita) e pela homenagem à Larinha, ela merece dançar em outros palcos, com certeza!
Voltarei mais vezes.
Bjs,
Wania
"Sou escravo da trivialidade circundante" e como fugir dela? creio que aprender a conviver é o caminho de melhor dom de viver-se
ResponderExcluirAdriana, obrigado. É bom vê-la de volta aqui.
ResponderExcluirAbraço.
A homenagem é um espetáculo e os demais poemas, espetaculares.
ResponderExcluirVocê e Laura, são dois grandes artistas.
Abraços, meu caro.
Wanderley, muito obrigado. Claro que voltarei ao seu blog, com todo prazer.
ResponderExcluirGrande abraço.
Wania, poxa, muitíssimo agradecido por suas palavras. Volte sim.
ResponderExcluirBeijo.
Ô Ediney, sem dúvida. Obrigado por passar aqui.
ResponderExcluirAbraço.
Cris, obrigado. É bom quando você vem aqui.
ResponderExcluirAbraço.
Interessante que cheguei aqui antes de conhecer o blog da homenageada. Foi uma providencial chegada/parada. Saio daqui com a alma alimentada.Adorei o que "vi" e "senti" ao ler suas obras. Obrigada. Parabéns pelo talento! Sigo, agora, a caminho do Teatro da Vida.
ResponderExcluirUm abraço amigo, poeta.
da 'larva' ao 'rex tremendae' - creio que gosto de muita coisa.
ResponderExcluirbeijo.
El