Meus sonhos se hospedam
nas prateleiras superiores
como estatuetas de gesso.
Aguardo que um desses abutres
desperte de seu sono engessado
e venha subtrair um pedaço
ao meu fígado amargo.
Meus projetos são abstratos
como mapas rodoviários
guardados num gabinete.
Sou perito em desembaçar vidraças
para flagrar o silêncio expandido
no interior das ermidas.
O que vejo nada me informa.
O que adivinho é tão obsoleto
quanto o ritual do confiteor.
Tento fazer corresponder
a cada objeto um só nome,
a cada sentimento uma efígie;
mas tudo desdenha da minha ciência.
Que outro tolo proponha amanhã
a hermenêutica dos epitáfios!
Quanto a mim, hei de me matar.
Não a este corpo ainda voraz,
Mas a personagem que só age
à mercê das neutras rubricas.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
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