A solidão ocorre
quando a consciência
se corporifica
e se arraiga
no espaço,
erguendo-se
em totem
ou torre
sem pavimentos
medianos:
coluna sem vértebras,
de fuste liso
e capitel ausente.
Ocorre a solidão
quando o ar
se adensa em lama
que adere ao corpo
e asfixia o gesto.
Quando a voz
lacrimeja
saliva grossa,
quando os olhos
se oxidam ao sol,
quando os ouvidos
enrolam
o novelo dos ecos,
a solidão ocorre.
Quando retornam
as palavras,
como se fossem
insetos atraídos
pela escuridão,
criando órbitas
em torno
de um núcleo frio,
a solidão ocorre.
VISÍVEL
Enfim, chega um dia
em que a alma
se enclausura na face:
forma-se um casulo
rígido
do qual
nenhuma borboleta
nasce.
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