Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

sábado, 24 de abril de 2010

3,5 Poemas



ANTIFOTOGENIA

Saio mal em fotografias:
Não sobressaio aos cenários.
Aquela cara de indivíduo
Sem valia,
demissionário.

Congelado antes do disparo,
Mal sorrio, não digo ”x!”
Nem percebo o tal passarinho
E, sem preparo...
Eis o infeliz!

É a custo que desfaço a pose,
Por tentar me reencontrar:
O flash que turva meus olhos
Sequer chega a me iluminar.


NATUREZA-MORTA

Negro, incerto
Um cachimbo
Sobre a estante.

Quase perto
Desse anfíbio
Petulante,

Um binóculo,
Outro módulo
De visão.

O cachimbo
Só conspira,
Não expira
Mais fumaça.

Já o binóculo,
Cientista,
Vê (revista)
O que passa:

- Precaução!



REMINISCÊNCIAS

Unicamente na infância sonhamos
Porque enxergamos no escuro.
Quando adultos, alugamos
Os sonhos verbais dos poetas
Que, embora cegos, ainda recordam.



DISCURSO SEM MÉTODO

A memória é uma Penélope sem método:
Faz, desfaz e refaz por nada esperar.






















Marcantonio, Carpe Diem - Téc. Mista s/ Tela - 2005

Para ver imagens de outros trabalhos meus:

http://cadernosdearte.wordpress.com/galeria/

10 comentários:

  1. Uau!!!! Tudo de bom isso aqui...A Antifotogenia é qualquer coisa de maravilhosa!
    O flash que turva, que não ilumina os olhos: o máximo!

    Beijos

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  2. Obrigado, Tânia. O seu entusiasmo faz crescer o poema aos meus olhos.

    Beijo.

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  3. Uma fornalha de versos. Começo pelo último, a Penélope da pós-modernidade. Reminiscências, poetas cegos iluminados. A natureza morta pipe. Antifotogenia me serve também. Tenho sempre a sensação que chego atrasado para fotografia. Abraço de domingo.

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  4. Obrigado, Assis. Inclusive por nos fornecer uma inadiável e essencial agenda poética no seu belo blog.

    Outro Abraço.

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  5. Por aqui... tive reencontros em minha alma...

    Um gostoso abraço!

    SM

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  6. Os sonhos verbais dos poetas... só você mesmo! Gostei dum tanto!

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  7. Susana, é um prazer recebê-la aqui. Também prefiro o outono e a primavera.

    Um abraço.

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  8. Dalva, você não sabe como respeito a sua opinião.
    E ao ver a sua imagem por aqui, olhando por essa janelinha, já fico feliz. Gostei muito do O PODER. Não comentei por falta de palavras. As que me ocorreram não me pareceram suficientes.

    Um abraço.

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  9. marcantonio,
    tudo muito bonito (e limpo!) no seu blog. vou degustar bem devagarinho.

    antes de esmiuçar suas coisas, entretanto,uma pergunta:
    você tem um blog destinado apenas ao seu trabalho de artista plastico?

    abraço grande do
    roberto.

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  10. Roberto, prazer em vê-lo aqui.

    Há sim um outro blog destinado aos meus trabalhos. É o Caderno de Artes, discretamente colocado aqui ao lado, na lista de blogs.

    Espero que você goste.

    Abração.

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