I- EMPRÉSTIMO
Para duelar contigo
trago onomatopéias lânguidas,
e a face branda
que roço nos teus seios nus.
Tenho a mente pura
amparada por ternuras,
e rancor nenhum.
Amando, confio-te o meu paradeiro,
preserva-o como a uma confissão.
Nada sei de raivas e remorsos,
passam apenas, sempre passarão.
Escuta isso agora:
são tantos os meus sonhos e apelos!
Mas tu poderias concebê-los enfim?
Toma-os, porém, tenta convertê-los
e serão teus em mim,
que eu já dou aos teus tanto desvelo
que os sonho, emprestados a ti.
II- LUGAR-COMUM
Doce, assim definiria o teu corpo. Doce.
Mas, pouco fosse, diria então embriagante.
Não sendo anda o bastante, insuficiente
Este lugar-comum, diria a ti bem rente:
- Teu corpo, o teu corpo é tão quente!
E não há nada no teu corpo que eu invente,
Mesmo se é ele a aventura que empreendo,
Essa loucura em que louco me entendo,
O desatino que incendiado me conduz
Para um ponto de ti no qual eu destilo luz.
III- PULSAÇÕES
Há silêncios breves entre nós;
Sombras rápidas interpostas
Como negativos fotográficos.
Algo entardece subitamente
Como se fôramos feitos de células-
Estrelas que mudassem de cor.
As veias dos nossos contatos
Obstruem-se, vez em quando.
Mas há sístoles e diástoles.
Então giramos num círculo virtuoso:
Ora nos digladiando nas arenas
Que montamos por um triz;
Ora dando asas ao verbo amar
Que conjugamos felizes e febris.
domingo, 14 de novembro de 2010
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Uma maravilhosa triade poetica, das mais lindas que ja li! Cheia de sensualidade e ternura! Da gosto de ler, suave musica enquanto as palavras dancam...
ResponderExcluireu fiz assim: dei início a música sem saber o que havia para ler, quando fui lendo os versos havia já a atmosfera estabelecida na beleza do piano, então dei-me uma leitura sensorial.
ResponderExcluirvocê escolheu bem a "trilha", tanto da execução ao piano quanto da execução dos versos. o resultado foi um momento bastante agradável de poesia e contentamento entre as afetividades do poeta e sua musa e eu, leitora.
os três, belíssimos!
um beijo.
Eis um cântico amoroso: adornado pelo carnal suspiro de quem ama.
ResponderExcluirforte abraço,
amigo.
Um belíssimo lugar-comum esse, nada lugar-comum, que você é poeta de suspresas e renovações.
ResponderExcluirando um tanto longe, mas passo por aqui e gosto muito.
Abraços,
parece-me que pinçados de singeleza, os poemas dessa tríade se espraiam em camadas sonoras sob a maestria das mãos. como se tudo emanasse, exalasse de corpos - e estes etéreos sobre as palavras -
ResponderExcluirabração
Gosto dos empréstimos que minha mente divide com meu corpo :)
ResponderExcluirAmigo Marcantonio
ResponderExcluirQue lindeza!
Três poemas: Empréstimo, Lugar-Comum, Pulsações...
Não me peça para escolher só um...
Grande abraço, querido!
Três sorrisos bem grandes pra você, querido. Um para cada poesia.
ResponderExcluirNo marcador tem "Serei poeta?"... Se você me der o prazer de confiar na minha opinião, digo e repito (três vezes e mais) que sim. E da melhor sensibilidade!!!!
Beijinhos...
Amei a música também, viu!
caro amigo,
ResponderExcluirpeço-te o empréstimo do lugar-comum que versa sobre a verdade. no reverso da sua face, há sempre a pulsação de uma outra verdade que a precedeu e que hoje é negada. e o círculo virtuoso gasta-se, rompe-se inaugurando o quadrado vertiginoso onde, por mais voltas que dêmos, jamais encontramos a saída. mesmo duelando contigo... mesmo na doçura do teu corpo. a verdade é que entre a sístole a diástole, o sangue já não é o mesmo. incontornavelmente.
um abraço!
Uma espécie de romantismo gramatical...
ResponderExcluirLerdinha, mal consegui desvencilhar-me das onomatopéias lânguidas, ouvindo Debusy.
Grande poeta.
bj
Rossana
Debussy empresta seu estofo musical para aninhar os teus versos dotados de singeleza e alta poesia. Sempre que passo aqui me surpreendo com o grosso calibre dos teus poemas. Grande abraço, Marcantonio.
ResponderExcluirisso aqui está pegando fogo!
ResponderExcluiradoro ser surpreendida por teus versos...
tomarei de empréstimo suas pulsações incendiando o lugar comum.