Olho para o sol
no extremo
da vertical.
Olho, no oposto
Ponto,
A minha sombra
Residual.
O sol.
A minha sombra.
A minha sombra
O sol:
Há um nada entre eles.
Olho os ponteiros
Do relógio,
O das horas,
O dos minutos
(Aquiles e a tartaruga).
O ponteiro
Das horas.
O ponteiro
Dos minutos:
Há um nada entre eles.
PROCEDIMENTO
Primeiro é o registro súbito,
Fotográfico,
De um pássaro aguardado
Que não se sabe de onde vem.
Ou, grosso-modo, um esboço
De pássaro deposto em pouso.
Prendo-o na gaiola da imagem
Para reformulá-lo.
Pois a um pássaro solto
Não se pode modificar.
Mas, se já é perfeito o pássaro
Para ocupar as alturas,
Por que alterá-lo?
Trata-se de outra forma de voar.
REGISTRO FLUTUANTE
Encontrei num caderno amarelado
A letra trêmula de meu pai:
Uma anotação banal -
Lista da feira -
De um dia também banal.
Porque era meu pai falecido
Aquela escrita se desgrudara
Daquele dia.
Como se fora aquele um dia virgem,
Habitado por um só ser flutuante
Cujos pés não aceitassem o alvitre das horas,
Cujas mãos não se maculassem nos objetos,
Cujos olhos não ocupassem um raio de sol.
Algum dia terá tal resplendor
Um só dos meus poemas?
Escher, Liberação |
Maravilhoso Marcantonio, a poesia disse bem dos pássaros, "um passaro solto. Não se pode modificar.". Li algumas vezes e vi que tuas palavras resplandecem sim, como pássaros em liberação! beijos
ResponderExcluir.. é, agora que já sei o procedimento, quem sabe aprendo voar ? rs
ResponderExcluirAdorei tudo por aqui, volto depois pra curtir um pouco mais.
Abs
De tanto ver o nada até já gosto dele...
ResponderExcluir3 - a interrogação final do terceiro poema - terceira margem - me fez lembrar Borges e o infinito, a eternidade da palavra
ResponderExcluir2 - uma forma de voar pelas sílabas é o canto e também o desencanto - a variação mais próxima do silencio
1 - será que um Zenão pós-moderno calcularia a distancia entre as palavras - para chegar ao verso B teria-se que alcançar a metade, mas para chegar a metade outra metade - batalha de quem campeia o inóspito dos vocábulos,
abração
"Pois a um pássaro solto
ResponderExcluirNão se pode modificar.
Mas, se já é perfeito o pássaro
Para ocupar as alturas,
Por que alterá-lo?
Trata-se de outra forma de voar."
Eita... Esse aqui vai pro meu mural, Marquinho!!!
Lindo demais.
Beijo.
Te sinto como uma ave de arribação rasgando o espaço de nossa mente, a fecundar não apenas
ResponderExcluirPoesia, mas todo um ideário para profundas reflexões!
Beijo GRandEE
P.S: adorei teus comentários no blog :))
Belíssimo, Marcantonio!
ResponderExcluirTres registros que flutuarão para sempre no espaço, a partir de agora.
O "REGISTRO FLUTUANTE" é um hino de louvor.
Parabéns, poeta!
Beijos
Mirze
Inquietante beleza sempre... Beleza insólita muitas vees. Tudo belo aqui. Eu vou passando. Mas tenho lido o Marcantonio sempre que posso. O azul tornou-se definitivo já. E o diário está com uma bela nova cara e mais...Marcantonio! O de agora, mutável que você é.
ResponderExcluirabraços,
Após um passeio nessa tríade poética, chego ao final percebendo nitidamente que são fragmentos de um só propósito.
ResponderExcluirBela composição, Marcantonio.
Um abraço.