ECOS REPLICADORES
To see a world in a grain of sand
And a heaven in a wild flower
Hold infinity in the palm of your hand
And eternity in an hour.
(William Blake)
Ver o mundo como um grão na bateia.
E a flor silvestre como flor silvestre que se confessa ao chão.
O infinito: um ácido que corrói a palma da tua mão
Enquanto o instante sopra a eternidade feito areia.
AFAGOS
1
Não é que eu não possa
Existir sem você, não.
Fato é que existo COM você:
Decidi enxergar o mundo
Com nossos quatro olhos.
2
Dia de exílio intramuros.
Estou cansado dessa solidão azul.
O ar é tão denso que chega a me ocultar
Na própria transparência.
Não consigo avistar novas paisagens.
Dos caminhos abdico
Se me faltam os seus sinais.
3
O meu melhor sorriso
É sempre uma resposta
A um súbito sorriso seu:
Aparição de borboleta luzidia
Que entrasse na casa, pela manhã.
CANTIGA PARA ME RETRATAR
Cresceu pobre pobre pobre sem sequer saber de si
Ainda é pobre pobre pobre do saber de si.
William Blake - Newton - Aquarela
Marcantonio
ResponderExcluirVocê, hoje, mexeu demais comigo.
Mexe sempre, mas hoje, particularmente.
Começou ecoando lindamente e foi fazendo belo o meu amanhecer...
Um grande abraço
Marco! Não deixou nada a desejar a sua 'tradução' de William Blake. Vocês dois até tem algumas paixões em comum, não é mesmo?! =))))
ResponderExcluirA primeira parte do Afagos ficou tão linda! Lembrei-me de umas linhas que escrevi há um tempo:
"Um sorriso pelo qual vale a pena morrer, é também um sorriso pelo qual vale a pena viver."
A cantiga para se retratar tambéme está belíssima, e socrática, diga-se de passagem. =)
Newton é lindo. Meu favorito ainda é 'God as an architect' - Deus parece tanto como Zeus no quadro, pra mim! =P
Beijo sempre grande, sempre carinhoso. =*
Zélia, que bom se pude contribuir para a tornar belo o início do seu dia. Você também trouxe ares renovadores para o meu fim de noite, no momento em que li o seu COLLAGE. Embora não tenha deixado lá o meu comentário,achei belo e delicado, transpirando humanismo, como parece ocorrer com tudo que você produz. Esse
ResponderExcluir"Aplico entremeios
Das profundezas
Do amar"
é fabuloso!
Obrigado, Zélia,
Grande abraço.
Kenia! Sim, Blake é um artista que admiro muito. Era daqueles que não separam arte e vida e tinha a característica que mais prezo: era independente, não transigia. E que visão pessoal, né? Acho que ele não a teria perdido nem que tivesse tido uma formação clássica!
ResponderExcluirCantiga socrática... Perfeito, Kenia. Não há como não lembrar de Sócrates quando falamos desse "saber de si".
Pensando bem, Zeus e Deus são gêmeos com temperamentos diferentes, um mais pra Blake, outro mais pra Pascal.
E você ainda deixou um pouco do seu talento aqui. Que bom!
Beijo.
Aparição de borboleta luzidia, queria eu ter uma. Como sinais irmanando pelos caminhos. Suntuosas palavras, tyger,tyger, grito. Dos saberes eu nada sei, vago em brevidades bem rasas. Grande abraço.
ResponderExcluir"O ar é tão denso que chega a me ocultar
ResponderExcluirNa própria transparência."
imagem poética dramatica e cheia de musicalidade
Olá Assis! Pobre borboleta luzidia diante daquela rútila senhora das madrugadas. Dos saberes nada saber, também é muito socrático!
ResponderExcluirAbração.
Ediney, rapaz, você foi em cima: é a imagem de que mais gosto aqui. Obrigado.
ResponderExcluirAbraço.
cê sumiu e eu venho atrás de você.
ResponderExcluirnem que seja pra um afago só.
isto aqui é um oasis.
beijão, poeta!
Pô Marcantonio!
ResponderExcluirE você ainda tem a desfaçatez de colocar "Serei poeta?" nos marcadores...
E não me diga que isso é maiêutica!
Ingrata hora em que a maçã caiu na cabeça do Newton e todo o mundo se encheu de gravidade...
Abração!
Ô Roberto, não sumi não. Entrei, li, e só não comentei porque tava enrolado. Mas volto já já!
ResponderExcluirVá lá, um beijo. rs
Também acho que você deveria trocar esse 'Serei poeta?' por outra coisa!
ResponderExcluirMuito, muito bom!
a tradução de Blake é sua? o poema é lindo...
ResponderExcluirFouad, cara, ainda tô rindo aqui com esse seu comentário. Essa da maiêutica não tem preço! Vou ter é que partejar uma boa desculpa. Ingrata hora em que fui colocar esse marcador! Deve ter gente pensando que é falsa modéstia, rs. Qualquer hora dessa terei que tirar o verbo e o ponto de interrogação.
ResponderExcluirAbração
Oi Aline! Que bom vê-la aqui! Olha só o que o Fouad arrumou, uma rebelião contra o meu "Serei poeta?"! Brincadeira. Parece uma contradição postar poemas sem se dizer poeta, né? Coisas desta cabeça. Obrigado Aline.
ResponderExcluirUm abraço.
Olá Adriana. Seja bem-vinda. Na verdade, seria uma "contra-tradução", uma paráfrase, em réplica,
ResponderExcluirao poema dele. O poema dele é nobre, com ânsia de
de transcendência. Já o meu é mesquinho, pessimista e desiludido.
Mas, engraçado, talvez esse seja o único poema de Blake que o meu inglês precário me permitiria traduzir. É grande na aparente simplicidade.
Um abraço.
Olá Marco Antônio, gostei muito da intertextualidade. Os textos conversam poeticamente entre si e conosco... Obrigada por sua amável visita e comentário. Um abraço e um ótimo domingo.
ResponderExcluirA simplicidade é a meta final. Todo o quiprocó da nossa vida é meramente o meio para obtermos aquela meta.
ResponderExcluirNunca tinha me imaginado como as lentes de aumento de alguém. Adorei a ideia de ser um "óculos" e de ter comigo a diferente visão de uma outra pessoa.
ResponderExcluirÚrsula, e eu gostei muito da sua visita. Obrigado. Visitar o SEMPRE POESIA! é um prazer, e pretendo fazê-lo assiduamente. Um bom domingo para você também.
ResponderExcluirAbraço.
Dalva, eu creio piamente nisso que você falou. Entre a aquisição e a perda, na vida vamos aprendendo a nos desfazer dos cacarecos mentais e emocionais, esse peso morto que nos impede a leveza. É a desilusão positiva e necessária. Aliás, a sua poesia, da qual tanto gosto, encarna essa idéia.
ResponderExcluirAbraço.
Bípede, creio que, às vezes, fica difícil distinguir o que vemos com nossos próprios olhos, das visões que tomamos de empréstimo. Afora o fato de que o nosso inconsciente está sempre interferindo no ajuste do foco da nossa "câmera", como se fosse um outro em nós mesmos. Na cultura, então, usamos tantos óculos! Os óculos de Nietzsche, os de Marx, os de Delleuze, os de Matisse... etc, etc.
ResponderExcluirAbraço.
Adoro as poesias de Williams Blake!! No seu blog só tem coisa rica para se ler!
ResponderExcluirFaço coro com os que perguntam: como asim serei poeta????? rsrs
ResponderExcluirmas afinal, acho que os verdadeiros poetas devem sofrer dessa dúvida até depois do enésimo poema! rs
Estava correndo, agora pude parar para ler você, e vejo que perdi esse tempo correndo.
Abraços,
Tânia