Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

terça-feira, 25 de maio de 2010

Três Poemas Curtos e Uma Tira Sem Imagens



POR ACASO

Estou cansado de tanto
Descanso.
Por acaso o acaso também me cansa,
E o descaso
Que avança
Projetado
Na ponta da lança
Deste eu-soldado.


LONGEVIDADE

               Para R. G. C.

A luz da tarde torna os seus cabelos
Tão líquidos.
Eles me arrancam do peito uma palavra
Que neles desliza como carícia entremeada.
Que palavra é essa?
Não sei dizê-la.
Mas é um consentimento a um lampejo
De uma ternura tão longeva!
Minha doce eva,
Creio que inauguramos o infinito.


MINHAS CONTAS

Talvez o que reste de mim
seja um cordão desfeito
de contas vencidas
e incongruentes,
jogadas,
numa praça esquecida,
aos pombos inapetentes.


HISTORINHA

-Por que você não mais escreve poesia?

-Estou muito ocupado em viver.

-Mas, e nas horas vagas?

-É quando estou mais ocupado ainda em viver.

(Bem feito! Que anjinho gauche foi me soprar essa pergunta?)
























Adão e Eva (1507), óleo s/ madeira, de  Dürer. 

24 comentários:

  1. Perdoe-me se não falo dos outros poemas mas o Longevidade me calou. procurar palavras para traduzir o intraduzível. sem querer perdemos a plenitude do silêncio, o gesto inolvidável. abração

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  2. quem falou procê que cê era mau poeta, mentiu de imenso.
    beijão, marcantônio.

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  3. Ô, poeta-artista plástico-filósofo Marquinho:

    eu ia falar do cansaço que o acaso provoca. viajei nessa frase...O acaso é o imprevisível, é o que irrompe de repente do nada, é não ter o controle da situação, é a necessidade de improvisação, é a entrega cega ao instante seguinte...O acaso é a virgindade dos segundos, é a estreia de algo, é um começo... E penso: cansaço para recomeçar? Porque o acaso é um começo desconhecido para o inesperado. Enfim, mas viagem minha aqui, filosofando...rsr


    Mas adorei também Longevidade, o título espelha totalmente o poema. "Mas é um consentimento a um lampejo/ De uma ternura tão longeva!"

    Viajei aqui também! rs

    Beijos

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  4. Assis, não há o que perdoar. Perdoe-me você se não tenho palavras para agradecer pela essência do seu comentário.

    Abração.

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  5. Marcantonio, hoje leio 3 belos poemas na sua postagem,
    meus cumprimentos,
    Efigênia Coutinho

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  6. Roberto, ninguém me falou não. O culpado sou eu mesmo. E essa minha consciência por demais escrupulosa nessa área. Quando li a frase de Marcial "ninguém acredita mais em si próprio do que o mau poeta", tratei de botar a viola no saco, esperando que os outros me acusem. Mas, para me ferrar, o Nietzsche me disse que os que se rebaixam querem ser exaltados. Pombas, assim fica difícil! É melhor deixar que os poemas falem por si ou se calem para sempre. Rs. Por enquanto o saldo tem sido bom.

    Beijão.

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  7. Tânia, "o acaso é a virgindade dos segundos", é frase bonita demais. O acaso, para mim, é o fundamento da esperança, possibilidade incerta de que o melhor aconteça, mas ainda assim possibilidade. Realmente, o cansaço de recomeçar só se justificaria pela descrença no acaso, como se a vida fosse um roteiro a ser filmado.
    Além disso, o acaso é fundamental em arte, uma espécie de assistente não contratado. Um livro muito bom a respeito é "Acasos e Criação Artística", de Fayga Ostrower.

    Enfim, só me canso do acaso por puro acaso!Rs.

    Um abraço, Tânia.

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  8. Efigênia, é bom revê-la aqui. Agradeço imensamente.

    Felicidades!

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  9. "Minha doce eva,
    Creio que inauguramos o infinito."

    que beleza de poemas, hein, moço?
    e esse tnto por vez, a gente embriaga...

    abraço pra ti

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  10. o acaso tbm me cansa...lindos versos, mas esse é demais!

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  11. Sua poesia é muito boa; ando gostando bastante.

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  12. Andrea, poxa, que bom ver você aqui. Fico satisfeito que você tenha gostado.

    Abraço.

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  13. Adriana, é daqueles versos que vêm pronto à cabeça, e que na hora a gente desconfia que são banais; depois eles passam a soar diferente.
    Obrigado. Olha só: dois comentários seguidos vindos do sul. Coisa boa.

    Um abraço.

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  14. Gerana, acho o conteúdo do seu blog muito distinto, especial. Sendo você uma LEITORA CRÍTICA, esse seu comentário me faz um bem danado.
    Obrigado.

    Abraço.

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  15. Não importa o tamanho, são grandes teus poemas.Plenos em imagens - arte pura.

    P.S.
    Adorei a historinha

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  16. Oi Mai! Mais uma vez obrigado.

    Abraço!

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  17. Puro talento! Meu sincero aplauso de pé!

    Abraço!

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  18. Quanto mais esse cordão de contas se espalha, mais elas se multiplicam e, no lugar dos pombos, vem a profunda poesia.

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  19. Ô Bípede, obrigado, tomara essa praça fique repleta de poesia!

    Abraço.

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  20. Retribuindo a visita e já gostando do teu espaço e da tua palavra. abraço

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  21. "Creio que inauguramos o infinito" - que ma-ra-vi-lho-so! Sério!

    E eu adorei sua historinha também ;-)

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  22. Araceli, foi um prazer visitá-la. Ainda volto lá para ler com mais atenção e mais demoradamente. Obrigado.

    Abraço.

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  23. Olá, Aline. Você voltou mesmo. Que bom. Obrgado.

    Abraço.

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