POR ACASO
Estou cansado de tanto
Descanso.
Por acaso o acaso também me cansa,
E o descaso
Que avança
Projetado
Na ponta da lança
Deste eu-soldado.
LONGEVIDADE
Para R. G. C.
A luz da tarde torna os seus cabelos
Tão líquidos.
Eles me arrancam do peito uma palavra
Que neles desliza como carícia entremeada.
Que palavra é essa?
Não sei dizê-la.
Mas é um consentimento a um lampejo
De uma ternura tão longeva!
Minha doce eva,
Creio que inauguramos o infinito.
MINHAS CONTAS
Talvez o que reste de mim
seja um cordão desfeito
de contas vencidas
e incongruentes,
jogadas,
numa praça esquecida,
aos pombos inapetentes.
HISTORINHA
-Por que você não mais escreve poesia?
-Estou muito ocupado em viver.
-Mas, e nas horas vagas?
-É quando estou mais ocupado ainda em viver.
(Bem feito! Que anjinho gauche foi me soprar essa pergunta?)
Adão e Eva (1507), óleo s/ madeira, de Dürer.
Perdoe-me se não falo dos outros poemas mas o Longevidade me calou. procurar palavras para traduzir o intraduzível. sem querer perdemos a plenitude do silêncio, o gesto inolvidável. abração
ResponderExcluirquem falou procê que cê era mau poeta, mentiu de imenso.
ResponderExcluirbeijão, marcantônio.
Ô, poeta-artista plástico-filósofo Marquinho:
ResponderExcluireu ia falar do cansaço que o acaso provoca. viajei nessa frase...O acaso é o imprevisível, é o que irrompe de repente do nada, é não ter o controle da situação, é a necessidade de improvisação, é a entrega cega ao instante seguinte...O acaso é a virgindade dos segundos, é a estreia de algo, é um começo... E penso: cansaço para recomeçar? Porque o acaso é um começo desconhecido para o inesperado. Enfim, mas viagem minha aqui, filosofando...rsr
Mas adorei também Longevidade, o título espelha totalmente o poema. "Mas é um consentimento a um lampejo/ De uma ternura tão longeva!"
Viajei aqui também! rs
Beijos
Assis, não há o que perdoar. Perdoe-me você se não tenho palavras para agradecer pela essência do seu comentário.
ResponderExcluirAbração.
Marcantonio, hoje leio 3 belos poemas na sua postagem,
ResponderExcluirmeus cumprimentos,
Efigênia Coutinho
Roberto, ninguém me falou não. O culpado sou eu mesmo. E essa minha consciência por demais escrupulosa nessa área. Quando li a frase de Marcial "ninguém acredita mais em si próprio do que o mau poeta", tratei de botar a viola no saco, esperando que os outros me acusem. Mas, para me ferrar, o Nietzsche me disse que os que se rebaixam querem ser exaltados. Pombas, assim fica difícil! É melhor deixar que os poemas falem por si ou se calem para sempre. Rs. Por enquanto o saldo tem sido bom.
ResponderExcluirBeijão.
Tânia, "o acaso é a virgindade dos segundos", é frase bonita demais. O acaso, para mim, é o fundamento da esperança, possibilidade incerta de que o melhor aconteça, mas ainda assim possibilidade. Realmente, o cansaço de recomeçar só se justificaria pela descrença no acaso, como se a vida fosse um roteiro a ser filmado.
ResponderExcluirAlém disso, o acaso é fundamental em arte, uma espécie de assistente não contratado. Um livro muito bom a respeito é "Acasos e Criação Artística", de Fayga Ostrower.
Enfim, só me canso do acaso por puro acaso!Rs.
Um abraço, Tânia.
Efigênia, é bom revê-la aqui. Agradeço imensamente.
ResponderExcluirFelicidades!
"Minha doce eva,
ResponderExcluirCreio que inauguramos o infinito."
que beleza de poemas, hein, moço?
e esse tnto por vez, a gente embriaga...
abraço pra ti
o acaso tbm me cansa...lindos versos, mas esse é demais!
ResponderExcluirSua poesia é muito boa; ando gostando bastante.
ResponderExcluirAndrea, poxa, que bom ver você aqui. Fico satisfeito que você tenha gostado.
ResponderExcluirAbraço.
Adriana, é daqueles versos que vêm pronto à cabeça, e que na hora a gente desconfia que são banais; depois eles passam a soar diferente.
ResponderExcluirObrigado. Olha só: dois comentários seguidos vindos do sul. Coisa boa.
Um abraço.
Gerana, acho o conteúdo do seu blog muito distinto, especial. Sendo você uma LEITORA CRÍTICA, esse seu comentário me faz um bem danado.
ResponderExcluirObrigado.
Abraço.
Não importa o tamanho, são grandes teus poemas.Plenos em imagens - arte pura.
ResponderExcluirP.S.
Adorei a historinha
Oi Mai! Mais uma vez obrigado.
ResponderExcluirAbraço!
Puro talento! Meu sincero aplauso de pé!
ResponderExcluirAbraço!
Quanto mais esse cordão de contas se espalha, mais elas se multiplicam e, no lugar dos pombos, vem a profunda poesia.
ResponderExcluirPablo, obrigado!
ResponderExcluirAbração!
Ô Bípede, obrigado, tomara essa praça fique repleta de poesia!
ResponderExcluirAbraço.
Retribuindo a visita e já gostando do teu espaço e da tua palavra. abraço
ResponderExcluir"Creio que inauguramos o infinito" - que ma-ra-vi-lho-so! Sério!
ResponderExcluirE eu adorei sua historinha também ;-)
Araceli, foi um prazer visitá-la. Ainda volto lá para ler com mais atenção e mais demoradamente. Obrigado.
ResponderExcluirAbraço.
Olá, Aline. Você voltou mesmo. Que bom. Obrgado.
ResponderExcluirAbraço.