ELA OU ELA MESMA
Ela não é
exatamente assim
como a descrevo,
posto que à sua discrição
circunscrevo-me.
E eu, que apenas sou,
oitenta vezes oito,
carne,
na insaciedade
deste desejo afoito,
hei de deixá-la se entranhar,
sem pressa, lenta,
na paisagem verídica
que a escrita inventa.
A dor não era a própria Dor.
Então, inconsistente era o riso.
Aquilo que o tempo transmudou
Na origem já não era preciso?
O caminho não fora franqueado,
No porto não pudera apear.
O vôo cintilante das gaivotas
Fazia todo o céu oscilar.
O rastro numérico das coisas
Que ganho deixara ou deixará?
Somaram-se as asas erradias
Das aves que não podem voar.
De tudo que fora necessário,
Pouco, quase nada consistiu:
Um presságio extraordinário
Que senti... Consenti. Quem sentiu?
Monotipia s/ título - Marcantonio
Marquinho, visualizo uma paisagem de letras no auge de seu explendor, pronta para acolher a presença tão desejada. Vejo ternura mansa aquiescendo diante da impositiva locura selvagem. Vejo encontros possíveis. Ah...rsrs..viajei total nos versos!
ResponderExcluirAdorei!
Beijos,
Tânia
Marquinho, meus olhos ficam embriagados de poesia, adoro seus textos: "Somaram-se as asas erradias Das aves que não podem voar". Olha só isso: maravilhoso, vi-me por aqui.
ResponderExcluirParabéns e que os deuses continuem a abençoar seu talento.
Brijos,
Tânia
Tânia, se você viajou, então o poema deve ter sido encontrado. Que seja a poesia essa desinteressada agência de viagens abstratas! E você ainda citou os versos de que mais gosto no segundo poema. Obrigado por suas palavras sempre carinhosas comigo.
ResponderExcluirUm beijo.
nos fotogramas o negativo e o positivo se embaçam, quem se olha ao espelho ou o espelho é que se olha. abraço
ResponderExcluirAssis, é um comentário-poema!
ResponderExcluirObrigado.
Abraço.
Poemas dignos de um grande artista. Uma cadência peculiar e uma singeleza em versos que podem revelar um mundo de significados poéticos.
ResponderExcluirMinha admiração!
Pablo, seja bem-vindo. Rapaz, muito obrigado!
ResponderExcluirTenha certeza que a admiração é mútua.
Abraços.
Ninguém é exatamente como descrevemos, penso. E me recordo de Anaïs Nin dizendo "não vejo as coisas como elas são, mas como NÓS somos". É bom que aconteça sempre um pouco da beleza e da humanidade dos nossos olhos na nossa expressão do outro.
ResponderExcluirLindos poemas! =*
Sem dúvida, Kenia, e nem nós mesmos somos exatamente como nos descrevemos. Anaïs Nin disse algo muito significativo.
ResponderExcluirBeijo.