Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

sábado, 5 de junho de 2010

Líricas ou Céticas Brevidades (Seis Poeminhas)

ROTAS

Está sempre em curso
A cotidiana navegação,
Deslizar para o que não somos
Entre o que não é nosso.


SIMBOLOGIA

Símbolos são símbolos,
Nada há que os explique.
Mas,
Não cruze a fina linha
Que separa o símbolo
Da coisa ela mesma:

Não se crucifique!


POÉTICA NÚMERO-ADVERBIAL

Para ser plural
Hei de me desmentir
Singularmente.


TEMPO:

Borracha e cimento.


IN DUBIO PRO REO

Eu me iludo?
Profano vício
Ou sacro ofício?
Sagrado serei
Pelo sacrifício?


ALVEJANTE

Para máculas causadas pela dor
Utilize o ceticismo,
Potente removedor de abismos.

E amacia o tecido da alma.
















O Método (33×65), Técnica Mista, 2004 - Marcantonio


Para ver outras imagens minhas Cadernos de Arte

22 comentários:

  1. Gostei da idéia do ceticismo "potente removedor de abismos"
    Vc é brilhante, Marcantonio!
    Um ótimo final de semana para vc :)
    Beijos.

    ResponderExcluir
  2. Interessantes seus dizeres, gostei principalmente do Rotas, diz muito para mim. E vc, rapaz, além de escrever assim, pinta muito bem. Fui lá visitar suas obras, parabéns artista! Quando quero ilustrar algum poema, tenho que "roubar" telas por aí, rs.

    Beijo!

    ResponderExcluir
  3. Incrivelmente, todos são rotas ou plano de navegação. Poemas em Caps Lock.
    abraços

    ResponderExcluir
  4. [transladação da palavra que incrustada no tempo, respira, finalmente, como responso]

    um imenso abraço, M.

    Leonardo B.

    ResponderExcluir
  5. Isabella, obrigado, querida. Eu CREIO realmente na fecundidade do ceticismo. Rs. Esse negócio de se dizer cético é meio complicado, pois a gente acaba acreditando na própria ausência de crenças.
    Mas relativizemos para adquirirmos leveza. Serei mais leve sem esse "brilhante que você me atribui, por exemplo. Um ótimo domingo pra você!

    Beijo.

    ResponderExcluir
  6. Ô Lara, obrigado. Que bom que você gostou dos meus trabalhos. Como costumo dizer aqui, é lá que caminho mais confiante. Pois é, essa facilidade eu tenho, pelo menos por enquanto. Rs.

    Beijo.

    ResponderExcluir
  7. Pois é, Mai, eu tava reparando aqui que todos eles têm um pouco dessa arrogância própria do epigramas. Vou, por conta disso, deixá~los de castigo como "poeminhas" mesmo. Mas essa definição com o Caps Locks é bem legal. Obrigado.

    Abraços.

    ResponderExcluir
  8. Lendo aqui teus versos e comentários... "é lá que caminho mais confiante...". Fui visitá-lo "lá" e chego a pensar que "lá" oferece pérolas ao "cá". Não diria a matéria-prima, porque esta são as emoções, mas talvez as emoções falem mais rapidamente sem as palvras, mas depois, quando convertidas, tornam--se tão belas quanto. Foquei "Tempo" e "Alvejante", que de alguma forma completam uma mensagem, eu acho. Belo trabalho o seu (de "lá")...mas também acho esse aqui de uma originalidade fantástica. Não escolheria se tivesse que escolher. Penso que quando você deposita os instrumentos do artista plástico à mesa, aí vem a outra forma de poetizar. No fundo se complementam, não seria?

    Abraços,
    Tânia

    ResponderExcluir
  9. essa coisa do mínimo é bem singular, concentra até a explosão, ou expulsão dos sentidos. quando mais singular, mais plural. - paradoxo dos paradoxos.

    abração

    ResponderExcluir
  10. Marco, eu gostei muito dos poemas! principalmente de Rotas, do Alvejante (que me fez pensar se ceticismo amacia ou endurece a alma...e não achei a resposta)
    mas o que me tomou foi o
    Tempo: borracha e cimento
    tão simples, ainda ecoando dentro de mim...borracha e cimento

    deixo um abraço pra ti

    ResponderExcluir
  11. belas palavras, bela imagem...

    seis poeminhas?
    modesto, marcantonio... modesto...
    vou ficar por aqui, ruminando seus versos um cadiquinho mais...
    a beleza e força das palavras reduz (e aterra meus abismos).
    esta é a minha salvação.

    abraço e admiração, todo dia, do
    roberto.

    ResponderExcluir
  12. Vc é mesmo um talento, como já disse Tânia lá no Roxo-violeta.

    ResponderExcluir
  13. Leonardo, nas andanças pela blogosfera (ó palavra que me desagrada!)a gente vai se familiarizando com a 'dicção' própria de cada comentarista. O perfil se translada ao comentário, e eu acho que poderia reconhecer alguns, mesmo que estivessem anônimos.
    Os seus comentários são essas agradáveis notas e desdobramentos poéticos que provocam uma reflexão.

    Retribuo esse imenso abraço com muita admiração!

    ResponderExcluir
  14. Tânia, eu acho que o artista antecede o meio que utiliza. Como você sugere, meios são formas de plasmar poéticas. Vem aquela sensação oceânica, desejo de abarcar um não sei o que, e o instrumento está ali, ora perfeito, ora falho. Já percebi que isso é uma nudez que se veste de diversas formas e se torna sempre uma imagem, por palavras, por formas, cores, sons.

    Um abraço, e obrigado sempre pelo seu carinho e atenção!

    ResponderExcluir
  15. Assis, que belo comentário! paradoxo sim, ainda mais que não teríamos como discernir a pluralidade sem a singularidade, essa mesma que reflete universos. Cara, já estamos ficando filosóficos...

    Abração!

    ResponderExcluir
  16. Andrea, eu acho que amacia. Quantos fantasmas nos entravam o caminho! Se nós aplicássemos um pouquinho de ceticismo ali, para dar uma capinada (!)no terreno... O ceticismo é um bom instrumento, justamente porque o ceticismo radical é impossível. É aquela história de serrar o galho em que se está pendurado.

    Obrigado, Andrea, por trazer a sua sensibilidade até aqui.

    Um abraço.

    ResponderExcluir
  17. Roberto,como é bom ouvir esse cadiquinho da sua prosa! Aterrar abismos com palavras para salvar-se é realmente coisa de poeta! E uma prática para a vida toda.
    Modesto? Eu? Não, apenas um proponente irrisório de uma aplicação desajeitada da teoria da relatividade.

    Um abraço gigante.

    ResponderExcluir
  18. Gerana, deve ser por força de um acúmulo contrariado de silêncios; então, como dizia Nietzsche, essa efusão repentina. Talento é palavra que me dói, parece me redimir, mas, ao mesmo tempo me acusa de desperdício. Mas ainda há tempo. Será? Essa borracha, esse cimento...

    Um abraço agradecido, Gerana.

    ResponderExcluir
  19. Ígor, que bom recebê-lo aqui. Rapaz, eu ia deixar um comentário para o seu "Lonjuras" mas um imprevisto me apressou. Mas eu volto por lá, pois vale muito a pena.

    Obrigado.

    Um abraço

    ResponderExcluir
  20. "Para ser plural
    Hei de me desmentir
    Singularmente.


    Tempo:
    Borracha e cimento"

    Bingo!

    Beijo

    ResponderExcluir
  21. Olá Marcantonio
    Eu diria q escolhi em especial "Alvejante" para elogiar (gostei ^^) mas vou destacar no fim o texto com que vc nos "recebe" em seu blog.

    As vezes me parece q até dá prá "sentir" quem abre o coração, se desnuda para desconhecidos com toda a alma - pelo menos foi o que senti lendo seu blog, seus poemas de poucas palavras...

    Não me interesso mt por blogs com "perfeito design", florzinhas e glitters - apesar do meu blog ter um pouco disso(mas meu blog é refúgio de poesias ^^)
    Procuro mais por palavras q me fazem ficar horas lendo arquivos de postagens antigas rsrsrs...gostei muito daqui
    *..e vc faz poesia até respondendo à comentários! hahaha*
    e o destaque ...

    "Amor pela palavra; ânsia de saber; uma proposição livre e despretensiosa de idéias sobre arte e cultura; tentativas poéticas; liberdade de pensamento; inconformismo; vontade de criar e, sobretudo, empatia pelo humano. Seja bem-vindo."

    Abraço, bom fim de semana e mt luz prá vc
    *e desculpe o comentário imenso...*

    ResponderExcluir