ENTRE SÍTIOS (5)
(Para Andrea de Godoy Neto
e seu Olhar em Versos e Inversos)
sabemos: é sobre o vôo
que versa
a palavra ‘asa’
mas de tal modo é ela
e tão ansiosamente
ao espaço destinada
que mesmo inversa
é
re\/oada
re\/oada
re\/oada
re\/oada
FACE REAL
Em Botafogo
Olhei para o alto,
E, de repente,
Era o Cristo, agora vestido,
Acomodado
Na cruz inexistente.
Olhei para a calçada,
Um, dois, cem, mil rostos.
Olhei para dentro do ônibus lotado,
Faces cansadas e outonais.
Voltadas para fora.
A face mítica da cidade
Desaparecera sob os rostos reais
Daqui, agora.
CONFIDENCIAL
As palavras me confidenciaram
Que nas prateleiras do meu poema
Padecem ainda da originária solidão.
Conjunções e preposições
Ameaçam se atirar lá de cima.
DE GUARDA
Há algo do lado de fora.
Não é um corvo.
Não é a morte.
Escuta escuta agora!
É o silêncio
Que comigo se importa,
Um vira-lata
Pulguento e faminto
Ao qual enxoto, mas volta,
Acostumado que está
A guardar a minha porta.
Melancolia 12 - Marcantonio - Tec. Mista
(2006)
Mais imagens minhas em Cadernos de Arte
terça-feira, 22 de junho de 2010
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Marco, acho muito legal esse teu "sentir" o outro. Merecida referência à Andrea. O poema Confidencial é de uma criatividade que brinca e brinca, bolina e faz rir. Mais um show de bola, querido.
ResponderExcluirbjs.
Belo trabalho a Melancolia 12, Marquinho! Não menos bela a homenagem a Andrea. Eo confidencial está simplesmente ótimo!
ResponderExcluirAbraços,
TÂnia
Ah, Marco!! tivesses falado sobre qualquer outra coisa, eu teria palavras...
ResponderExcluirmas,sobre as asas...
calo-me, sentindo seu rufar dentro de mim, para alcançar a revoada
coisa linda que me emocionou! Um obrigada, cá de dentro, do meu coração.
um beijo
não, muitos! e imensos...rs
do silêncio guardião, põe-se palavras em revoada, a emoldurar segredos,
ResponderExcluira face real de um cristo redentor, eu me rendo aos versos,
abração
Gostei demais da poesia visual sobre asas, mas a ameaça de suicídio em 'confidencial' é um sorriso para o meu rosto. Suas palavras, sentindo-se sozinhas, nesse universo de pensamentos e imagens em que vivem? Ninguém entende a solidão humana, é verdade, agora você instaura um novo mistério: a solidão de palavras bem acompanhadas. O que falta a elas para enxergarem sua felicidade? O que falta a elas para enxergarem o bem que fazem aos outros?
ResponderExcluirClaro que eu também gostei do poema do canino silêncio. =)))) Se eu pudesse pegava todos esses pobres vira-latas e levava pra minha casa. Haja espaço pra tanto silêncio dentro de mim... =)
Belo como tudo o que você faz Marco.
Beijo sempre carinhoso querido!
O poema à Andrea é de uma delicadeza bonita que só, a gente se ascende ao ler. Conheci-a a pouco tempo e já estou encantada com sua poesia, assim como com as do seu blog, Marco.
ResponderExcluirA face real que acaba com os olhares sonhadores;
as palavras suicidas;
o silêncio que guarda-nos, poetas, artistas, durante toda a criação;
e sua tela que expressa tanto desse sentimento...
Vir aqui é tirar todo o fôlego e renová-lo.
Beijos.
É tão estranha, incoerente e até incomoda a sensação, mas, apesar de todo o desamparo, estamos, ou alguns de nós estão, grupo a que me encaixo, sempre, all the time "padecendo dessa originária solidão".
ResponderExcluircaro marcantónio, feliz aquele que cai em teus versos, porque encontra voz e maestria capazes de chegar ao mais agudo dos sons! a andrea é um caso particular na blogosfera: doce, sensível, e com uma poesia capaz de fazer subir o mais pesado dos versos. ela é a própria poesia!
ResponderExcluirum abraço para ti e um beijinho para ela!
Marco...
ResponderExcluirPela primeira vez aqui o que eu posso dizer sendo bem sincero é que teus poemas dizem muito. Gostei de todos. Especialmente o "confidencial."
Agora já sei que preciso organizar as prateleiras das centenas de poemas inacabados que tenho por aqui em diversos lugares reais e imaginários.
Ana,obrigado. Esse "Confidencial" é despretensioso, mas parece que funcionou.
ResponderExcluirBeijo.
Tânia, esse Melancolia 12 faz parte de uma série de 47 trabalhos. Quanto aos poemas, obrigado uma vez mais, querida.
ResponderExcluirAbraços.
Andrea, é uma forma de homenagear aquilo que você produz, insuspeitas dádivas ao leitor sensível. Além do que, você exerce de maneira muito humana e carinhosa essa coisa da interação entre os blogs. Tenho sorte de contar com o especial carinho e atenção de todos aqueles que frequentam este meu espaço.
ResponderExcluirBeijo.
ô Assis, agradeço a você por essas belas reverberações poéticas que você cria aqui.
ResponderExcluirAbração!
Kenia! Eu sei que você fala de maneira especial sobre o silêncio. Eu sou muito melhor ouvinte do que emissor de palavras. Mas as palavras padecem sim de solidão, detestam permanecer sozinhas; basta pensar em uma que ela logo começa a arranjar uma forma de chamar outra. Rs.
ResponderExcluirBeijo, querida.
Lara, olhe, muito obrigado! Fiquei comovido com o seu comentário. E achei perfeito o que você falou sobre a relação entre silêncio e criação.
ResponderExcluirUm beijo, querida.
Bípede, acho que você mencionou a essência da analogia que eu tinha em mente. Palavras como os seres que as emitem, são unidades isoladas de sentido. Nossas tentativas de comungar existências são parciais e relativas. A existência é uma forma de ser-para-si que se reforça estranhamente ao tentar ser para o outro, tal como ocorre com as palavras no discurso, esse evento social no qual elas se reúnem para depois voltar à solidão do sentido unitário.
ResponderExcluirAbraço.
Jorge, rapaz, obrigado mais uma vez. E, claro, concordo plenamente a respeito da Andrea.
ResponderExcluirGrande abraço!
Daniel, seja bem-vindo! E muito obrigado por suas palavras.
ResponderExcluirUm abraço.
Marcantonio
ResponderExcluirQuatro Novos Poemas para os quais tiro o chapéu!
Você tem o dom: basta que olhe na direção das belas palavras que tem , em estoque, e elas, hipnotizadas, colocam-se cada uma em seu lugar mais adequado, mais exato, e o resultado é o que vemos, sempre, aqui.
A Andrea não poderia ser mais lindamente homenageada...
Parabéns aos dois!
Abraços
Zélia, obrigado, querida. Os seus comentários são sempre generosos e estimulantes.
ResponderExcluirUm grande abraço!
O vôo e as asas, a revoada - homenagem justíssima à lindeza da Andrea!
ResponderExcluirE o som desse silêncio, que depois que ouvi, andou me rondando também? Talvez o convide pra entrar.
Lindíssimos os quatro, Marcantonio. Por aqui, cada vez melhor.
beijoca
Marcantonio,
ResponderExcluirDesconhecia o blog, mas ao percorrer o último escrito, não pude deixar de ver o presente que deixou a ela. A escrita de Andrea é inversa pois ela é poetisa, e poetisa que caminha de ponta cabeça. Seus versos despencaram para cima; inversos caminham de ponta-cabeça,
Parabéns à estas costuras de palavras bonitas,
Oi Sylvia! Que bom que você gostou. Quanto ao silêncio deixe-o entrar; após tratar dele, você pode levá-lo pra passear de vez em quando, preso a uma coleira; vão dizer: "Tão quietinho, que olhar doce, uma graça!" Mas, cuidado! Ele pode sair correndo atrás dos carros.
ResponderExcluirRs.
Obrigado, querida.
Um beijo.
Ô Pâmela, seja bem-vinda aqui! E obrigado por suas palavras que ratificam a minha modesta, mas sincera homenagem.
ResponderExcluirUm abraço.
sobre o primeiro:
ResponderExcluir"e tão ansiosamente"
consigo sentir. que sacada!
sem concretismos: é como a idéia da AsA que abre e fecha sobre um eixo (o corpo, ou as costas), já está lá, na palavra: dois A, articulados sobre um mesmo eixo S.
expliquei confuso. mas deu pra entender?
Bela homenagem à Andrea, Marcantonio.
ResponderExcluirUm prazer ler seus poemas. Encantou-me, especialmente, "Confidencial".
Voltarei, com mais tempo, para ler mais da sua poesia.
Bjs e inté!
Ju, é um prazer vê-la aqui. Obrigado por suas palavras, e volte sim!
ResponderExcluirBeijo.
Mariana, desculpe; na correria esqueci de responder ao seu comentário. Não, não explicou confuso, deu para entender muito bem.
ResponderExcluirObrigado pela visita!
Abraço.