sábado, 12 de junho de 2010
Seis Poemas
ENTRE SÍTIOS (1)
(Para Roberto Lima, e seu Primeira Pessoa)
Na casa clara, sem reposteiros,
Há um cadiquim de sombra de saudade,
Veladura diluída em terebentina
Que logo se evapora.
Ri-se a valer lá dentro da casa clara.
Mas, das muitas janelas
Os olhos vão ao largo,
Ou escalam galhos de céu,
Ou pendem para a terra
Das raízes clânicas de óxidos emigrados.
Na casa clara,
Poemas móbiles
Transcontinentais
Brotam do teto expansivo
Enquanto uma música toca sem parar,
Jardim em vasos flutuantes
De cores crônicas.
Na porta não há crivo algum,
Mas um polegar levantado:
Entra-se livremente
Na casa clara.
Rara.
DIACRONIA
Eu li a palavra LIBERDADE.
Pensei em flexibilidade
De juncos presos na margem
(Não pensaria em asas,
Já cansadas e recolhidas
enquanto metáfora).
Eu li a palavra EU.
Pensei em alteridade
Mas a ilustrei com um narciso
Aprisionado no espelho
De uma lágrima.
Eu li a palavra SOL.
Imaginei poros,
Ilustrei com raízes douradas.
Eu li a palavra AMOR.
Aí sim me ocorreu pensar
Em asas.
Eu li a palavra MORTE.
E pensei em desjejum,
Um café da manhã típico de hotel.
Que curioso!
Por que será?
Por que será?
GERÚNDIO
(Para o meu amigo Wellington Trotta.)
De bom grado serei
O grande ausente
Das festas do futuro
Se me atrasar ou me perder
Procurando o presente ideal.
POR HÁBITO
Escrevo versos
Com lápis de grafite.
Hábito de desenhista.
A palavra no papel
É só contorno.
Em torno, o ar
A perder de vista.
EVAPORAÇÃO
Agora éter...
Já evolou-se desse frasco.
Não ter.
AQUI OU LÁ?
Aipim
É nome breve
De fruta ligeira
E já sem casca.
Prefiro macaxeira,
Sono de flor soterrada,
Casca de sombra
E
Carne de alvorada.
Monotipia s/ título - Marcantonio
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Olá Marco! Seis jóias para os leitores, isso sim. Gostei de cada palavra de um jeito diferente - cada poema tem cores próprias e juntos mostram a bela pintura que é você.
ResponderExcluirBeijoca! =*
seis poemas, seis viagens, seis passeios em casa clara ou ocupada em vaga ocupação ou vadia radiação, em carvão e sal, em fruta de raiz, em carne de alvorada,
ResponderExcluirabração
é mesmo assim este nosso roberto, marcantónio. casa clara, ideias lúcidas, portas franqueadas para o rio que corre para o mar. nas varandas, sardinheiras agitam-se no fervor de alvoradas onde o sol despede poemas como quem beija. e nas veias, a poesia, a palavra, a sensação, o afecto, o amigo. está lá tudo, nessa casa clara.
ResponderExcluirum abraço, marcantónio!
ô, marcantônio...
ResponderExcluire, na sua mão, este buquê.
ganhar um poema equivale a ganhar um filho de alguém para apadrinhar.
confesso: nesta vida, ganhei mais afilhados que poemas.
rapaz, emocionei-me.
abraço agradecido do
roberto.
ps: seu poema ficou tão bom que fiquei com vontade de re-conhecer o Primeira Pessoa...rs
poeta sim.
ResponderExcluirbjs.
Casa clara e rara muito bem pintada em versos aqui. Entra-se livremente e sai-se contente, contente: salve Roberto, homenagem à altura do anfitrião!
ResponderExcluirMArquinho, Diacronia: muito belo! E o desjejum e a morte? Curioso, si, por que, mesmo será? Vou pensar...
Abraços,
Tânia
Marcantônio,
ResponderExcluirRara sensibilidade. Clara, mais que claras, homenagem: homenagens...
Abraço e polegar levantado,
Pedro Ramúcio.
Gosto muito das palavras pintadas, desenhadas por ti. Belo post!
ResponderExcluirBeijos.
Oi Kenia. Obrigado. Pintura? Eu? Action Painting. Rs. Uma restauração aqui e ali não seria mau não.
ResponderExcluirBeijão Kenia!
Ô Assis, obrigado.
ResponderExcluirAbração!
Jorge, é verdade, muito bem dito! E, veja, vale lembrar dos que frequentam regularmente e desfrutam dos ares daquela casa. Gente boa. Tenho sorte de contar com a presença de alguns deles aqui também, como você, por exemplo!
ResponderExcluirGrande abraço!
Ô Roberto, você vai me agradecer pelo que, em si, já é um agradecimento? Rs. Olhe, essas poucas linhas são bem menores do que o meu prazer de lê-lo e de poder fazer parte, do meu modo, daquela comunidade virtuosa-virtual(não só)que você criou em torno e além do seu blog. Forma de agradecer também pelos ensinamentos sobre o melhor trato humano. O seu Primeira Pessoa é do plural.
ResponderExcluirVontade de reconhecer o Primeira Pessoa? Rs. É só entrar lá com olhos de visitante que você vai ver como é bom! Rs.
Abração!
Olá Luiza. Poeta sim? Não! Sim! Não! Sim! Ô tentação de dizer ao povo que fico poeta!Rs.
ResponderExcluirObrigado, Luiza.
Beijo.
Ô Pedro, vindas de você essas palavras são como um salvo-conduto. Rapaz, obrigado!
ResponderExcluirAbração.
Tânia, que bom ver você aqui! Quem faz a homenagem, se é sincero, nunca acha que ela está à altura. É uma tentativa.
ResponderExcluirQue bom que você destacou o Diacronia. Tenho apreço por ele. Sei explicá-lo em parte, mas o final é sempre inexplicável, como palavra, como imagem, como ilustração. Capuz e foice? Nada disso! Ponho o inexplicável, então, em imagem desvinculada, sol, manhã, fome. Um desvio para a luz. O desjejum todos os dias. Depois, sei lá!
Um abraço, querida.
Não me deixe aqui sem os seus comentários luminosos.
Lara, obrigado. Palavras pintadas, desenhos cantados, quadros escritos e descritos, ou proscritos. Tudo dizer-impossível. Mas insisto.
ResponderExcluirBeijo.
Marcão!
ResponderExcluirMaravilha de homenagem ao Roberto! um grande amigo!
Quanto as outros... tem qualquer coisa de prana, ki, fluido cósmico universal ou cheiro de lasanha.
(Quanto ao versos de cor, já tinha avisado de antemão.rs! tá r(u)indo...)
Abraço meu caro!
Marcantoni: Vivendo e aprendendo! E, sim! você é um excelente Poeta, meu, nosso...('Eu, tu, ele, nó vós eles')um lindo poeta! Li, reli e ainda lendo. Suas palavras pintadas lindamente cantadas, escritas e descritas....Obrigada pelo aprendizado! É bom visitar sua casa!
ResponderExcluirCom amor e carinho,
Sílvia
Fiz uma nova postagem lá no meu Blog. Estava abandonadinho, pois só postava no Mínimo Ajuste. Agora decidi e mimei o meu um bocadinho!
http://silminhacolchaderetalhos.blogspot.com/
Marco, que coisa linda essa tua homenagem ao Roberto! Poemas móbiles em teto expansivo, vejo-o bem assim, essa primeira pessoa da casa clara e rara.
ResponderExcluirgostei muito dos poemas,cada um passeando por um sítio diferente.
gostei sobremaneira de diacronia, fiquei aqui a mastigar os versos...liberdade sem asas... narciso preso a uma lágrima, espelho de poço, tão mais profundo...
o amor com asas, fiquei pensando, é melhor do que asas de liberdade, porque me representa imensidão (depois pensei,será que bateu asas e voou? pode ser...rs)
não sei porque a morte te trouxe desjejum, mas penso porque fez sentido para mim. Mas isso fica pra depois...(agora um cansaço extremo me toma, e uma fragilidade estrangeira torna meus cílios mais pesados do que os galhos das árvores que se dobram ao vento frio do outono...e, por este momento, vou render-me)
um beijo pra ti
p.s: passou-me pela cabeça que monotipias s/ título combina com meu roupão sem uso. olho para a pintura e penso que posso cair dentro dela...espiral branca sem fundo...eu gostei dela. e dessa sensação que me dá
outro beijo
Fouad, você tem razão, o poema para o Roberto é bom, até pelo tema. O Diacronia passa bem. Mas os outros são café-com-leite. Tô ficando auto-indulgente. Mas não têm metafísica não. Tô procurando a forma pra vestir a minha incredulidade. Mas o seu cardápio indo-italiano ficou muito bom, a lasanha como entrada.Rs.
ResponderExcluirPô, quanto ao Versos de Cor, você é o autor, mas me parece que r(u)indo ou não, ele faz ruído. E é um espaço extremamente original e inconfundível. Esse negócio de blog deveria ser tudo experimental mesmo. Principalmente os de poesia.
Valeu!
Abração!
rapaz, gostei do seu espaço.
ResponderExcluirtens umas composições aki bem legais
o uso da palavra e tal...
bem criativo.
gostei.
Sílvia, as suas postagens no Mínimo Ajuste têm a sua marca. Toda aquela sensibilidade, carinho e esmero. E obrigado pela atenção que você me dedica. Passarei, sim, pelo seu Colcha de Retalhos.
ResponderExcluirUm abraço carinhoso.
Quero saber quando é que o seu livro vai ser publicado porque quero um autografado :)
ResponderExcluirAndrea, obrigado. Fiquei aqui pensando nessa coisa da monotipia. É sempre assim: primeiro a gente faz, depois tenta justificar, afinal o fazer é um processo de transformação. Pensei agora em dar um sentido a essa imagem. Não havia pensado na espiral, sobre ela formas geométricas. Enfim, as formas surgem da indistinção, flutuam momentaneamente sobre ela e, perdendo impulso, a ela retornam. Elas se diferenciam pelo impulso. Algumas permanecem em órbita por mais tempo. Você que provocou. Rs.
ResponderExcluirBeijo, querida.
Ô ryan, rapaz, visitei o seu blog. Gostei bastante. Nem sei como defini-lo. Escatologia-crítica? Existencialismo visceral? Definições não importam, são todas uma merda! Rs. Engraçado que o meu filho tava vendo aqui comigo (ele tem 19 anos!)gostou; e de repente quando eu tava comentando... "Pai, um instante só que preciso ir ao banheiro!" Cara, que é isso? Sincronicidade. Rs. Passo lá mais vezes. Claro!
ResponderExcluirAbração.
Bípide, ouvi dizer que há uma abaixo-assinado por aí.Rs. Humm, piadinha ruim. Vamos ver, isso dá um trabalho! Mas é claro que eu avisarei a você, se isso ocorrer.
ResponderExcluirAbraço.
Bípede, estou na fila do livro, cheguei 5 horas da manhã, peguei senha nº1 rsrs ...e, chega cá, vamos esperar esse livro, que ele já tá pronto, é ou não é, Marcantonio?
ResponderExcluirAbraços,
Tânia
Tá nada, Tânia. Mesmo que tivesse, não é o editar que é mais difícil?Rs.
ResponderExcluirAbraços.
Bem que minha mãe dizia que deus ajuda quem cedo madruga.
ResponderExcluirMarco, eu adoro provocações produtivas..rs
ResponderExcluirhoje estava lendo algo que me fez lembrar de ti:
"A arte não é um fazer-se-compreensível, mas um urgente compreender-se-a-si-mesmo. Quanto mais perto você chega a sua mais interior, mais solitária contemplação ou imaginação (visão), mais coisas foram alcançadas, ainda que ninguém as entenda." (R. M. Rilke)
voltando a monotipia, sim, as formas geométricas oriundas da espiral, flutuam sobre ela, como uma escada por onde ascende quem vem de suas entranhas, mas ambos não escapam a sina de ser novamente sugados por ela, num ciclo de (re)criação.
um beijo
Tava lendo a Tânia e estou aqui pensando se esse negócio do livro anda no mesmo pé do tal "serei poeta?" ...dessas esquisitices tuas de resistir em revelar, ou enxergar (o que todo mundo vê)..rs
ResponderExcluiroutro beijo pra ti
Sem dúvida, talento (acho que já dise isso, mas vale repetir).
ResponderExcluirBípede, rs!
ResponderExcluirAbraço.
Andrea, Rilke? Poeta que entendia de todas as formas de arte! Isso que ele diz é ABSOLUTAMENTE um princípio que eu adoto há anos, até involuntariamente, de forma que é ele que me adota. Eu o adapto para um "arte é antes um conhecer-se a si próprio do que um fazer-se conhecido para os outros". Se se atinge esse segundo ponto, é como consequência, não como finalidade.
ResponderExcluirPoxa, agora a questão da monotipia ficou belamente posta por você.
Beijo.
É, Andrea, parece que sim. É o tal do pior cego, aquele que não quer ver. Rs. Que nada! Eu quero ver sim, quando essa transparência ganhar concretude.
ResponderExcluirBeijo.
Gerana, sou sensível a esse eco. Obrigado, mesmo.
ResponderExcluirUm abraço.
vocês falando de rilke e eu aqui... de wilker...
ResponderExcluirzé wilker...rs
ô,
to precisando ler mais e ver menos novela.
beijão procêis tudo.
r.
ps: quando to com insonia fico assim... viro um zumbi. e sem assunto, que só...