Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Mais Três Poemas



FALAR OU CALAR

O que o poeta fala
é um prato só
que se divide
entre muitas fomes.

O que o poeta cala
é a sede vasta
que  desidrata,
é o pão do avesso
que ele próprio come.


LOCALIZAÇÃO

O poema pode estar
próximo ao chão,
planta enviesada
que o vento não inclina
nem a luz inflama.

Ou pode estar trepado
no topo de um arranha-céu,
qual King-Kong imortal,
como um macaco amoral
a fazer caretas
para a hipocrisia humana.


ADÁGIO

Um poema
que, sendo transe,
é também hábito,

Salvaguardado
o lema
de que o hábito sozinho
não faz o poema.

14 comentários:

  1. O que o poeta fala é um pranto desidratado, nada cala na falta. Adágio: na sinfonia é o terceiro movimento. Abraço

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  2. Falar ou calar...

    Fiquei pensando aqui nesse "impossível", que chega às pontas dos dedos, da caneta...transforma-se em versos (tantas vezes lindos, profundos, transformadores, arrebatadores para quem os lê...e que é, para o poeta, muitas vezes (os versos) a ponta de um iceberg enorme, que jaz oculto, internalizado, silencioso, intraduzível. Penso de repente: o melhor e maior que podemos oferecer ao aoutro pode ser a nossa metade apenas. Mas uma metade que fica inteira quando se torna um poema.

    "Vasta sede que desidrata". Aqui pensando...

    Abraços,
    Tânia

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  3. Grande Marcantonio! três poemas diversificados que demosntram sua habilidade de poetar sobre seu mundo! Muito talentoso!

    Meu aplauso!

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  4. Marcantonio

    O dia nem amanheceu e eu aqui, em reflexão, com seus três lindos poemas...
    Você tem o seu abracadabra: faz magia com palavras.
    Parabéns!

    Um grande abraço

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  5. Assis! Rapaz, esse "pranto desidratado" é muito bom.

    Abraços.

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  6. Tânia, você definiu muito bem. Pelo menos eu também gosto de pensar assim. Uma metade, senão uma parte, que se torna inteira e autônoma. Aliás, é toda a questão do poema TRADUZIR-SE que você colocou no seu perfil, não é? Será arte?

    Abraço.

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  7. Ô Pablo, muito obrigado, mesmo.

    Abração.

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  8. Um poeta paira, imerso ou não, entre as raízes da terra que arde ou no sopro sensível da vida que concebe a plenitude do voo...

    Abraço!

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  9. Zélia, o que me tranquiliza é que essa magia não tem contra-indicações. Faço-me, então, aprendiz de feiticeiro só em ensaios benignos.

    Obrigado Zélia.

    Abraço.

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  10. Mai, que bom vê-la aqui novamente!

    Acho que são os seus olhos, ou deve ter sido sorte minha.

    Um abraço carinhoso,Mai.

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  11. Cristiano, obrigado pelo poético comentário. Eu pairo, meio aluado, na tentativa de criar algumas raízes poéticas. Frágeis raízes.

    Abração.

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  12. Meus parabéns, amigo.
    Tu tens realmente aquela veia poética que hoje falta à muitos por esta blogosfera imensa.
    Parabéns pela habilidade e o jogo de palavras. Dão todo um ritmo à vossos versos.
    Como já por aqui disseram: perfeita trilogia!
    Mas confesso que o meu preferido foi o "Adágio".

    "...Salvaguardado
    o lema
    de que o hábito sozinho
    não faz o poema."

    Ótima postagem.
    Até mais ver.

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  13. João, obrigado uma vez mais. Rapaz, mas tem muita coisa boa por aí. Muita veia poética aberta.

    Abraço.

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