Como ter a disponibilidade criativa e lúdica de um anônimo construtor de castelos de cartas que se submete apenas às injunções do próprio medo (sagrado medo!) de que eles desabem diante dos seus próprios olhos?

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Três Poemas de Junho

DESPERTAR

(Para Assis Freitas)

Bandos de palavras canoras
carregam auroras
para a minha janela.
Mesmo na alternância
das horas
não as despeço,
E me desperto nelas.



CERTEZA

Já não sei o que,
Não será tal e qual,
Nem saberei como.
Pressentido,
Mas encoberto.
Quê? Qual?Como?
Com certeza
Será incerto!



ARQUEÓLOGO

Desprendidas da procissão
As palavras transmigram de objetos
E lhes comprimem a carne como ventosas,
Tanto que uma rosa não é mais uma rosa
Que não é mais uma rosa,
Mas uma coroa de conchas espetadas,
Vermelhas e aveludadas .

No meu espírito, agora
Há outros vales dos reis
De um diverso Egito:
Adormeço e acordo
Com olhos aflitos:
Caracóis com fôlego de guepardos.

Depois dos quarenta anos
Tornei-me em arqueólogo
De adormecidas perplexidades
E esquecidos fardos.






















     Fazer   Quarenta - Téc. Mista - Marcantonio.

Outras imagens minhas em : Cadernos de Arte

17 comentários:

  1. Bonita sua procissão de versos.

    Ah, e merecida homenagem ao Assis, poeta que tbm admiro muito.

    Beijos.

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  2. Oi Lara, eu fico pensando o porquê de apesar de ter ido ao seu Teatro da Vida, nunca ter deixado lá um comentário. Não foi falta de vontade de aplaudir. Talvez coisa de pudor e respeito só atribuível a esta minha cabeça meio esquisita. Vá se entender! Ainda bem que você me dá agora a oportunidade de transgredir esse pudor inexplicável.

    Obrigado pela visita e pelo comentário. Ah, só não admira o Assis quem não gosta de boa poesia. Temos esse privilégio de desfrutar do Mil e um Poemas.

    Beijo.

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  3. oi marcantonio, que coisa mais boa eu cair aqui na tua página, quer dizer, nas duas, seu cadernos de arte é demais, cara, demais. e os poemas idem.

    volto sim, viu.
    beijos.

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  4. Marquino, belo e belo o Fazer Quarentena; também justíssima homenagem ao Assis, essa figura que exala versos de uma belela contida mas sempre exuberante. E o Aequólogo, que aqui escolho nessa coroa de conchas espetadas, vermelhas aveludadas: trnasfigurações poéticas em cuja essência me reconheço inteira: parabéns e parabéns, sempre, pelo seu talento.

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  5. Nessas ramificaçoes da internet onde encontra-se um "blog" no "blog" do amigo do amigo do amigo, achei essa preciosidade.
    Um pessimista esperançoso.

    Um desfile de belíssimos poemas, cada um mais significativo que o outro.

    Abç
    Rossana

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  6. Versos impecáveis e digníssima homenagem para Assis; um escritor que eu também sou fã!

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  7. o 'despertar' é fantástico, adorei!

    parabéns! :D

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  8. Nina, é muito bom ver você aqui. Agradeço pela dupla visita e pelo comentário alentador.

    Claro! Volte sim!

    Beijo.

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  9. Tânia, obrigado sempre, sempre! Eu já fico aguardando essas reverberações generosas que você cria aqui.

    Um grande abraço.

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  10. Rossana, isso que você falou sobre as ramificações é perfeito. Eu, desajeitado, às vezes me perco nelas, tanta coisa boa há por aí para as quais, apressado, esqueço de refazer o caminho!
    Obrigado por suas palavras.

    Um abraço.

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  11. Oi Isabella. Sim, mas a poesia do Assis merece homenagens muito mais expressivas do que esse poemeto. Ela me impressiona.
    Obrigado, querida,

    Um abraço.

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  12. Aline, obrigado. É muito bom quando você deixa a sua impressão por aqui.

    Um abraço.

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  13. caraca, eu só consegui chegar hoje aqui (sexta-feira 23h17) e me deparo com essa deferência. fico sem palavras, elas me fogem quando eu mais preciso. elas não cantam com facilidade, mas mãos hábeis sabem cultivá-las, como as tuas mestre de cores e rimas. meu abraço e muito sincero agradecimento.

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  14. Ô Assis, assim quem fica sem jeito sou eu. Digamos que eu assim estou elogiando a minha própria percepção da sua poesia, tá bom? Rs. Importa é que as palavras continuem a encontrá-lo nos momentos em que engendra aquelas belas visões que você compartilha com a gente.

    Abração!

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  15. Marco, que maravilha!
    das palavras canoras que carregam auroras (que traduzem tanto as palavras do poeta assis), à certeza de que será incerto (única certeza possível a nós) até a coroa de conchas espetadas, vermelhas e aveludadas (linguagem poética das mais belas), confesso-te que foi minha alma que transmigrou para essas imagens, dancei através delas...
    depois fiquei pensando: então fazer quarenta é renascer com mais clareza e mais encanto?

    um beijo pra ti

    (eu fico aqui, com a coroa de conchas espetadas, vermelhas e aveludadas...)

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  16. Não sei, Andrea; renascimentos ocorrem, talvez esse aperceber-se que se vive, esse olhar perplexo para o que sempre esteve ali mas não se sabia. Estranho é que crises tenham hora marcada, como essa famosa, a dos quarenta. Não se pode defini-la, mas essa chegada ao ponto médio da linha da existência faz com que comecemos a medir virtualmente a distância entre as duas pontas. Renascer seria concluir que a vida não é uma corrida por meses e anos, mas um estacionamento no microcosmo de cada segundo.

    Um beijo.

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  17. Versos de ler e reler, sentir e sentir.
    Belíssimos os poemas e Assis é este tanto que versas. Grande abraço

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